Racismo não é raro no Brasil: dados contradizem declaração de Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro disse ontem (07), em entrevista à Luciana Gimenez, que racismo no Brasil “é uma coisa rara” e que já está “de saco cheio” dessas questões.
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— Mídia NINJA (@MidiaNINJA) 8 de maio de 2019
Na mesma entrevista, Bolsonaro afirmou que não é racista, pois em 1978 teria salvo um soldado que afundava numa lagoa: “Se eu fosse racista, um negão caiu dentro da água eu ia fazer o que? Cruzar os braços”, afirmou o presidente.
Segundo o dicionário: “racismo é um conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias.” Partindo dessa premissa, o IBGE afirma que o Brasil está muito longe de se tornar um país racialmente democrático.
“A questão da escravidão é uma marca histórica. Durante esse período, os negros não tinham nem a condição de humanidade. E, pós-abolição, não houve nenhum projeto de inserção do negro na sociedade brasileira. Mesmo depois de libertos, os negros ficaram à própria sorte”, destacou o doutor em Ciências Sociais, Otair Fernandes, em entrevista ao IBGE.
Abaixo, elencamos alguns dados que ilustram como a questão racial no país é um grave problema estrutural:
- Em 2017, o rendimento médio de pessoas brancas foi de R$2.814, enquanto de pessoas negras foi de R$1.570 (ou seja, R$ 1.244 a menos) – segundo o IBGE;
- 78% da população mais pobre é negra, enquanto os negros são apenas 25% da população mais rica no Brasil – segundo IBGE;
- 67% dos negros no Brasil estão incluídos na parcela dos que recebem até 1,5 salário mínimo (cerca de R$1.400). Entre os brancos, o índice fica em 45% – segundo relatório da Oxfam.
- Taxa de analfabetismo é duas vezes maior na população negra do que na população branca – também segundo IBGE;
- Só 10% dos livros brasileiros publicados entre 1965 e 2014 foram escritos por autores negros – segundo levantamento feito pela UnB.
- Homens negros são só 2% dos diretores de filmes nacionais. Atrás das câmeras, não foi registrada nenhuma mulher negra – concluiu pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
- Negros são mais condenados por tráfico de drogas, mesmo portando menor quantidade que os brancos – Segundo Levantamento da Agência Pública em SP;
- 71 de cada 100 vítimas de homicídio são negras – segundo Fórum Brasileiro de Segurança Pública;
- Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%, ao passo que o índice de feminicídios de brancas caiu 10% no mesmo período de tempo – dados do Mapa da Violência.
Vale lembrar que, segundo o IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos, sendo que a cada dez pessoas, três são mulheres negras.
Com as declarações dadas, o presidente demonstra não conhecer a realidade do país que governa. Ou pior: demostra desprezo por todos os estudos e estatísticas que colocam o Brasil numa situação de abismo racial.