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Não é de graça: Você sabe quanto você paga para usar o Facebook?

10 de abril de 2018
Postado por Rui Davi

O Facebook é um espaço que dá para fazer tanta coisa, são tantos conteúdos que acaba sendo viciante. E o melhor de tudo, é de graça!

Pera, será que é tudo free mesmo?

SEM LEGENDA

Apesar da frase na home do Facebook dizer: “É gratuito e sempre será”, a rede social contabilizou, entre Junho e Setembro de 2016, uma receita de U$ 7 bilhões, um aumento de 59% em relação ao ano anterior, segundo o site The Telegraph.

Com mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo, o Facebook abriu seu capital em 2012 valendo U$ 100 bilhões e nos últimos anos estava girando em torno dos U$ 538 bilhões, isso claro antes do gigantesco escândalo envolvendo o vazamento de dados dos usuários afetar o valor de suas ações.

Mas se não pagamos nada para acessar o site, como ele pode estar fazendo tanta grana?

A resposta é você.

Você é quem está ajudando o titio Zuck a tornar essa empresa tão lucrativa. Um vídeo do canal truTV explicou de forma muito bem humorada, e com vários efeitos especiais (no melhor estilo Matrix), como o Facebook consegue ganhar essa bufunfa toda.

De acordo com a produção, o sucesso incrível do Facebook se deve à extraordinária capacidade da rede de dar aos anunciantes a oportunidade de atingir exatamente o público-alvo desejado.

“O fator único sobre esses caras é a precisão com que eles podem ajudar anunciantes e marqueteiros a entender quem eles estão abordando. No Facebook, a sua informação é autêntica, eles são capazes de fazer os anúncios e sua experiência mais relevante. Eu acho que é sem precedentes e o alcance é incomparável.” – revela Arvind Bhatia, analista da Sterne Agee Financial Services para o site CNN.

De acordo com os documentos revelados na abertura do Facebook na bolsa de valores, cerca de 85% de sua receita é refente a publicidade e 15% vêm de pagamentos realizados nos aplicativos disponíveis dentro do site, sendo que 12% é proveniente apenas da Zynga, produtora de jogos como “FarmVille” e “Mafia Wars“, segundo o site CNN.

Conforme os usuários utilizam o site, eles fornecem gradativamente dados que irão formar um perfil cada vez mais completo de si mesmos. O Facebook vende essas informações, indiretamente, aos famintos anunciantes que pagam para publicar, de forma muito mais direcionada, seus anúncios na rede.

Nós até já falamos dos perigos dessa tática à nossa privacidade e à vida de uma maneira geral, já que os dados não são usados apenas para anúncios, mas para influenciar nosso comportamento. Tudo sobre o assunto polêmico, você encontra neste artigo.

Cada pessoa no Facebook funciona como um produto, com um valor agregado para a rede social. Alguns usuários mais assíduos valem mais, outros menos, assim, no terceiro trimestre de 2016 o Facebook lucrou com cada usuário em média US$ 4,01 (R$ 13), o que em um ano equivale a US$ 16,04 (R$ 54), segundo as informações da CNN.

Essa quantidade varia por região, nos EUA e Canadá, por exemplo, o valor médio do usuário no terceiro trimestre foi de US$ 15,65 (R$ 53). Já no “resto do mundo”, com exceção da América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico, esse valor fica em US$ 1,21 (R$ 4) por ano.

CNN Money, http://money.cnn.com/2012/02/02/technology/facebook_cash/

SEM LEGENDA

Exatamente, como eles fazem tanto dinheiro?

Quando você usa o Facebook, cada like que você dá, cada amigo que adiciona, páginas que curte e até as palavras no status que você publica, entre diversas outras coisas, são registradas, analisadas e adicionadas ao seu “perfil” de consumidor.

Com isso, a rede social pode traçar de forma muito detalhada seus hábitos e preferências de consumo.

Existem classificações de diversos tipo, algumas mais simples, como por exemplo se você gosta de ir à praia, até coisas como a sua tendência em assumir riscos na vida.

Se, por exemplo, você indica no perfil um doutorado em uma boa faculdade e curte páginas de marcas de roupas caras ou de carros luxuosos, isso pode indicar o seu poder aquisitivo e quanto está disposto a gastar. Se quiser saber com detalhes tudo o que eles sabem sobre a sua vida, basta clicar aqui.

