Se você acha que para conseguir “chegar lá”, basta arregaçar a manga e “correr atrás” de seus sonhos, talvez esteja precisando entender um pouco mais sobre privilégios.
Embora seja o ideal, essa noção de sociedade com oportunidades de vida iguais à todos, infelizmente, é a mais pura utopia. Vale dizer que ter privilégios não significa ter sido criado a base de “leite com pera” – só de conseguir ler esse artigo você já faz parte de um seleto grupo de brasileiros.
Com tanta confusão rolando por aÃ, entendemos que pode ser bastante complicado compreender tudo isso, afinal é difÃcil visualizarmos de que maneiras somos privilegiados.
Poder contar com o apoio dos nossos pais na infância, poder estudar sem se preocupar com tiroteios na rua da escola, ou dormir sabendo que teremos café da manhã, tudo isso são privilégios. E o mais curioso é que o fato de não enxergarmos isso, só revela o quão privilegiados somos.
Para ilustrar tudo isso de uma maneira genial, o canal BShynaz Legacy Movement publicou um vÃdeo interessante para fazer a gente refletir (não descobrimos que o criou originalmente, a tradução ficou por conta do canal PENSAR). Antes de chamar o SOS de esquerdopata, faça um favor a si mesmo e assista:
100 dólares para o ganhador
Dezenas de pessoas se reuniram em um campo aberta, com o objetivo de apostarem uma corrida. O ganhador, levaria para o bar a casa 100 dólares. Mas, há considerações.
Com todos posicionados na linha de partida, o instrutor explicou que iria fazer algumas questões, e aqueles que concordassem deveriam dar dois passos a frente. Caso negativo, não deveria dar passo algum.
“Você foi criado com seu pai e sua mãe?“, “Você não precisou trabalhar para ajudar em casa?“, “Você não se preocupou se teria comida para a próxima refeição“, foram algumas das questões que fizeram parte dos corredores saltarem vários passos à frente de outros.
Note que nenhuma das questões envolvia realmente escolhas pessoais. Todas são situações foram “herdadas” por um sistema, pela “engrenagem” da sociedade.
Foi pedido aos participantes à frente que olhassem para trás para analisar a quantidade de pessoas que não responderam positivo para as “questões” (que correspondiam a vários privilégios sociais). E nada, absolutamente nada do que “empurrou” essas pessoas para frente foi realmente mérito delas. Foi uma condição social.
Da mesma forma, quem ficou lá na linha de partida. O que os mantiveram presos ali, não foi um erro que eles cometeram ou um vacilo nos estudos, foi simplesmente a vida que lhes foi apresentada.
Mas nada disso impede os que ficaram para trás de disputar os 100 dólares, mas você há de concordar que o cara que está lá na frente tem uma bela vantagem em comparação com o cara que ficou lá na linha de chegada, certo?
E se ambos tivessem exatamente o mesmo preparo fÃsico, corressem na mesma velocidade… Quem ganharia essa disputa? Quais as chances dessa corrida ser realmente justa? E se você estivesse para trás, quais as chances de ficar revoltado com tanta gente à sua frente?
Essa corrida representa a nossa vida real, a maneira como a sociedade funciona. Essa corrida constante que fazemos, seja em busca de um estudo melhor, um bom emprego, uma boa moradia. Uma vida melhor.
Tem gente partindo da linha de partida e tem uma galera que já começou a disputa do meio do caminho, graças aos benefÃcios sociais.
Outros experimentos
Outro experimento que nos ajuda a entender sobre esses privilégios é a “Teoria da Bolinha Papel“. Nela, um professor pede a uma sala de alunos que tentem acertar uma bolinha d papel no cesto de lixo.
Detalhe, sem levantarem de suas carteiras. É claro que os alunos que estavam ocasionalmente sentados nas primeiras carteiras, próxima ao cesto, teriam vantagem em relação aos que estavam sentados ao fundo da sala.
Não seria uma competição mais justa se todos estivessem na mesma distância do cesto?
E por fim, ainda podemos entender melhor todo esse lance de privilégios com as crianças. O canal Observatoire des inégalités fez um experimento com crianças francesas onde todas iriam jogar o famoso “Banco Imobiliário”.
Mas algumas delas receberam o “manto do privilégio” e já começaram o jogo com uma grana a mais e uns estabelecimentos já adquiridos – igualzinho na vida dos privilegiados. A resposta da crianças não poderia ter sido mais óbvia e natural: “não é justo!”.