Síndrome da 5ª Série ataca o Brasil: o que está por trás da infantilização dos brasileiros
Você já deve ter reparado, a sociedade brasileira têm adquirido comportamentos dignos de uma criança de 10 anos. Brigas, piadinhas de mal gosto, desrespeito ao que é diferente, enfim, a infantilidade das pessoas para lidarem com o cotidiano parece generalizada.
Na política nacional isso ainda é mais visível.
Nas redes sociais, muita gente tem notado que há um certo tom de imaturidade nos acontecimentos que ocupam, principalmente, o debate público, criando até mesmo um termo adequado para essa fase que estamos passando:
“O Brasil da 5ª série”
Por trás do que parece uma piada (veja os tweets), existe fundamento: A “Síndrome do 6º ano” (antiga 5ª série) existe e ela é explicada pela pedagogia.
Segundo a pedagoga Roseli Brito, observa-se que alunos desse ano são “avoados”, negligentes, querem saber mesmo é de brincar, além de serem muito dependentes e indisciplinados.
Bom, esse parece ser mesmo o retrato da nossa sociedade. Não concorda?
Em um artigo publicado no site SOS Professor, ela explica que como no 5º ano (antiga 4ª série) as turmas tinham apenas 1 ou 2 professores, essa rotina dava maior controle por parte do professor. Já no 6º (antiga 5ª), há vários professores, cada um com um gerenciamento diferente de aula.
“Desta forma, o aluno vê nessa “desorganização” e nessa falta de unidade, uma brecha enorme para fazer o que quer”, explica a educadora.
Além disso, essa nova fase na escola, segundo Roseli, requer uma descontinuidade no processo de ensino mais maternal dos professores, além de mais responsabilidade dos alunos. Acontecem mudanças físicas e psicológicas e, muitas vezes, a expectativa não condiz com a realidade.
“As crianças não se sentem mais “vigiadas” como antes e então começam a vislumbrar as oportunidades de não precisarem levar tão a sério os estudos.
Porém com a liberdade vem também a responsabilidade de dar conta de várias disciplinas e professores, organizarem os estudos para melhor aproveitamento, realizar vários trabalhos para entrega, muitas vezes na mesma semana, realizar até mais de uma prova por dia”, afirma.
Alguma relação com o Brasil, sim ou com certeza?
Parece engraçado, mas a coisa é séria. Segundo a “Síndrome da 5ª Série”, o caos e a desorganização que vivemos hoje parece ser o motivo pelas quais as pessoas se sentem mais livres para expressarem seu lado imaturo e infantil. Isso explica muita coisa.
Ô motorista, pode correr…
Essa é a verdadeira razão pq eu faço piada de gordo.
Tô cagando pra gordo.
Mas enquanto tiver esse tipo de mongolóide mimado militando pelo retardo em redação de jornal bosta eu estarei aqui pra garantir que a piadinha da 5ª série seja feita, só pra ver o chilique no chiqueiro. https://t.co/KnBydJFVOx
— Danilo Gentili (@DaniloGentili) 27 de dezembro de 2018
Mas gente eu achei que já sabíamos que agora quem manda nesse ônibus chamado Brasil é o pessoal da 5ª série…e já tão gritando pro motorista que eles não tem medo de morrer
Hauahauahaua— Um Panda Barbudo (@pandadebarba) January 25, 2019
Voltar a vigiar os adultos? NÃO!
Nada disso indica a necessidade de voltar a “vigiar” as pessoas, como alguns setores da sociedade andam defendendo. Ou seja, a solução para a ‘síndrome da 5ª série’ não reside em voltar para a 4ª série.
Esse comportamento em manada é apenas um sintoma de algo que tem uma solução bem mais viável. Para evitar a infantilização dos adultos é necessário trabalhar um novo olhar para a educação brasileira.
Educação industrial: uma brecha para a imaturidade
Em entrevista ao SOS, a mestre em Educação e professora de pedagogia Lucy Mara Conceição entende que a comparação entre a nossa sociedade e a 5ª série faz sentido, já que os alunos desse nível são emocionalmente, psicologicamente e cognitivamente imaturos.
“Quando você me diz que a sociedade está sendo comparada nessa perspectiva, entendo porque está todo mundo sem norte, seja por falta de informação, falta de cuidado, mudanças de paradigmas.
Politicamente, é muito instável, principalmente em relação a educação, que é base para o nosso entendimento do mundo. Mudam as estruturas das políticas educacionais e a escola fica sem chão, sem metodologia e sem apoio. Houve a desconstrução de uma ordem de política educacional forte, que funcionava, e agora estamos sem uma política efetiva”, explica.
Então, para Lucy Mara, o problema começa logo cedo, parte da base pela qual adquirimos conhecimentos: a sala de aula.
Focada apenas em criar mão de obra para o mercado de trabalho, as escolas não se atualizam, assim não conseguem transmitir bons conteúdos e dar conta de relações sociais e familiares, levando a uma sociedade de pessoas imaturas, sem um vínculo saudável com a família, sem compromisso social e legal, além de um despreparo para as mudanças no futuro.
“É uma corrente que vai se estabelecendo na nossa sociedade; por conta de fatores econômicos, os valores se perderam.
A tecnologia é fundamental no processo de descrença da educação. Os pais liberam o acesso à internet muito cedo, às vezes sem orientação ou supervisão. Mesmo que aprendam a ler com essas tecnologias, não há uma compreensão efetiva, é uma ação mecânica sem muita interpretação. Hoje, o cidadão chega na universidade copista. Basta olharmos as redações zeradas no ENEM”, afirma.
Ela acredita que se não mudarmos nossa postura diante desse processo, corremos o risco de um futuro de aprofundamento da imaturidade e do desconhecimento.
“Como fazemos se, coletivamente, a nossa sociedade precisa ‘voltar à escola’, sendo que o modelo de educação que está se estruturando não garante o entendimento dos valores morais que precisamos?
É necessário fortalecer as políticas públicas da educação, além de implementar redes de ação social para entender e apoiar as famílias”, alerta.
Folha, Huffpost Brasil, Folha (2), Istoé, O Globo, Folha (3), BuzzFeed, SOS Professor, Youtube, Folha (4)