Um jeitinho brasileiro para ganhar 2 MILHÕES por ano
Você é pobre de marré? Pois é, amigo, eu também. Não tem sido fácil pra quase ninguém. Nesses tempos de vacas magras, onde catuaba é a única opção para a noite, fica difícil ficar de bom humor o tempo inteiro. Dramatismos a parte, gostaria de falar de uma casta que não está passando por esse problema no Brasil, e pra isso escrevi uma parábola, vamos lá:
Imagine que você, nesta situação financeira, ache perdida por aí uma lâmpada mágica. Esfrega, esfrega e… PUF! Um gênio aparece prometendo realizar 3 desejos. Já no primeiro, você fala de dinheiro:
– Quero ganhar R$ 33.700,00 por mês!
– Mas assim tá fácil… Ainda restam dois desejos…
Bom, já que tá moleza assim, você também pede um aluguel no bairro mais chique da cidade, por cerca de R$ 4.250,00 ao mês.
E para fechar, um cartão de crédito liberado pra viajar pelo Brasil toda semana, comendo fora e tendo o plano mais irado da operadora, com gasolina liberada, fretamento de avião na faixa e um tantinho a mais pra qualquer imprevisto. Saldo: R$ 33.000,00 por mês.
Calma que tem mais! A criatura mágica gostou da sua personalidade transante e resolveu realizar ainda mais desejos.
Você que não é bobo, pede R$ 78.000,00 mensais pra gerir seu próprio escritório, ressarcimento para qualquer coisa que o plano de saúde não cobrir e, pra não passar dificuldades, mais R$ 1.100,00 todo mês.
– Beleza, chefe!
Parece loucura, mas essa é a realidade dos deputados que a gente vota pra nos representar em Brasília. Se o salário desses homens de honra já é alto (e não quero colocar em questão o mérito), tais “ajudas de custo” ultrapassam o limite do razoável.
O dinheiro gasto com o salário + todas as verbas citadas acima redireciona quase R$ 2 milhões por ano pra cada um dos parlamentares no Congresso Nacional, número multiplicado por 513, que é o número de deputados, e 81, no caso dos senadores. Ou seja, R$ 985 milhões são gastos anualmente só pra financiar o trabalho dos legisladores.
É justo?
Na Suécia, o salário dos congressistas é decidido por um comitê independente, formado por um juiz aposentado e dois civis (gente que nem a gente). Apesar de os parlamentares de lá ganharem R$ 20,6 mil por mês, são descontados impostos que tornam a remuneração apenas 50% maior que a de um professor de ensino médio. É uma diferença salarial bastante justa para um país com igualdade e justiça social, segundo a jornalista Claudia Wallin, da BBC, autora do livro “Um país sem excelências e mordomias”.
Já aqui, o salário – de R$ 33,7 mil – dos deputados e senadores é votado por eles mesmos…
(pausa dramática)
…e há um reajuste a cada 4 anos, sendo que o último aconteceu no final de 2014. Os outros benefícios e seus respectivos aumentos são aprovados em forma de leis, de pouquinho em pouquinho, pra que o peso real do baque seja diluído (mas sentido mesmo assim). E tudo isso é aprovado com cara de paisagem pelos caras, pois não há como culpá-los individualmente já que esse tipo de votação é secreta.
É justo que dinheiro público seja reservado para custear o trabalho de deputados e senadores, assim como uma empresa arca o trabalho de seus funcionários (são R$ 78 mil mensais para verbas de gabinete). Na Suíça, por exemplo, os caras não recebem salário, mas são facilmente cooptados por bancos que escondem contas fraudulentas. Assim, os parlamentares votam de acordo com o interesse dos bancos, vide o recente escândalo do HSBC conhecido como Swissleaks.
Por isso, é preciso cautela para não generalizar e dizer que todos por aqui gastam o dinheiro indiscriminadamente. Mas o número excessivo de benefícios e gastos desenfreados indicam que, quem tem poder, tende a abusar da sua posição.
Em terra de cego, deputado é rei
Políticos sabem como dar uma boa manchete no jornal. Depois de a mídia divulgar em 2013 uma economia de R$ 27,4 milhões no Congresso, após o fim dos 14º e 15º salários (mais um benefício excessivo), os matutos aprovaram um aumento de R$ 23,4 milhões nos gastos com auxílio moradia e verba indenizatória. E isso apenas 3 semanas depois.
Entre 2006 e 2011, o aumento do salário dos deputados e senadores cresceu 61%, enquanto a inflação foi de apenas 20%.
Apesar de o último aumento no salário considerar a inflação acumulada, de 26%, a remuneração dos parlamentares brasileiros ainda é maior que a de países ricos na Europa: cerca de R$ 30 mil na Áustria, R$ 27 mil na Alemanha e R$ 26 mil na Inglaterra.
Agora em 2015, com o novo presidente da Câmara, aumentos nos gastos das verbas de gabinete, passagens e auxílio-moradia atingiram a cifra de R$ 150 milhões. E Eduardo Cunha ainda pretendia incluir esposas nos gastos públicos reservados aos parlamentares, mas voltou atrás por pressão popular.
Se é justo? Eu só reuni algumas informações. Se achamos que algo está errado, é nosso direito manifestar isso (me convide por favor). Mas importante mesmo é propor saídas claras para os problemas com base em informações, e não em histerias. Assim, evitamos que políticos surjam como super-heróis, com soluções que só beneficiam eles mesmos.
Fique de olho.