Pescaria não é esporte: anzol diminui a capacidade do peixe se alimentar, revelam cientistas
Muitas pessoas tem prazer em pescar, seja como terapia ou “esporte”. O silêncio e o contato com a natureza são uns dos responsáveis por esse encanto. A maioria das pessoas que pescam não tem interesses comerciais e, geralmente, devolvem os animais para água.
Apesar de essas pessoas não terem más intenções, o anzol usado na captura cria um ferimento na boca dos peixes, prejudicando a sua alimentação.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Estados Unidos, publicado na revista científica The Journal of Experimental Biology, identificou que o ferimento causado a boca do animal compromete o sistema de alimentação por sucção, comum em muitas espécies como truta, salmão e robalo.
Timothy Highan, professor de biologia e um dos autores do estudo, explicou em entrevista à Newsweek, que “o sistema de alimentação por sucção é bastante similar com o qual usamos para beber líquido com canudinho. Se você faz um buraco do lado do canudo, ele não vai funcionar devidamente”.
O professor ainda declarou que o objetivo do estudo era “descobrir qual o impacto sobre o peixe quando era pego usando um anzol e depois solto”.
Para realizar a análise foram retirados do mar dois grupos de peixes um utilizando o anzol e linha, de forma tradicional, e outro apenas com o uso de rede, para que esses animais não tivessem ferimentos na boca.
Ao todo foram estudados 10 peixes com lesão na boca e 10 sem lesão em um laboratório. O objetivo era analisar com que rapidez e qual a capacidade desses peixes se alimentarem após a retirada e a devolução ao mar.
O resultado do estudo mostrou que os peixes que se alimentam por sucção não conseguiam sugar sua comida adequadamente e isso implicava numa redução de 35% na capacidade de alimentação.
“Pensamos que haveria um impacto, mas o tamanho do impacto que pensávamos era relativamente pequeno em diâmetro, por isso não tínhamos certeza se que conseguiríamos um resultado significativo.
Quando vimos a redução de 35% na capacidade de se alimentar, ficamos muito surpresos. Isso foi muito mais do que achávamos”, revela Higham.
O impactado causado pela redução da capacidade do animal se alimentar pode gerar problemas para as populações de peixes. No entanto, o pesquisador, explica que outras pesquisas são necessárias para entender o impacto em maior escala.
Ainda assim Highan ressalta que “este estudo enfatiza que a pesca esportiva não é tão simples como remover o anzol e ficar tudo bem, mas que é um processo complexo que deveria ser estudado mais detalhadamente”.
O presidente da Confederação Brasileira de Pesca e Atividades Subaquáticas (CBPDS), Eduardo Paim Bracony defende que a medida mais efetiva é doar o que foi pescado. Já que soltar o peixe após pescá-lo não garante que ele continue vivo. “Ninguém pode afirmar que ele vai sobreviver”, afirma Bracony.
Revista Galileu, Brasil Mergulho, Ambiente Brasil, Megacurioso