O cientista e criador de conteúdo sobre ciência, Avisha NessAiver publicou um vídeo em seu TikTok levantando uma provocação curiosa: as pessoas usam protetor solar de forma errada.
Segundo o especialista, o fator de proteção solar (FPS) indicado com destaque nas embalagens, pode ser menos importante do que a quantidade de produto utilizado na pele.
Para ajudar as pessoas a descobrir a dosagem ideal, Avisha desenvolveu uma ferramenta online. Mas será que é por aí mesmo? Acompanhe.
A polêmica: “FPS vs. Quantidade”
Os argumentos de Avisha foram baseados em uma teorização sobre relação da quantidade de produto aplicado na pele e o fator de proteção solar (FPS). Nesse levantamento, baseado na lei de Beer-Lambert, foi concluído que era mais importante aplicar mais protetor solar do que se ater ao fator de proteção em si.
Efeito teórico sobre a insuficiência de protetor solar | FPS | Quantidade (mg/cm2)
Porém, tal informação foi contradita em certa medida.
Segundo Michelle Wong, PhD. em química, educadora científica e química cosmética, o raciocínio proposto para a falha da lei é porque ela assume uma superfície uniforme, quando na verdade a pele é irregular.
Embora o antigo modelo exponencial sugerisse que protetor solar insuficiente não era muito melhor do que nenhum protetor solar, a relação linear real diz o contrário. Portanto, mesmo que você não consiga aplicar a quantidade certa, o FPS mais alto ainda fará diferença!
Resumindo: o fator de proteção (FTS) é mais importante do que a quantidade, desde que você use o produto no corpo inteiro.
Relação entre quantidade de protetos solar e FPS | Linha Logarítmica | Linha Linear | Linha Exponencial
Qual é a quantidade de protetor solar que devemos usar?
Conversamos com Geisa Costa, médica especialista em dermatologia e membro da Sociedade Latino Americana de Dermatologia Pediátrica e com Júlio Pierezan, médico dermatologista e especialista em transplante capilar para nos ajudar a entender melhor sobre os riscos, cuidados e orientações fundamentais no momento de aplicar o protetor na pele.
1. Calculadora de proteção solar
Avisha NessAiver desenvolveu uma calculadora de proteção solar para definir, individualmente, a quantidade ideal de produto que devemos aplicar. Testamos a ferramenta e consultamos a opinião dos especialistas para conferir se ela é, de fato, eficaz.
Em suma, a calculadora desenvolvida pelo autor pode servir para te dar uma noção inicial do quanto de protetor você precisa usar, mas para saber o valor exato você precisa considerar outras características do seu corpo.
Segundo Geisa Costa, existem algumas variantes que podem comprometer o resultado:
“A calculadora pode ser válida, mas ao mesmo tempo falha. Válida, pois ele faz um cálculo da área, já que pedem dados como altura e peso. E falha, pois nem sempre a pessoa sabe com exatidão essas medidas. Sem contar que pode emagrecer ou engordar e as quantidades vão mudar.”
A dermatologista também revela que a ferramenta não considera o nível de exposição aos raios solares de acordo com pretensão de atividade do indivíduo:
“Outro ponto: qual atividade a pessoa está fazendo? Vai para a praia, vai ficar em casa? São pontos que precisam ser pensados.”
O tricologista Julio Pieresan confirma que as informações requisitadas pela ferramenta são insuficientes, pois não considera variantes importantes:
“A ferramenta pode funcionar, desde que a pessoa saiba analisar seu tipo físico e quanto realmente ela vai aplicar de protetor solar, por exemplo, na área calva ou no couro cabeludo. E isso é muito individual.”
Tentamos entrar em contato com o criador da calculadora, mas até a publicação deste artigo não obtivemos resposta.
2. Regra dos três dedos (para o rosto)
Uma das regras mais famosas no que diz respeito à quantidade correta de protetor solar é a “regra dos 3 dedos”. A premissa é que você faça uma trilha do produto nos dedos indicador, médio e anelar.
A quantidade disposta entre os três dedos é de acordo com o Guia de Proteção Solar, desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que recomenda a aplicação de 1 colher (chá) de produto para a região do rosto.
Geisa Costa confirma que essa regra só é válida para o rosto:
“No caso, essa regra dos três é focada no rosto. Para o rosto eu indico para meus pacientes que apliquem uma fina camada de protetor solar branco e outra camada de protetor solar com cor. Isso reforça a proteção.”
Ainda assim, não podemos desconsiderar que os dedos das pessoas podem ser diferentes, o que torna essa regra imprecisa.
Em ambas as imagens temos a mesma quantidade de produto, sendo à esquerda a “regra dos 3 dedos” e à direita uma colher de chá.
3. O couro capilar também precisa de proteção?
O tricologista Julio Pieresan, dermatologista especializado em couro cabeludo, nos conta porque nós devemos estabelecer uma proteção também nas áreas com (ou sem) cabelo:
“Sem cabelo [careca] ou com entradas, sua pele fica exposta diretamente aos raios nocivos do sol. Sem contar que a pele do couro cabeludo é fina e pode queimar rapidamente. É uma das regiões mais comuns para o câncer de pele.”
