Pesquisa é ‘suspensa’ pelo governo e revolta cientista, que faz um desabafo emocionante
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) suspendeu as novas bolsas aprovadas na Chamada Universal MCTIC/CNPq 28/2018. Essa modalidade de bolsas deveria apoiar financeiramente projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação em qualquer área do conhecimento. A edição em questão previa o investimento de R$200 milhões em pesquisa no país todo.
Com a suspensão dos 5.572 projetos aprovados, inúmeras pesquisas devem ficar sem financiamento.
Projetos esses que ajudam o Brasil a se desenvolver de diversas maneiras, como é o caso das pesquisas do doutor em química inorgânica, Lippy Faria Marques, que desenvolve materiais que podem ser úteis para descontaminação de rios/lagos. Em uma publicação emocionante que viralizou nas redes sociais, o químico desabafou:
“REVOLTANTE! Estou usando MEU SALÁRIO para custear a minha pesquisa e meu laboratório fazem EXATOS 4 ANOS E 2 MESES, sem ter recebido 1 centavo, tanto dos governos estadual e federal, apesar de vários projetos aprovados e com termos de outorgas já assinados: já comprei ar condicionado, solventes, reagentes, vidrarias, ultrassom, estufa, agitadores magnéticos, computador, portas e mesas (quem é da área, sabe o quanto esses materiais são caros).
E assim, em certos momentos, abrimos mão de fazer uma boa viagem, cortamos uns gastos pessoais aqui e outros ali, para poder ajudar na formação de alunos e produzir conhecimento para o país. Venho caminhando, orientando alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, e me mantendo (só Deus sabe como) ativo em relação às minhas publicações.
Agora, quando tive mais um projeto aprovado (Universal do CNPq, no valor de aproximadamente 25 mil reais), recebo este belo e-mail [imagem do email recebido pelo CNPq informando a suspesão das bolsas]. Um BALDE DE ÁGUA FRIA!
Com esse dinheiro e bolsa eu trabalharia DURANTE 2 a 3 ANOS, ajudando na FORMAÇÃO DE VÁRIOS ALUNOS, e desenvolvendo materiais que poderiam ser úteis para descontaminação de rios/lagos e no desenvolvimento de dispositivos eletroluminescentes, com potencial aplicação na construção de telas planas.”
Considerando que mais de 95% de todo conhecimento científico produzido no Brasil vem das Universidades Públicas e que atualmente o país investe cerca de 2% nessas produções, a suspensão dessas bolsas – e de qualquer outro incentivo à produção científica – nos faz pensar sobre as escolhas que o país tem feito no que diz respeito à educação e desenvolvimento nacional; o pesquisador continua:
“Enquanto isso, por exemplo, alguns deputados gastam MUITO MAIS do que 25 mil reais POR MÊS (É ISSO MESMO, POR MÊS!), para bancar suas gasolinas e aluguéis de carros!
Vejam o deputado do PSL, Felipe Francischini, acusado de gastar mais de 100 mil reais de DINHEIRO PÚBLICO para se alimentar (link). Isso é SOMENTE de 1 DEPUTADO!
Sinto-me impotente perante a tanta desigualdade, desmonte da ciência e educação em nosso país. ESTÁ MUITO DIFÍCIL desenvolver ciência e produzir conhecimento nesse país, principalmente para JOVENS PESQUISADORES, como eu, que não possuem verbas de projetos antigos. É tudo MUITO CARO para termos que desembolsar do nosso salário. Simplesmente não dá!
A esmagadora maioria da população parece não se importar com o que vem acontecendo, e isso custará muito caro às gerações de nossos filhos, pois não existe uma nação desenvolvida sem uma ciência desenvolvida.
Quem SEMPRE sofrerá será população mais carente, perdendo familiares em desastres naturais ou rompimentos de barragens (e consequente contaminações dos rios, destruindo a fauna e flora local), pagando preços exorbitantes em seus medicamentos, tratamentos de saúde, combustíveis, energia elétrica, e mesmo não podendo adquirir um bem de consumo tão desejado, como uma TV ou um celular.
Uma nação que não desenvolve as suas tecnologias, tem que pagar MUITO CARO para possuí-las, além de não gerar nenhum tipo de retorno financeiro.
Já é amplamente conhecido que inúmeros países em crise, investiram na CIÊNCIA E TECNOLOGIA para saírem dessas crises, mas aqui estamos fazendo exatamente o contrário: DESTRUINDO-A! Quem nos dera se o problema nas universidades fosse a tal da “doutrinação”. Que HORROR estamos vivendo.”