Eu deveria ganhar um prêmio. Sério.
Quem viaja sozinho? Muitos, hoje em dia.
Quem viaja sozinho e na fossa? Alguns corajosos…talvez?
E quem viaja sozinho, na fossa e para passar o Natal – este feriado de comunhão, amor e comilanças felizes sem fim – em um lugar completamente desconhecido?
Euzinha aqui. Que entre o troféu, obrigada. *aplausos*
Quer dizer, completamente desconhecido não se aplicava a Nova York porque desde que me entendo por gente, saía da escola, passava na locadora e gastava minhas tardes assistindo filmes como “Ghost”, “Mensagem para Você” e “Outono em Nova York”.
Eu costumava dizer que conhecia a cidade na palma da mão, mesmo sem nunca ter pisado lá. Cada canto do Central Park, estação de metrô e ruas com fumaça saindo dos bueiros, estavam esquematizados na minha cabeça melhor do que no próprio Google Maps.
Eu queria sair de um prédio e com um copo de café na mão (aqueles longos com tampinha, claro), acenar apressadamente para um táxi e entrar como se eu estivesse mesmo atrasada para algum compromisso. Ou acordar num domingo e me arrumar para o brunch. Só pelo prazer de viver como uma local no lugar que eu sempre quis conhecer.
Mesmo em meio ao trânsito caos pré-Natal, em frente ao prédio dos correios, o cara sorri. Guarda feliz = eu feliz. 🙂
No ano anterior, na minha primeira viagem solo, havia conhecido meu namorado americano, nascido ali pertinho de Nova York. Amor vai, amor vem e o relacionamento ficou sério. Visto emitido, passagens compradas para conhecer a família, a expectativa de ver neve pela primeira vez e patinar no Rockfeller Center, com direito a árvore gigante do “Esqueceram de Mim”.
Parecia tudo perfeito, até que ele terminou comigo três meses antes da viagem. #toma
Tive que decidir entre a possível depressão de viajar sozinha nessas condições e a realização do meu sonho. Depois de muito choro e apesar do medo, vi que desistir estava fora de cogitação porque queria provar a mim mesma que conseguiria viajar sozinha, na merda e conquistar um outro nível de independência: o level hard de viajante solo.
Eu estava determinada a tirar o melhor dessa viagem e desde o primeiro dia, me esforçava para me manter feliz mas, inevitavelmente, no dia 24, a bad bateu. Véspera de Natal, todo mundo com seus amados no quentinho dos aquecedores e eu ali, sentada no High Line Park tendo a companhia apenas do vento – gelado e que cortava a minha cara.
Foi naquele momento que aconteceu a reviravolta. Como nos filmes que eu assistia, o turning point da vida da mocinha acabava de acontecer porque eu havida decidido…fazer uma tatuagem. #oi?
Sim, eu iria fazer uma tatuagem na véspera de Natal e ninguém iria me segurar.
Peguei o metrô, desci em uma das zonas de tatuagem e aleatoriamente escolhi um estúdio. Mentira, não foi aleatório, foi o que dizia na porta “PROMOÇÃO DE NATAL: 50 dólares SÓ HOJE!”.
Óbvio que contei toda a minha ladainha para o tatuador e saí de lá não só com uma tatuagem nova, mas com um “você é bem bonita por baixo desses casacos todos” como elogio e um convite para passar o Natal com ele e a família, que eu gentilmente recusei porque já iria passar a noite com judeus. #oi?²
Como judeus não celebram o Natal, eles criaram uma festa para solteiros que acontece simultaneamente em várias cidades dos Estados Unidos e Canadá. Com entrada em três boates, limousine servindo de shuttle e muita catchaça. #édissoqueopovogosta!
No pânico de passar a noite do dia 24 cantando “All by my-seeelf…don’t wanna beee”, antes de viajar pesquisei sobre festas de Natal em NY e acabei encontrando uma. Achei o evento no facebook, mandei mensagem para uma menina que tinha confirmado presença e à meia-noite estava lá com ela e os amigos, totalmente imune aos jingle bells.
E o tatuador? Esqueci meu passaporte no estúdio e quando voltei para buscar, a gente se adicionou e ele foi a minha companhia para a patinação no gelo e outros programas pela cidade até eu voltar para casa.
Sim, eu consegui. A minha viagem foi uma comédia romântica como eu tanto queria: alegria inicial>fossa>momento da virada>final feliz.
Minhas Dicas para Nova York!
Lugar perfeito para tomar o brunch e fazer a fina: The Loeb Boathouse
Fica em frente ao lago do Central Park onde tem a Bow Bridge e a Bethesda Fountain, entrada pela 5ª Avenida entre as Ruas 71 e 79.
Vá com algum match do seu Tinder para impressionar ou vá sozinho mesmo. Sinta-se chique, aprecie seus eggs benedict e leia um jornal num dos bancos do parque depois. Programa ideal para se sentir bem nova-iorquino em um domingo qualquer.
Além do prato principal, cesta com pães e bolinhos, pastinhas…eu estava me sen-tin-do!
Se preferir um brunch de vibe mais cool ou para curar a ressaca: DiWine
Eles tem um menu fixo que custa 15 dólares e música ao vivo, o que atrai muita gente jovem, bonita e animada. Como as mesas ficam próximas umas das outras, é fácil fazer amizades. Principalmente, depois de algumas mimosas.
O ponto fraco é que pode dar preguiça de ir até lá, dependendo de onde estiver hospedado. Fica no bairro de Astoria, na esquina da Avenida 31 com a Rua 42.
Quero uma tatuagem também: St. Mark’s Place
Desça na estação Astor Pl e vá andando em direção ao East Village pela Rua 8 até achar um estúdio que te agrade.
E a tal festa do Natal? The Ball
Saiba mais aqui.
E caso vá passar uma data importante sozinho e distante de casa, assista a esse filme antes: Noite de Ano Novo. Sobre alguns solteiros no último dia do ano na cidade que nunca dorme.