Antes de comprar um produto de higiene ou beleza, cheque nos ingredientes se consta a substância “Triclosam”. Estudos demonstraram que é tóxica e faz mal para a saúde.
O uso de produtos de higiene e cosméticos fazem parte da nossa rotina. Não à toa que o armário do banheiro quase sempre tem um espaço reservado para colocar pasta de dente, desodorante, sabonetes e cremes para o corpo. Até aí nada fora do normal.
Mas você sabia que muitos produtos fundamentais para manter nosso corpo limpo contém Triclosan? Segundo diversos estudos, a substância é considerada tóxica e pode causar riscos à saúde.
Entre as evidências que mostram como o Triclosan pode ser nocivo ao ser humano, está a resistência bacteriana e desenvolvimento de tumores.
O Almanaque SOS conversou com os químicos Hermmann Ulisses e Manoela Bianchini para entender o que está por trás dessa substância e entender o debate em relação à proibição e liberação do uso do Triclosan em diversos produtos. Confira!
Por que produtos de higiene pessoal e cosméticos contêm Triclosan?
O Triclosan possui propriedades antimicrobianas e antifúngicas, ou seja, a substância é capaz de eliminar consideravelmente bactérias e fungos, aumentando sua durabilidade. Por esse motivo, ele é usado na indústria de higiene pessoal e cosméticos.
Um estudo publicado na American Journal of Infection Control, em 2000, informa que o Triclosan é usado em desodorantes e sabonetes desde a década de 1960. A substância foi incluída na fórmula de pastas de dente na Europa em 1985.
De acordo com Hermmann, o problema do Triclosan é que ele é pouco solúvel em água, o que propicia um processo chamado de bioacumulação.
“A bioacumulação é quando uma substância praticamente insolúvel em água tem a sua grande parte acumulada nos tecidos porque ela não consegue ser excretada do organismo pela sua falta de solubilidade.
A outra parte da substância que é solúvel em água vai ser excretada por meio da urina ou do leite materno. E é através desses líquidos que é possível detectar se o Triclosan está presente no organismo do ser humano”, explica o químico.
Um estudo realizado ainda em 2003 analisou 2.517 amostras de urina de cidadãos estadunidenses. O resultado da pesquisa foi que 75% dessas amostras continham Triclosan.
De acordo com o estudo, as maiores concentrações da substância apareceram em pessoas na terceira década de vida e entre indivíduos com maior renda familiar.
Riscos à saúde
A pesquisa citada acima deu espaço para discussões científicas acerca dos riscos que o uso do Triclosan poderiam causar a saúde humana.
Um estudo publicado no Jornal Acadêmico FEMS Microbiology Letters, indica que a ação bactericida do Triclosan pode eliminar as bactérias mais fracas do organismo, mas não apresenta o mesmo efeito sobre as mais fortes, que acabaram sobrevivendo e se reproduzindo.
Segundo os pesquisadores, as bactérias analisadas usaram vários mecanismos de resistência ao Triclosan. Como consequência disso, mais difícil e demorado é para combater infecções, uma vez que as bactérias são resistentes a alguns antibióticos.
Já outra pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia e publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, encontrou relação entre o uso da substância a danos ao fígado, como trombose e câncer hepático.
O estudo analisou Camundongos machos que foram alimentados com uma dieta alimentar contendo 0,08% de Triclosan. O resultado sugere que o Triclosan acelera ‘substancialmente’ o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular (HCC), agindo como um promotor de tumor no fígado.
O uso do Triclosan é realmente necessário em produtos de higiene pessoal e cosméticos?
De acordo com o químico Hermmann Ulisses, o Triclosan não é o único composto capaz de eliminar bactérias.
“O Triclosan tem substituintes, o óleo de canela e de alecrim, por exemplo são óleos extraídos da natureza bem benéficos que também possuem propriedades antibacterianas”.
Manoela Bianchini também cita os óleos de alecrim como uma alternativa para o uso do Triclosan.
“Outras opções são camomila, alúmen de potássio e bicarbonato de sódio”, comenta a química.