Então, os anúncios segmentados funcionam mostrando propagandas, de forma mais precisa possível, para quem realmente tem potencial para se tornar um consumidor da marca.

Assim, se você indica a sua cidade atual e muda seu status de relacionamento de solteiro para namorando, podem aparecer publicidades de lojas de presente locais ou restaurantes na região ideais para casais, por exemplo.

The Washington Post, https://www.washingtonpost.com/news/the-intersect/wp/2016/08/19/98-personal-data-points-that-facebook-uses-to-target-ads-to-you/?utm_term=.4c820e4f1799

Propagandas

O boca a boca virtual

Dan Rose, vice-presidente de parcerias e marketing de plataforma do Facebook, deu algumas explicações sobre o apelo dos anúncios no site. Ele diz que quando você curte algo e um dos seus amigos vê esse anúncio, eles verão seu nome naquele anúncio, isso transmite confiança.

Através de pesquisas da empresa Nielsen, parceira do Facebook, descobriu-se que quando o nome de um amigo está em um anúncio, existe mais de 60% de probabilidade da pessoa lembrar do anúncio e mais de quatro vezes mais chances de comprar o produto.

“Este é o boca a boca. Este é o boca-a-boca em escala. Isto é o que, como marqueteiros, nós sempre tentamos dominar e encontrar uma maneira de tirar proveito. E a web social está finalmente nos permitindo fazer isso”, diz Dan Rose para o site CNN.

Onde mora o perigo

Desde o começo da internet a tendência foi de que os usuários preferiam usar serviços grátis, do que pagar por eles.

Como resultado, os sites precisaram vender propagandas para fazer dinheiro, então começaram a fazer anúncios direcionados, baseados em nossas preferências, monitorando nossas ações em troca do serviço que usamos de graça.

Então, se você viu uma propaganda e depois compra um produto, a campanha foi bem sucedida. Assim, é possível determinar quem é mais vulnerável à publicidade e bombardeá-lo com mais anúncios, numa forma extremamente invasiva de persuasão.

O perigo agora é que não sabemos até onde o Facebook vai com nossas informações, já que eles registram quais propagandas vemos e depois sabem o que compramos em outros sites, pois continuam seguindo nossos passos até fora da rede social, como mostramos aqui no SOS.

Em nosso artigo citado acima, há provas de que eles tem acesso a toda nossa vida virtual, como imagens e áudio da webcam, fotos e arquivos já deletados e inclusive e-mails enviados e recebidos, mesmo os de anos atrás. Já imaginou o quantidade de informações privadas suas, como senhas de banco, número de documentos, etc., podem estar circulando pela rede e os problemas que isso pode causar?

Em sua página sobre a privacidadeo Facebook explica que trabalha duro para proteger nossas informações e deixa claro que nunca vende dados de usuários. Mas levando em conta as últimas notícias, revelando que mais de 80 milhões de usuários tiveram suas informações privadas “vazadas”, talvez seja preciso trabalhar um pouco mais duro, não é mesmo?

Valleywag, http://valleywag.gawker.com/senate-says-data-brokers-are-the-dark-side-of-american-1486752013

SEM LEGENDA

Dados remunerados

O professor de direito da Universidade Columbia, Tim Wu disse à revista The New Yorker que, “A maior inovação do Facebook não é a rede social, mas o fato de ter convencido as pessoas a darem muita informação em troca de quase nada. Se fossemos inteligentes, pediríamos ao Facebook que nos pagasse.”

Realmente existem alguns clamores para que os usuários sejam pagos pelas informações que cedem e o tempo gasto usando o site. Contudo, se fossem pagar todos os usuários no mundo, o Facebook daria um pagamento de cerca de pouco menos de cinco centavos por dia, o que não é lá muita coisa.

Pelo jeito, ainda estamos um pouco distantes de receber alguma coisa pelas nossas informações e, pelo menos por enquanto, vamos ter que nos contentar em pagar os benefícios da rede social com a invasão da nossa privacidade.

Mas até quando?

The Guardian, The Telegraph, Uol Tecnologia, Tecmundo, CNN, Youtube truTV, Adweek, Exame

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