Se o Mel for de Abelha sem ferrão, guarde-o na geladeira!
Sabia que existem vários tipos de abelhas, vários tipos de mel e vários tipos de polinização? Então, só vem com a gente porque o assunto é bem mais interessante do que parece.
Tudo começou quando recebemos um e-mail de um meliponicultor, o Hans Lapuse. Ele nos contou que nem todo mel deveria ficar fora da geladeira (como havíamos falado nessa matéria); se o mel for de abelha sem ferrão, daquelas comuns no Brasil, ele precisa ser refrigerado.
“Eu sou meliponicultor (quem cria abelhas sem ferrão); e como o mel das abelhas sem ferrão estão em alta (em tudo, custo e consumo), só gostaria de informar o seguinte
O mel da Jataí, da Mandaçaia e todas as abelhas sem ferrão devem e são obrigadas a guardar em geladeiras, pois elas possuem mais água e com isso poderá, digo poderá, fermentar pela água natural existente no mel.
As abelhas com ferrão concordo que colocar na geladeira pode ter seus inconvenientes.“
Hans nos contou que produz mel para uso próprio, em Minas Gerais. Ele optou por abelhas sem ferrão da espécie Mandaçaia. Esse tipo de abelha é mais sensível e não produz tanto mel, ele as cria em casa sem risco algum e diz que adora: “Você pode criá-las em apartamento também”.
Para entender melhor, recorremos a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (cuja sigla é – morra de fofura – A.B.E.L.H.A.), conversamos com o consultor científico da instituição, e também biólogo da Embrapa Meio Ambiente de Jaguariúna, Cristiano Menezes.
Cristiano nos explicou que o tipo de mel depende da espécie da abelha e da florada. A maioria dos méis disponíveis no mercado são produzidos pela abelha-africanizada (Appis Mellifera), com ferrão. Por isso que a diferenciação se dá mais pela florada.
Por exemplo, se as abelhas foram soltas em um local cheio de flores de eucalipto, o mel será definido como mel de eucalipto. São os chamados méis monoflorais (quando ocorre a predominância de uma fonte de néctar). Mel de laranjeira, de assa-peixe, de cipó-uva, de marmeleiro… Tudo isso diz respeito à florada.
Mas as abelhas também definem o tipo de mel.
“A principal abelha brasileira que produz um mel supervalorizado no Brasil é a Jataí. Porém, outras abelhas também produzem mel, como a Mandaçaia, Uruçú, Mandaguari, Tiúba, Uruçú-amarela, Bugia, Guaraipo, Jandaíra, entre outras. Essas são diferentes espécies de abelhas sem ferrão da fauna brasileira”, explica Cristiano.
E o mel vai onde?
De fato, depende. Como nos ensinou Hans, “o mel da abelha sem ferrão é mais líquido, pois contém mais água em sua composição” e isso influencia na forma de armazenagem, já que pode fermentar.
A concentração de açúcares nesse mel fica entre 70 e 80% – e isso quer dizer que ele passa por um processo de fermentação natural dentro da colmeia. Se ele não for mantido refrigerado, ele continuará fermentando. O ideal é que ele seja mantido abaixo de 8ºC.
O mel de abelha-africanizada é mais tranquilo de se armazenar. É só deixar em ambiente arejado, fresco e longe do sol, pois sua concentração de açúcares ultrapassa os 85%.
O único desafio é saber qual abelha produziu aquele mel, pois nem sempre deixam destacado na embalagem, na dúvida consulte o produtor.
“Quando refrigerado ou em regiões mais frias, o mel tende a cristalizar com o passar do tempo em função da alta concentração de açúcares provenientes do néctar”, ensina Cristiano.
E isso é normal, gente.
“Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a cristalização do mel é um processo natural e, em muitos casos, desejável porque muda a textura e o sabor dele.”, complementou.
Olha você aí, todo errado, achando que o mel estragou porque ficou “açucarado”. Por isso é importante guardar o mel em recipientes adequados. Dá uma olhada.
Isso é indicado!
Tá vendo esses potinhos aqui em cima? Eles são perfeitos para se guardar o mel. Afinal, mesmo que ele cristalize, ainda podemos enfiar uma colher e retirá-lo sem problema.
Isso não é indicado!
O bocal é muito estreito. Vai pegar o mel como?
Mas cá entre nós, se cristalizou, nada que um banho-maria não resolva.
Segundo o site especializado, Mel, “esse processo não danifica o mel, apenas modifica o estado em que ele se encontra, porém, é preciso realizar essa operação com cuidado, pois se o mel sofre um aquecimento exagerado, poderá prejudicar seriamente as enzimas, açúcares naturais e vitaminas do mesmo, que são sensíveis ao excesso de calor.”
Vale dizer que, apesar de circular por aí que o mel não tem validade, ele tem sim. O mel vence geralmente em dois anos, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Independente do mel, cuidar das abelhas é fundamental!
Isso porque elas são muito fofinhas polinizadoras. Ou seja: sem abelhas, sem comidinhas gostosas. E não estamos falando do mel. Estamos falando de açaí, maracujá, tomate, berinjela, e a lista segue quase sem fim.
Segundo a A.B.E.L.H.A., “em cerca de 80% de todas as plantas com flores, alguns animais são os responsáveis pela polinização. Na grande maioria dos casos, entre os animais polinizadores, nenhum é mais eficiente do que a abelha.”
“Cada planta possui seus polinizadores específicos. Algumas são polinizadas por morcegos, outras por beija-flores, outras por moscas, outras por besouros.
Algumas flores são mais especializadas, como é o caso do maracujá que é polinizado por abelhas de grande porte, como as mamangavas; outras são mais generalistas, como é o caso do açaí que é polinizado por diversas espécies de abelhas de pequeno porte, moscas e vespas”, alerta Cristiano.
Então faça como o Hans ou simplesmente cuide bem das abelhas que cruzarem seu caminho. Não sai matando as coitadinhas e evite consumir alimentos com agrotóxicos – o pior inimigo das abelhas.
Elas são mais importantes do que você imagina para a manutenção do ecossistema e do nosso prato de comida de todo dia.