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Como as saladas prontas para consumo podem nos envenenar

17 de fevereiro de 2023
Postado por Bruno Oliveira

O gastroenterologista e criador de conteúdo, Jordan Haworth publicou um vídeo em seu TikTok que levantou um alerta sobre o consumo de saladas prontas produzidas fora de casa, como em supermercados e serviços de entrega.

Segundo o especialista, 22% de todos os casos de intoxicação alimentar nos Estados Unidos foram causados por envenenamento via ingestão desses alimentos.

“A razão pela qual essas saladas pré-lavadas e pré-embaladas são tão arriscadas é porque há muitos pontos potenciais de contaminação cruzada e o interior dos sacos está sempre úmido e é um ambiente perfeito para a proliferação de bactérias”, explica o cientista em saúde intestinal.

O especialista ainda alerta sobre a contaminação por ingestão de brotos crus, tal informação também foi confirmada pelo Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).

Para nos aprofundar no assunto e entender mais sobre os riscos e precauções, conversamos com a nutróloga Valéria Goulart e com o nutricionista Thiago Bronze. Tome nota!

 

O risco de contaminação por saladas prontas

Como os alimentos são contaminados

De acordo com os especialistas, os riscos de contaminação são diversos e podem surgir desde o cultivo. Veja alguns exemplos:

  • Durante o cultivo: seja tanto pela água da irrigação, pelo solo ou até mesmo pelo manuseio inadequado.
  • Durante o transporte: pela exposição às bactérias presentes nas mãos de manipuladores, quando mal lavadas, ou em contato com superfícies da caixa ou veículo.
  • Durante o processamento: processos como lavagem, corte e embalagem podem introduzir bactérias e outros microrganismos que podem causar doenças, se feitos de maneira inadequada.
  • Durante o armazenamento: a má higiene de embalagens, assim como a umidade, normalmente presente em saladas prontas, podem criar o ambiente perfeito para o desenvolvimento e multiplicação de microrganismos.
  • Pela contaminação cruzada: quando alimentos de origens diferentes (animal/vegetal) entram em contato, direta ou indiretamente, com utensílios não higienizados durante o processamento ou quando ingredientes crus entram em contato com alimentos já cozidos.

Em outras palavras, as saladas prontas passam pelas principais etapas de possível exposição a microrganismos, o que não necessariamente as condena, contudo precisam ser manipuladas com atenção e cuidado redobrados.

 

O que acontece se ingerirmos alimentos contaminados

Os especialistas consultados listaram alguns dos principais problemas de envenenamento que podem ser gerados ao consumir alimentos contaminados.

Embora vírus, bactérias e parasitas não sejam os únicos responsáveis pelo desenvolvimento de intoxicações alimentares, eles costumam ser os principais causadores de problemas como:

  • Diarreia.
  • Náuseas.
  • Vômito.
  • Dor abdominal.
  • Febre.
  • Diversos tipos de infecções.
  • Entre outros.

Todavia, os especialistas também afirmam que existem outros fatores que podem envenenar os ingredientes das saladas, como por exemplo:

  • Intoxicação por pesticidas: quando não aplicados corretamente.
  • Contaminação por metais pesados: absorvidos do solo ou da água em que são cultivados.

A nutróloga Valéria Goulart ainda alerta que a exposição aos agrotóxicos ainda pode gerar problemas mais graves, como o câncer:

“A exposição a longo prazo a pesticidas e a metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio pode estar relacionada a problemas de saúde crônicos, como câncer, problemas hormonais e neurológicos; além de ser tóxica para o corpo humano e causar danos aos órgãos e sistemas do corpo.”

 

Preparação caseira ou por terceiros, qual é a mais segura?

O nutricionista Thiago Bronze diz que praticamente não há diferença entre saladas compradas prontas e saladas feitas em casa. Entretanto, o especialista reforça que é o cuidado durante a higienização e armazenamento que faz toda a diferença:

“Os riscos são basicamente os mesmos, falta de higiene e armazenamento indevido. Em casa você ainda pode contaminar os vegetais, caso tenha o hábito de lavar o frango em água corrente na pia da cozinha, por exemplo.”