O especialista também comenta que é preciso aplicar quantidades generosas de protetor nas áreas do couro cabeludo:
“Se a pessoa não aplicar uma quantidade generosa no couro cabeludo, por exemplo, não faz sentido usar um FPS 50, pois não vai fazer efeito. A proteção solar para os calvos e carecas só se mostra eficaz se você aplica com consciência, se não exagera no sol e se reaplica após nadar e/ou praticar atividade física.”
O especialista também nos explicou que por haver diferenciações entre as pessoas, como o tipo de textura e quantidade de cabelos, áreas com e sem cabelo e tamanho da cabeça. Levando isso em consideração, a quantidade de protetor que deve ser usado também é variável.
Mas ele nos conta que além de priorizar um protetor solar de qualidade no couro cabeludo, a versão em spray é a mais indicada:
“Quando se trata de protetor solar para pessoas carecas, o ideal é investir no mesmo que você passa no rosto. Uma vez que não vai deixar o couro cabeludo brilhoso. Quem tem entradas [calvície] pode se proteger utilizando um protetor em spray. Por conta do cabelo que tem na região, fica mais fácil de aplicar e espalhar.”
Vale dizer que existem cosméticos específicos com proteção térmica e solar para os cabelos. Portanto, quando nos referimos à aplicação no couro cabeludo, nos referimos às pessoas carecas ou com calvície.
4. Quantidade exata de produto por área do corpo
Embora tenhamos aprendido que não existe uma quantidade fixa ideal que sirva para todos os tipos de corpo, os especialistas e o Guia de Proteção Solar trazem um indicativo de volume base para cada região do corpo:
- Rosto e pescoço: 1 colher de chá (5ml).
- Couro cabeludo: 1 colher de chá (5ml).
- Dorço (busto e costas): 1 colher de sopa (15ml).
- Braço e antebraço (cada): 1 colher de chá (5ml).
- Pernas e pés (cada): 1 colher de sopa (15ml).
5. Resumo importante
- A camada do produto deve ser aplicada de maneira generosa, ao ponto de criar-se uma película espessa e clara (no caso dos protetores em creme branco) que deverá ser absorvida pela pele.
- A exposição ao sol deve ser feita após 15 minutos da aplicação para que a pele possa absorver a substância completamente.
- E é de extrema importância fazer a reaplicação após 2 a 3 horas da primeira aplicação, principalmente se houver contato com água, areia ou toalha.
- Os especialistas também indicam o uso de proteção extra, como chapéus ou bonés, caso possível.
O que devemos observar no protetor solar adequado?
Para finalizar, os especialistas nos deram dicas de como escolher o protetor solar adequado para o seu tipo de pele:
- Fator de Proteção Solar (FPS) mínima de 30.
- Quanto maior o FPS, maior a proteção.
- Quanto mais clara a pele, maior deve ser o FPS (a partir de 50).
- Usar produtos que ofereçam proteção tanto aos raios UVA quanto UVB.
- Pessoas que têm histórico ou risco elevado de desenvolver câncer de pele, condições como o albinismo, ou distúrbios que afetam a pele, devem usar, no mínimo, o FPS 50.
Lembrando que além do fator alto de FPS, é importante fazer uma aplicação generosa e continua na pele.
Agora que você já se besuntou de protetor, adiante-se e confira nosso artigo te ensinando como limpar qualquer mancha de protetor solar das roupas.
O que são raios UVA e UVB?
Você já deve ter ouvido falar que o protetor solar é fundamental para proteger contra os raios ultravioleta e evitar danos à pele. Basta reparar na embalagem de alguns desses produtos, há alguma menção à “proteção contra os raios UVA e UVB”.
Ambas as siglas definem os raios que transmitem a radiação solar (ultravioleta). Contudo, existe uma diferença entre os raios ultravioleta tipo A (UVA) e os de tipo B (UVB).
1. Como funcionam os raios UVA?
Os raios UVA são os mais agressivos para nós, pois apesar de serem invisíveis, atuam independente do clima (se está chovendo litros ou fazendo um sol de rachar) e nos primeiros raios do dia nós já estamos expostos a ele.
Esses raios representam 95% da radiação solar emitida pelo sol e penetram nas camadas mais profundas da nossa pele, podendo ser responsáveis por problemas como:
- Envelhecimento precoce.
- Manchas de pele.
- Alergias.
- Câncer de pele.
- Entre outros.
Por esse motivo é tão importante estabelecer uma proteção adequada contra a exposição indevida a esse tipo de radiação.
2. Como funcionam os raios UVB?
Diferente do seu amiguinho tipo A, os raios ultravioleta tipo B, ou UVB, penetram apenas a superfície da nossa pele e são equivalentes a apenas 5% da radiação solar.
Entretanto, isso não quer dizer que eles sejam menos perigosos ou que a gente não precise evitar eles, já que existe uma faixa de tempo em que ele se intensifica, entre as 9 da manhã até as 16 da tarde.
Durante esse período, a exposição indevida a esses raios podem aumentar os riscos de desenvolver problemas como:
- Vermelhidão na pele.
- Sardas.
- Manchas.
- Câncer de pele.
- Queimaduras.
Por isso é importante não apenas que você entenda a atuação do UVB, como também procure produtos que ofereçam a proteção adequada tanto aos raios tipo A, quanto aos do tipo B. Sim, ainda existem protetores solares que oferecem proteção apenas contra raios UVA.