Precisamos falar sobre as Agroflorestas
O mundo parece estar mudando, finalmente a humanidade começa a tentar reverter o mal que tem feito ao meio ambiente, e a ela mesma.
Um bom exemplo que nos enche de esperança pode ser visto no recente aumento da procura por alimentos orgânicos, cultivados sem o uso agrotóxicos. Porém, correr atrás do prejuízo exige irmos além.
Precisamos falar sobre as Agroflorestas.
Os orgânicos são a ponta do Iceberg
De fato, não há como negar os benefícios que o consumo de alimentos orgânicos podem trazer ao meio ambiente e à nossa saúde.
Sem produtos químicos, o ecossistema da região é menos agredido pelo cultivo, ou seja, não contamina o solo e evita exterminar milhares de vidas daquele ambiente.
E quanto à nossa saúde, se o preço fosse mais acessível, essa preferência pelos orgânicos deveria ser de toda a população. Como exemplo, esse estudo, publicado no site científico Science Direct, constatou que seguir uma dieta orgânica por apenas 7 dias é capaz de diminuir em 90% a quantidade de pesticidas em nosso organismo.
Pesticidas como o glifosato que está associado ao desenvolvimento do câncer de mama, como afirma este estudo, publicado no site científico NCBI, e também doenças renais, conforme informa este outro estudo, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health (Revista Internacional de Pesquisa Ambiental e de Saúde Pública).
Ou seja, comer frutas, legumes, verduras e qualquer outro alimento cultivado naturalmente, sem todo aquele veneno, está mais que comprovado que só nos faz bem. Mas quando a história é sobre o impacto que o cultivo causa à natureza, ainda podemos melhorar, e muito!
Agricultura Selvagem
Um dos grandes problemas ambientais que enfrentamos é o desmatamento, normalmente causado pela agricultura (seja a monocultura ou a pecuária), como afirmou o IBGE. Por mais que um alimento seja orgânico, isso não significa que ele foi cultivado sem impactar o ambiente, muito pelo contrário.
Com a popularidade dessa nova dieta, muitos produtores já reservam partes de suas lavouras para a produção de alimentos sem agrotóxicos, porém, para ter onde fazer o plantio, a violência contra a natureza ocorre do mesmo jeito. Às vezes pior por precisar de mais terra.
Resumindo de maneira grosseira, não adianta dispensar os venenos depois de ter desmatado dezenas de hectares, concorda? E é aí que as agroflorestas entram em cena para salvar o dia o mundo.
A “Floresta comestível”
A agrofloresta é um sistema que permite cultivar alimentos em comunhão com a floresta, ou seja, sem impactar de maneira negativa na “engrenagem” natural daquele ecossistema. E fazendo justamente o caminho contrário a degradação, essa forma de cultivo ainda possibilita a recuperação do ambiente de forma natural e sustentável.
O que acontece nesse tipo de cultivo é incluir a plantação de alimentos no ambiente natural daquela região, sem precisar devastar tudo antes de começar o plantio. Uma simbiose inteligente.
Ou então recuperar o solo completamente agredido por secas, queimadas, desmatamento, etc., através do plantio de diferentes espécies e de técnicas naturais para o fortalecimento nutricional da terra, como a compostagem dos galhos e folhas dessas plantas. Tudo de forma natural, assim como as florestas fazem.
No fim das contas, é usar a natureza como inspiração, como uma grande aliada em todo esse processo de produção.
Como isso funciona na prática?
Pode parecer uma ideia bem da galera de humanas, mas isso já é realidade.
O agricultor e pesquisador suíço, Ernst Götsch, levou essa historia à sério e desenvolveu o que chama de agricutura sintrópica, um tipo de agrofloresta focada na recuperação e formação do solo, na regulação do micro-clima da região e no favorecimento do ciclo da água.
É um processo de recuperação pelo uso. Ou seja, uma árvore frutífera, além de dar os frutos, acabará enriquecendo o solo com a compostagem de seus elementos, aumentando assim a umidade da região, fazendo com que a ciclo da água se renove.
A questão vai além da agricultura. O principal objetivo é utilizar os conhecimentos agrícolas para manter e/ou recuperar o equilíbrio daquele ecossistema prejudicado, provavelmente por nós mesmos.
E tudo isso acontece devido ao sistema criado por Götsch: as podas constantes dessa vegetação. São as folhas e galhos que acabam ajudando na recuperação do solo, que fica cada vez mais apto a receber novos plantios, além de facilitar a absorção do carbono no ar. A poda é o combustível das transformações.
Tudo funciona como um ciclo, quanto mais vegetação cresce, mais podas são feitas, fortalecendo as raízes das plantas, mais o solo fica fértil, mais vegetação aparece. É usar o “esqueminha” que a floresta já conhece bem a nosso favor. É entrar em sincronia com o natureza, ou melhor, resgatá-la.
A fazenda de Götsch funciona nesse sistema desde 1984, quando o suíço adquiriu a propriedade com um solo muito seco e pobre, devido a intensa extração de madeira feita pelo antigo proprietário.
Hoje, depois de mais de 30 anos, são mais de 500 hectares reflorestados, a fazenda é considerada um dos fragmentos mais férteis e biodiversos da Mata Atlântica.
A Fazenda da Toca, localizada no interior de SP e encabeçada pelo ex-piloto de fórmula 1, Pedro Paulo Diniz, é um outro ótimo exemplo de como é possível adotarmos essa iniciativa, mesmo quando falamos em larga escala.
Em apenas dois anos, a fazenda começou produzir em grandes quantidades como a agricultura convencional faz, mas ao contrário das monoculturas, trouxe muito mais diversidade: frutas, legumes e até outros tipos de vegetação, incluindo eucaliptos (para madeira).
Tudo sem prejudicar a natureza, pelo contrário, melhorando o meio ambiente.
Segundo o especialista, todo esse processo não é mais caro quando comparado à agricultura convencional, e ainda tem uma vantagem que talvez seja a mais importante de todas.
Diferente da maneira tradicional de se praticar a agricultura, as agroflorestas acima de tudo criam vida, e não o contrário.
Todas essas informações que muita gente desconhece acabam deixando claro que a mudança (para melhor) está cada vez mais perto e se mostra realmente possível.
Não se trata de um movimento ideológico, é algo real e que já está acontecendo. E tomarmos consciência disso é extremamente necessário, ainda mais quando existe um movimento acelerado tramitando em Brasília, financiado por grandes corporações e pessoas poderosas, para tapar nossos olhos, ao mesmo tempo que confundem nossa atenção para o que não interessa.
Precisamos mudar a maneira como nos relacionamos com o outro e com o meio ambiente. Afinal de contas, somos todos parte da mesma natureza.
Veja o documentário que explica tudo sobre a agricultura sintrópica de Ernst Götsch, publicado pelo canal Agenda Gotsch:
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