Maconha Prensada: Site divulga como funciona o processo de produção
Há algum tempo abordamos um assunto bastante polêmico, mas necessário: as substâncias bizarras que são misturadas às drogas vendidas nas ruas.
Descobrimos que a maior parte da maconha mais consumida no Brasil, que vem do Paraguai, pode ser um verdadeiro coquetel de substâncias tóxicas. A tal maconha prensada.
A Agência Pública, notório veículo especializado em jornalismo investigativo, foi além. Uma equipe da Agência passou 15 dias entre os plantadores de maconha no Paraguai para acompanhar todo o processo que envolve o plantio da erva, revelando os motivos da baixa qualidade.
Segundo a reportagem, o cultivo da cannabis feito pelos paraguaios não apresenta muitas preocupações. O erros acontecem mesmo na hora da colheita.
A erva tem duas fases de cultivo. A primeira é realizada na primavera e no verão e serve para o crescimento da planta. Já a segunda, feita no outono e inverno, é o período de floração, onde as plantas fêmeas produzem as flores (o que é popularmente chamado de maconha). Assim que florescem, os agricultores colhem as plantas e as colocam diretamente no solo, cobrindo-as com uma lona plástica.
Eram dias chuvosos quando a reportagem estava no local, mas a colheita foi feita mesmo assim, contrariando todas s normas de cultivo. Ou seja, em contato com a umidade do solo e sendo abafada com a lona plástica, criou-se o ambiente perfeito para a proliferação de fungos e bactérias.
Após dias secando nesse ambiente, as flores são separadas dos galhos e das folhas. Vale ressaltar que não há uma divisão entre erva boa da erva mofada, separa-se apenas a flor das outras partes.
É na flor que está o grande interesse dos agricultores, apesar das folhas menores conterem uma grande quantidade de resina (o haxixe). Para a nossa surpresa, essa substância é totalmente desperdiçada, com exceção de alguns agricultores, que após ficarem com as mãos muito sujas de resina, as esfregam transformando a substância em pequenas bolinhas, que são vendidas na cidade para conseguir algum trocado extra.
Um detalhe curioso é o fato da folha da maconha, aquela que vemos em estampas de camisetas e bonés, não ser útil para o fumo. Ou seja, o símbolo da maconha não é “fumável”.
Após as flores serem todas separadas e colocadas em sacos de 30 quilos, são levadas para uma tendinha escondida, no meio do mato, para finalmente serem prensadas.
Como observado pela reportagem, nesse ambiente existe um pensamento de que a maconha só vira maconha depois que for prensada. Nesse caminho todo, por todos os lados se vê uma grande quantidade de maconha pelo chão. Erva boa, erva estragada, tudo misturado e tratado feito lixo.
As prensas são montadas em um lugar ainda mais afastado, geralmente uma clareira recém aberta, e possuem a capacidade de até 50 toneladas de pressão. Para a “linha de produção”, os sacos de maconha são abertos sobre uma lona, ficando disponíveis para centenas de insetos, que provavelmente vão parar dentro do fumo.
Segundo o médico Dr. João Menezes, entrevistado pela Agência Pública, a vantagem de se lavar o prensado, hábito que muitas pessoas já possuem, é justamente retirar essas impurezas, como insetos, fezes e urina desses animais, bactérias e fungos.
A erva então é colocada dentro de uma caixa de metal, com capacidade de 5 quilos. Para nivelar o produto, os trabalhadores usam botas (sujas de lama) e cobrem a “porção” com um plástico, tão sujo quanto a sola da bota, um pedaço de madeira e finalmente a prensa, que funciona como um macaco hidráulico invertido.
Após prensarem essa primeira porção, eles repetem a operação. Colocam mais maconha, o plástico, a madeira e prensam. O processo se repete até a caixa de metal ficar completamente cheia.
Tudo prensado, os blocos vão para outra etapa, onde serão finalmente cortados em tabletes de 1 quilo. São montadas caixas de 24 quilos de maconha prensada, que uma picape passa para retirar.
Segundo o jornalista que acompanhou a jornada, enquanto terminava de carregar a picape com a mercadoria, um dos trabalhados ainda soltou em um péssimo português: “partiu, Rio!”.
Por que é tão ruim?
De acordo com a análise da reportagem, o ato de prensar não é o que torna a maconha tão ruim. A má qualidade do produto é devido a uma junção de vários outros fatores, como a colheita feita na hora errada, a secagem malfeita que cria fungos e proliferam bactérias, a resina desperdiçada e o total descaso em manipular a erva.
Além disso, é comum alguns lotes dessa maconha, por questões de logística e segurança, serem enterrados em campos afastados da plantação. Eles podem passar até um ano nessas condições, absorvendo toda a umidade do solo.
Apesar de tudo, existe uma boa notícia boa – se é que podemos chamar assim. O repórter não viu muitas possibilidades da lenda de urinarem na erva ser verdadeira (como já havíamos publicado na reportagem sobre a qualidade das drogas de rua).
Além do ambiente não ser muito propício para isso, o mau odor semelhante ao xixi, se deve ao processo natural de fermentação da planta, que fica fermentando, enchendo-se de fungos, bactérias que exalam o cheiro forte.
Ao lado da plantação, havia uma outra muito mais bonita e organizada. Ao ser questionado pela reportagem, um dos trabalhadores revelou que, além de serem sementes especiais, lá seguiam as normas corretas de plantação e cultivo. As ervas ficam secando em um varal e não no chão com uma lona por cima.
Essa maconha bem cuidada, com genética melhorada, é a conhecida como “dois pra um” e tem um destino certo. Florianópolis. Segundo o agricultor, Floripa é o mercado mais exigente do Brasil, diferente de São Paulo e Rio que, nas palavras dele, “compram qualquer coisa”.
Segundo o Dr. Pedro da Costa Mello Neto, médico acupunturista com pós-graduação em dor, pesquisador no campo da neurociência e prescritor de cannabis legalmente há mais de três anos, a solução para proteger o consumidor desses males seria a legalização da erva, como já aconteceu em vários países.
Segundo o especialista, com a legalização poderia-se ter um controle da qualidade do que está sendo vendido aos usuários.
“Quando se usa a maconha prensada se está usando um produto que não tem controle de qualidade, e essa perda do controle da qualidade se dá justamente por conta do proibicionismo. O tráfico não escolhe a quem ele vai vender, a forma e o que ele vai vender. E com isso vai ter pessoas usando maconha adulterada, com mofo, amônia, pedaços de insetos e qualquer outra substância a qual ela foi exposta”, explica o especialista.