Por que o uso do Triclosan gera tanto debate em relação à liberação e proibição?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) permite a fabricação e comercialização de produtos de higiene pessoal com concentração de até 0,3% de Triclosan no Brasil.
O órgão regulatório dos Estados Unidos, o Food and Drug Administration (FDA) estabeleceu em 2017 que sabonetes antibacterianos com Triclosan não poderiam mais ser comercializados.
Com a proibição da substância nos Estados Unidos, o Ministério Público Federal de Minas Gerais chegou a mover uma ação civil pública em 2017 com o pedido de proibição do uso do Triclosan em produtos de higiene pessoal e cosméticos fabricados e comercializados no Brasil à Anvisa.
No entanto, o órgão regulador brasileiro ainda não tomou uma decisão sobre a proibição. Em março de 2021, a Anvisa lançou um documento com as informações do reenquadramento de antissépticos de uso em humano. O Triclosan aparece no documento integrando a lista de tipos comuns de antissépticos de uso em humano.
Para Hermmann Ulisses, a grande questão que gira em torno da proibição do Triclosan no Brasil e em outros países está ligado ao capital e ao lobby das fabricantes.
“Se trocar o Triclosan pelo óleo de canela ou de alecrim, por exemplo, o produto encarece e deixa de ser tão acessível.
Então correr esse risco de perder consumidor não é interessante para as empresas. E como as companhias que fazem produtos de higiene e cosméticos tem um alto poder econômico elas exercem uma influência sobre isso, principalmente no Brasil”, explica o químico.
Quais produtos comercializados no Brasil contêm Triclosan?
O perfil no Instagram @novosprodutos, maior página de testes de produtos do Brasil, fez uma lista em colaboração com os seguidores e denunciou várias marcas e produtos que possuem Triclosan em sua fórmula.
Os seguidores enviaram fotos dos produtos marcando a substância nos rótulos das embalagens.
Entre os produtos, estão talco, cremes dentais, cremes corporais e desodorantes. Confira a lista completa, feita por eles:
- Creme Hidratante De Mãos Erva Doce – Avon
- Naturals Refrescante – Jequiti
- Sensi Hidratação Multibenefícios – Bb Cream
- Desodorante Aerosol Cherry – Giovanna Baby
- Peeling de hortelã Iluminador – Adcos
- Sabonete Líquido Antibacteriano Calêndula e Camomila – Aseplyne
- Sabonete Líquido Antisséptico para as mãos – Member’s Mark
- Desodorante para os pés Tenys Pé – Baruel
- Granado Desodorante Antitranspirante – Granado
- Sabonete Líquido Facial Derme Control – Nupill
- Desodorante em creme antiperspirante/ neutro/ sem perfume – Herbíssimo
- Sabonete Líquido Floral – Fina Flor
- Hidratante com Oléo de Amêndoas – Paixão
- Desodorante Blue Roll-on – Giovanna baby
- Sabonete Glicerinado para as mãos Antibacteriano – Needs
- Desodorante Roll-on Antitranspirante Tradicional – Leite de Rosas
- LisaPé – BioSoh
- Apple Skin – Fler
- Granado Talco bebê – Granado
- Álcool 70% Spray Antisséptico hidratante para mãos – MyHealth
- Talco – Tabu
- Desodorante em creme antitranspirante – Red Apple
- Gel Antisséptico com Calêndula – Needs
- Desodorante Corporal – Leite de Aveia
- Body Spray Mahogany desodorante corporal – Aventure
- Creme dental Total 12 – Colgate
- Colônia Alfazema Provençal – Phebo
- Dermotivin Salix Sabonete líquido – Galderma
- Oléo em creme Desodorante Corporal Joli Avelã – Hinode
- Creme de Ureia 10% – Needs
Manoela lembra que além de produtos higiênicos e cosméticos, o Triclosan pode ser encontrado em roupas, sapatos, embalagens plásticas e até mesmo brinquedos. A substância também pode ser encontrada na natureza devido ao uso seu extensivo.
O estudo realizado pelo Centro de Controle de Poluição Ambiental do Japão detectou Triclosan em amostras de água, sedimentos e peixes.