OnlyFans: Vender ‘Nudes’ na internet virou uma tendência em tempos de ultra exposição
Ver nudes na web acaba de alcançar um novo patamar. Não que faltassem meios para visualizá-las: além do Whatsapp, Facebook, Instagram e Snapchat têm opções de conversas privadas onde a circulação de nudez é livre, apesar de vetadas em postagens abertas. A questão é que agora uma nude pode render dinheiro.
A rede social OnlyFans é uma plataforma na qual os próprios usuários cobram de seus seguidores um valor para que eles vejam seus conteúdos. O site não especifica que conteúdo deve ser compartilhado, mas não é difícil deduzir o que tem tido mais procura.
Qualquer pessoa pode fazer parte da comunidade. Boa parte dos adeptos são rapazes sarados, já com uma base de fãs que os segue no Instagram e que está disposta a pagar para ver mais do que é permitido lá.
Os rapazes então abrem um perfil no OnlyFans e estipulam um valor a partir de US$ 4,99; os mais badalados publicam fotos de nudez explícita, vídeos tomando banho, se masturbando e até transando.
Há a possibilidade de pagar para enviar e receber mensagens e dar gorjeta para um pedido atendido. O usuário pode ou não divulgar quantas pessoas pagam por suas nudes, e a quantidade é atualizada mensalmente. Da arrecadação final, o OnlyFans deposita na conta do dono do perfil 80% da receita que ele gerou.
O venezuelano Jose Javier tem 593 seguidores no OnlyFans pagando cada um dez dólares por mês, o que garante uma arrecadação mensal de quase 6 mil dólares, ou 20 mil reais. Ele não diz qual é sua profissão, mas promete conversar com seus seguidores, trocando dicas fitness ou “apenas para diversão”.
Alex Lederman tem 37 mil seguidores no Instagram, onde posta fotos com o filho e aparece no máximo sem camisa. No OnlyFans avisa que suas postagens não são adequadas para serem vistas no ambiente de trabalho.
O influencer Brandon Myers, que tem quase 200 mil seguidores no Instagram e participou de Bromans, reality show exibido na TV Britânica em 2017. Seu OnlyFans é um dos mais caros, custa US$ 25,99.
Outros rapazes aproveitam a audiência para expandir seus negócios.
O modelo Killian Belliard , que tem 403 mil seguidores no Instagram, divulga no OnlyFans o financiamento coletivo para um livro de nudes dele e de outros modelos, que dizem não ter relação com pornografia.
Alguns dos maiores faturamentos via Only Fans são de homens que já tem como profissão exibir o corpo.
O ator pornô Austin Wolf tem 5.063 seguidores que pagam US$ 9,99 por mês, somando incríveis 50 mil dólares por mês (cerca de R$ 175 mil) , isso tudo apesar dele ter extenso conteúdo erótico disponível gratuitamente na internet.
E se tem homens, também há mulheres no OnlyFans, apesar de em menor número, porém como taxas de adesão mais caras.
A modelo Carlie Jo, que posta no Instagram muitas fotos cobrindo os seios apenas com adesivos, no OnlyFans ela avisa que o conteúdo é para maiores de 18 anos; para ver é preciso desembolsar 40 dólares mensais.
Já a atriz pornô Gianna Michaels tem seu próprio site além da página no OnlyFans, e cobra 20 dólares por seu conteúdo.
Apesar de estar fazendo barulho nas redes sociais, a plataforma ainda não caiu no gosto dos brasileiros, muito provavelmente por conta do custo alto convertido para reais. Entre os “exibidos”, o único vindo daqui que encontramos foi Diego Barros, empresário, modelo e blogueiro que mora atualmente em Londres.
Videos e imagens explícitas de Diego, e de outros rapazes adeptos ao OnlyFans, circulam pelo Google, além de Twitter e Tumblr, ambas redes sociais que não vetam nudez.
O OnlyFans não tem proteção contra vazamento de conteúdo, e alguns usuários reforçam que o material publicado é protegido por direitos autorais e “você não tem permissão para usar, copiar, reproduzir, imprimir ou exibir em público”. E caso o faça, “haverá ações legais”, diz a notificação disponível em algumas páginas.
Além das próprias nudes, tem quem comercialize a imagem dos outros. O fotógrafo francês John Hart usa o OnlyFans para divulgar seu trabalho exclusivo na plataforma, o projeto “The Male Nude and the Quest for Perfection” (“A Nudez Masculina e a Busca por Perfeição”, em tradução livre), que pode ser visualizado por US$ 14,99 por mês.
Apesar de se tratar de ensaios profissionais, ele não foge ao apelo dos outros usuários: em suas fotos os modelos aparecem nus, inclusive com o pênis ereto em alguns cliques. Hart não considera o trabalho pornográfico, e prefere se referir a ele como “arte erótica”. As imagens que publica no OnlyFans são todas inéditas.
“O público paga para ver um conteúdo com seus modelos favoritos que nem todo mundo pode ver”, explica ao SOS.
Sobre os modelos fotografados por Hart, alguns recebem cachê e outros posam “pelo prazer de mostrar seus corpos musculosos e seus atributos masculinos”, diz ele. Em relação aos rapazes com seus próprios perfis onde compartilham nudez, Hart diz:
“Eles fazem pelo prazer de se exibir, e para fazer dinheiro fácil sem sair de casa. Pelo menos eu uso (o OnlyFans) para conseguir dinheiro fácil e investir no meu trabalho. É um mercado lucrativo para atores pornôs e modelos que não são muito famosos. Eles têm atributos e os exploram enquanto são jovens e belos. Nós sabemos o que faz o mundo girar: dinheiro e o sexo”.
Em entrevista ao SOS, a psicóloga Claudia Garcia diz que o OnlyFans “reflete bem o que vivemos culturalmente nos nossos dias: uma sexualidade de qualidade bastante exibicionista e voyerista”.
“Do ponto de vista da Psicanálise, sexualidade não resume-se exclusivamente ao ato sexual propriamente dito, mas a todas as manifestações e percepções eróticas relacionadas ao corpo e às fantasias. A plataforma estabelece uma relação altamente prazerosa.
De um lado, alguém exibindo seu corpo, sabendo-se desejado e manipulando o olhar do outro para si. E de outro, o prazer de observar ‘secretamente’, realizando a fantasia de possuir o outro sem se preocupar em ter relacionamento de fato. O prazer destes indivíduos está fixado em olhar e ser olhado”
Para a socióloga Clarice Catenaci, esta relação não foge à realidade.
“As relações contemporâneas já hipersexualizam indivíduos, e as redes sociais assumem este caráter. A interação via internet, independente da situação, reflete as relações já estabelecidas em sociedade, que também acontecem em uma perspectiva de rede e podem ser tão informais quanto no ambiente virtual”, explica.
Ela destaca que encarar plataformas como o OnlyFans com tabus traz ainda mais estigmas para a questão, mas é importante conhecer os limites que cada um coloca para si mesmo.
“Sacralizar o sexo ou transformar a nudez em um perigo não combate a estigmatização sobre o corpo, mas vale discutir até que ponto uma exibição de caráter sexual concretizada em redes sociais é feita sem conter traços de exploração, e está segura de violação.”.
Apesar da ultra exposição, curiosamente, nenhum modelo citado respondeu nosso contato.