O que move o mundo são as perguntas. Pensando nisso, uma professora do Rio de Janeiro resolveu aplicar uma prova de fÃsica diferente para seus alunos. Ao invés de responderem a perguntas, como praxe, os estudantes do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet) precisaram criar perguntas sobre o conteúdo cobrado.
Um texto de três páginas sobre Teoria da Relatividade, escrito pela professora, que serviu de base para os alunos.
“Com tudo isso que foi posto e colocado de forma bem resumida mais suas lembranças de nossas discussões em sala, formule no mÃnimo cinco perguntas sobre esse tema fascinante”, dizia o enunciado da prova.
Caso os estudantes sentissem necessidade, também era permitido utilizar o celular para pesquisar mais sobre o assunto na internet. Essa foi a avaliação aplicada pela professora de fÃsica Elika Takimoto.
Dei uma prova de fÃsica (sobre Relatividade) diferente: os alunos não tinham que responder nada e sim elaborar perguntas.
Eles podiam usar celular, internet, WhatsApp…
Segue o fio
— Elika Takimoto (@elikatakimoto) November 28, 2019
A professora responsável pelo método de avaliação inovador, Elika Takimoto é doutora em Filosofia, mestre em História e escritora, com livros publicados – que vão desde crônicas baseadas em experiências pessoais, até obras que trazem um dialogo sobre o ensino da fÃsica para crianças e adolescentes.
Acreditar em uma educação que fuja dos moldes tradicionais e antigos, onde professor apenas repassa conhecimento e alunos recebem tudo de forma passiva. Essa foi a maior motivação de Elika para a aplicação de uma prova tão diferente.
Perguntas que iam de Karl Marx à amor eterno; do conceito de livre arbÃtrio até as ciências humanas. Os alunos não precisavam necessariamente saber a resposta de suas perguntas, nem mesmo a professora. O foco era fazer com que os adolescentes pensassem por si próprios, e não apenas respondessem questões de forma mecanizada.
Perguntas e a formação do senso crÃtico
A educação não é mais como antes, ou pelo menos vem tentando mudar aos poucos, como estudos vêm alertando.
A relação entre professor e aluno, antes vista como de mestre e aprendiz, a pequenos passos vêm se modificando, assim como Paulo Freire, um dos principais pedagogos e filósofos do paÃs, previa. Dentro de sala de aula, é preciso que o professor aprenda ao ensinar, e que o educando ensine ao aprender.
A Teoria da Relatividade poderia tornar um amor eterno?
Com sua proposta, Elika Takimoto, trabalha em seus alunos uma parte importante do ensino, que vai além de números, regras gramaticais ou fórmulas de cálculos.
Uma prova sobre teoria da relatividade que gerou questionamentos ligados à outros campos da vida, mas se interligando com a matéria. Ali é trabalhado o pensamento crÃtico de seus alunos, e a capacidade de reflexão e argumentação dos mesmos.
Para existir democracia é preciso entender que não existe apenas uma realidade.
Matérias convencionais são importantes para a vida. Mas ter a capacidade de enxergar além do óbvio, e de questionar o que é exposto por professores, também é parte fundamental na educação que busca formar cidadãos.
Incitar estudantes a perguntar e não aceitar como verdade o que é mostrado é um dos principais pontos da formação do senso crÃtico, que não servirá apenas para a área acadêmica e escolar.
É possÃvel usar uma teoria na vida real?
A nova educação é criativa
Além da prova revolucionária, Elika costuma utilizar métodos não convencionais dentro de sala de aula. Um deles foi uma metodologia chamada “Jigsaw“, também aplicada na disciplina de fÃsica do Cefet.
O método se baseia no princÃpio da aprendizagem cooperativa e consiste em dividir a turma em grupos que vão trabalhar de modo cooperativo se reorganizando em diferentes momentos e agrupamentos para partilhar e construir conhecimento.
A professora de fÃsica, nesse contexto, atua apenas orientadora. Os alunos são os responsáveis por botar a mão na massa. Aprendendo, debatendo e repassando o aprendizado para outros colegas.
Vale lembrar a experiência de um professor da rede pública municipal de Maricá, Rio de Janeiro, uma ideia incrÃvel para amenizar a tensão e tornar o dia de avaliação menos temido.
William Corrêa, docente de Ciências FÃsicas e Biológicas, criou uma prova onde o aluno pode pedir ajuda de algum familiar, através de uma ligação, quando esbarrasse em uma questão que estivesse com dificuldade (leia tudo sobre essa história aqui).