Bloquearam várias páginas de direita: Afinal, o Facebook é de esquerda?
As redes sociais transformaram a forma do ser humano se comunicar. O Facebook é a mais popular entre elas, só no Brasil a rede atingiu a marca de 127 milhões de usuários ativos em 2018, ou seja, mais de 60% da população brasileira.
Pelos números já dá para imaginar a influência da rede de Mark Zuckerberg no país, ainda mais em ano eleitoral acalorado pela polarização dos discursos dos partidos políticos e o racha entre “Direita” e “Esquerda”. Isso sem contar seu outro produto, o Whatsapp.
Seja no grupo da família, no ônibus ou na fila de espera do banco os burburinhos sobre o racha entre conservadores e progressistas estão rolando desde muito antes das eleições. Até as reuniões de família que já são insuportáveis conseguiram ser piores no últimos meses.
Eleições 2014 vs. 2018
Nas eleições anteriores a briga era entre petistas e tucanos, calhando em um impeachment extremamente polêmico dois anos depois. Sabe-se lá o que pode acontecer com o novo morador do Palácio da Alvorada a partir de 1 de janeiro de 2019.
Com o escândalo de propagação ilegal de informação falsas camufladas como notícias, manchetes e vídeos, diversas teorias da conspiração permeiam pela timeline do Facebook com textões argumentativos sobre os possíveis novos moradores de Brasília – no Whatsapp a coisa só piora.
Até lá, a treta entre os cidadãos de bem e e a turma do #EleNão continua. Mas afinal, o que o Facebook tem a ver com isso?
1. Karl Marx aprovaria a rede social de Zuckerberg?
Dizem por aí que, com o bloqueio de páginas da extrema-direita, o Facebook tende à esquerda, sob o discurso de teorias da conspiração e censura ao conteúdo considerado “conservador” e “tradicional”.
A sede do Facebook fica no Vale do Silício, um lugar conhecido por terem profissionais da tecnologia com grande tendência progressista para política e ultra-liberais para a economia, bem diferente do espectro protecionista da esquerda convencional.
Quando o bilionário foi convocado ao Senado americano para depor em abril deste ano sobre o vazamento de dados pessoais de 87 milhões de pessoas, ficou mais evidente o fato. Ele foi questionado por senadores estadunidenses, principalmente, sobre quais informações dos usuários a empresa havia concedido à terceiros. (falamos sobre isso aqui).
Acontece que Karl Marx e Friedrich Engels – os pais do Manifesto Comunista, mais conhecido como a bíblia da esquerda – se remoeriam no caixão toda vez que alguém dissesse que a classe trabalhadora ganhou uma rede social que tem como modelo de negócios a venda de dados pessoais à empresas privadas.
Ou seja, o Facebook jamais seria de esquerda.
2. Fake News é de direita ou esquerda? E o que o Facebook tem a ver com isso?
A rede social de Mark Zuckerberg anda censurando centenas de páginas que comprovadamente publicaram notícias falsas. A plataforma tem banido conteúdos no mundo inteiro, ainda mais no Brasil em ano de eleição.
No mês de Julho, por exemplo, a rede social informou a exclusão de 196 páginas e 87 contas brasileiras que produziam fake news, ligadas ao grupo de direita, MBL (Movimento Brasil Livre). Entre elas, a do Movimento Brasil 200, do CEO da Riachuelo e ex-candidato a presidência, Flávio Rocha.
[espacamento-de-seguranca]
NOTA OFICIAL pic.twitter.com/hEtPkuTH4D
— Movimento Brasil 200 (@MovBrasil_200) 25 de julho de 2018
A postura permissiva aos conteúdos ofensivos e falsos sob o discurso “somos contrários à censura” que a empresa tinha até então, trouxe inúmeros problemas. Entre eles, a bolha das redes sociais e as métricas.
As métricas giram em torno do dinheiro: quanto mais engajamento, melhor. E não importa o conteúdo. Essas fanpages movimentam muita grana com seus compartilhamentos, taxa de cliques e alcances pagos.
Mas, de acordo com o Ibope, apesar dos brasileiros passarem em média 5 horas por dia à frente do computador, os jornais impressos ainda teriam mais credibilidade; 71% dos entrevistados disserem confiar pouco ou nada em notícias veiculadas nas redes sociais.
O problema é que o Brasil ainda é o local em que o Facebook tem maior popularidade como fonte de notícias. Segundo uma pesquisa global do Instituto Reuters, 66% dos brasileiros se informam pela rede social; sendo que 46% dos entrevistados disseram consumir notícias pelo aplicativo de conversa, Whatsapp.
Já de acordo com uma pesquisa recente do Datafolha, nessas eleições os usuários consumiram informação principalmente pelo Whatsapp: 61% dos eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) se informaram pelo pelo aplicativo, os eleitores de Fernando Haddad (PT) o número cai para 38%.
Facebook só tomou uma postura mais incisiva, de bloquear as páginas que compartilhavam notícias falsas, depois da polêmica eleição estadunidense que botou a segurança da empresa em cheque; Donald Trump venceu Hillary Clinton com ajuda da feroz máquina de Fake News, Cambridge Analytica (falamos sobre isso aqui).
Portanto, Zuckerberg não segue uma orientação política, e sim, uma orientação legal (jurídica). Para garantir a integridade da corporação (lê-se lucro), qualquer perfil ou página que divulgue notícias falsas pode ser bloqueada a qualquer momento, seja de esquerda ou direita.
3. Facebook manipula os conteúdos?
Sim e não é pouco. Quando alguém dizer algo sobre: “mas no meu Facebook todo mundo vota no candidato X, logo, ele vai ganhar”. Primeiro passo: desconfie e pense sobre a finalidade da rede social.
As métricas do Facebook, como de todas as redes sociais existentes na internet, incluindo o Youtube e Instagram, são baseados nos conteúdos que o usuário mais acessa, ou seja, quanto mais pesquisar sobre um político, mais ele (ou sua ideologia) aparecerá na sua timeline.
A sensação de que aquela é uma verdade geral pode parecer absoluta e verdadeira, mas é só mais uma forma das redes ganharem cada vez mais dinheiro. A partir das suas afinidades, define exatamente sobre quem você é e seus interesses, inclusive políticos.
Assim, fica mais fácil direcionar uma campanha específica para aparecer na timeline e converter em engajamento e vendas. Atualmente, em votos. E assim mantém o mecanismo de uma única opinião, resultando na polarização dos extremos (falamos tudo sobre isso aqui).
Antes de esbravejar porque sua página favorita foi bloqueada ou porque o grupo que divulgava memes foi desabilitado, reflita com calma. Vivemos um momento delicado e caótico de transição, as possibilidades que a internet proporciona ainda estão sendo exploradas. Qualquer pessoa ou grupo mal intensionado pode se aproveitar disso. Não se deixe manipular.
Consuma informações com calma, sempre cheque se a mesma é verdadeira (ensinamos como fazer isso aqui). Não acredite apenas em uma manchete bombástica difundida no grupo de Whatsapp ou quando pipocar na sua timeline do Facebook.
O futuro já começou.