Goulart também nos explica que a boa prática de higiene é o que faz toda a diferença, inclusive nas saladas prontas para consumo que são produzidas em supermercados:

“Alimentos dispostos em supermercados geralmente passam por processos de limpeza, seleção, embalagem e armazenamento para manter a qualidade e segurança do alimento, o que reduz o risco de contaminação.”

Vale dizer que o mesmo cuidado serve para as saladas que já vem higienizadas. Por conta da umidade dentro do pacote, a proliferação de microorganismos acontece da mesma maneira.

 

Saladas de delivery merecem mais atenção

A nutróloga alerta, principalmente, para as saladas que são vendidas via delivery:

“A forma como são manuseados e entregues pode afetar a segurança alimentar. O tempo de entrega, a temperatura dos alimentos e a higiene dos entregadores são fatores que podem afetar a qualidade e segurança do alimento.”

Vale lembrar que, em 2018, um estudo feito pelo Centro Universitário UniMetrocamp Wyden em Campinas, São Paulo, identificou micro-organismos em 90% das saladas analisadas provenientes de delivery e fast food.

Dezoito delas continham coliformes fecais em quantidade dez vezes maior do que o tolerável pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Apesar disso, sabemos que alguns estabelecimentos e serviços de entrega de alimentos tomam medidas para garantir a segurança dos alimentos, como o uso de embalagens adequadas e a implementação de protocolos de higiene para os entregadores.”, conclui Valéria Goulart.

 

A saída é lavar a salada de novo

Sim, é preciso lavar tudo antes de consumir.

Independentemente da salada ter sido produzida por terceiros ou por você, no conforto da sua casa, o que mais importa para garantir que ela seja segura para o consumo é o cuidado com a higiene dos ingredientes, desde a seleção dos alimentos até os preparos finais.

 

Como higienizar os ingredientes das saladas corretamente

O nutricionista Thiago Bronze nos ensinou como fazer o processo de higienização dos vegetais em casa para garantir que estejam bem higienizados:

“A higienização deve ser feita em água corrente para retirar as sujeiras maiores, terra e bichinhos. Depois, a sanitização é feita com as folhas de molho em água sanitária/hipoclorito de sódio (para cada litro de água você coloca 1 colher de sopa de hipoclorito, e deixa de molho por até 15 minutos). Passe novamente na água corrente e pronto!”

Além disso, o especialista também dá uma opção para quem é alérgico ao hipoclorito de sódio. Segundo ele, também é possível higienizar os alimentos usando água oxigenada e vinagre, embora o método não seja o mais eficaz:

“Para quem tem alergia ao hipoclorito de sódio existem métodos alternativos (que não possuem a mesma eficácia, mas são melhores do que nada), você pode colocar as folhas de molho em uma mistura de água com água oxigenada/peróxido de hidrogênio (10 volumes) e fermentado acético de álcool (vinagre de álcool) – são duas colheres de cada um deles para cada litro de água, deixe de molho por até 15 minutos. Depois disso lave as folhas muito bem pois a água oxigenada pode deixar sabor residual.”

A especialista Valéria Goulart também nos dá algumas dicas sobre como higienizar as proteínas e outros ingredientes que precisam ser aquecidos:

“Se for utilizar proteínas como frango ou ovos na salada, certifique-se de cozinhá-los adequadamente e não os deixe na temperatura ambiente por muito tempo antes de incluí-los na salada. Se for servir a salada quente, certifique-se de que ela esteja aquecida a uma temperatura segura (acima de 70°C).”

Mais uma vez os especialistas que conversamos acreditam que a única maneira de garantir a segurança desses alimentos é assegurando-se que as boas práticas de higiene foram seguidas de maneira adequada.

Aproveite que bateu aquela vontade de salada e confira nosso artigo te ensinando como salvar aquelas folhas murchas que ficaram esquecidas na geladeira.

 

Centro Universitário de Barra Mansa - UBM, Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, CDC - Centers for Disease Control and Prevention, Dole

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