“O que aprendi durante um ano na seca”
Sim, é tempo pra caramba!
Algo que não planejei e que foi menos difícil do que eu imaginava. Pensava ter uma dependência bem maior de beijos na boca, abraços ou de uma boa trepada semanal. Me surpreendi.
Tudo começou quando tive a crise depressiva mais violenta da minha vida. Pensei, pela primeira vez, em suicídio. O desespero de quem se encontra nesse estágio é tamanho que queria “matar” a dor a qualquer custo. Decidi procurar ajuda, antes que perdesse o resquício de sanidade que me restava.
Mergulhei na terapia e nos remédios controlados – que eu sempre abominei, mas que naquele momento, eram mais que necessários pra eu dar conta de levantar da cama, tomar banho todos os dias, comer e trabalhar.
Eu até queria me envolver com alguém. Sentia falta de uma pessoa mais próxima com quem tivesse intimidade e que pudesse me ajudar nesse processo, porém não tinha estrutura emocional alguma pra receber alguém na minha vida.
Estava transtornada, irritadiça, debilitada, prostrada vendo os dias passarem, incapaz de reagir ao menor estímulo. Decidi que só procuraria uma parceria quando estivesse mentalmente saudável.
Os meses se passaram e eu fui recuperando a consciência, à medida que conseguia assimilar as lições que tanto a depressão quanto o meu “celibato involuntário” me fizeram aprender.
Percebi inicialmente o óbvio – não preciso de outra pessoa pra viver. Oxigênio, água e alimento são imprescindíveis pra minha subsistência. Outro ser humano incompleto e cheio de neuroses como eu? Não mesmo.
Descobri vários prazeres além do contato físico sexual. Aos poucos, recuperei o hábito de cuidar do meu corpo: estou fazendo reeducação alimentar pra melhorar a saúde (já se foram doze quilos), fiz curso de automaquiagem e abandonei as roupas muito velhas e remendadas.
Me visto agora como alguém que se importa consigo mesma, e não como quem abriu o guarda-roupa no escuro e puxou o primeiro trapo do cabide. E atitudes simples como essas – que pra mim ainda demandam muito esforço, vale ressaltar – têm aumentado a minha autoestima de forma considerável.
Me tornei independente: vou ao cinema sozinha, tenho peito pra chegar em um restaurante gourmet e, em meio a casais apaixonados, pedir o melhor prato, saboreando a minha própria companhia. Já planejo um mestrado e quero reaprender a dirigir.
Desvendei minha própria sexualidade: pesquisei sobre o tantra, aprendi a me tocar e ter orgasmos sozinha (um ou vários). O vibrador se tornou um dos meus melhores amigos.
Passar tanto tempo sozinha me obrigou a voltar todas as atenções pra pessoa mais importante da minha vida: eu. Foi incrível descobrir a capacidade de ser autossuficiente. E como será maravilhoso dividir as minhas experiências com alguém que, futuramente, irá somar na minha vida. Ou melhor, multiplicar.
Sem se tornar peso, sem ter que “cuidar” de mim, sem nenhum compromisso de me tornar a mulher mais feliz do universo. Mesmo porque felicidade é um conceito individual, e a responsabilidade por torná-lo algo concreto é única e exclusivamente minha.
Ficar um ano sem ninguém me ensinou a ter o melhor relacionamento sério: comigo mesma.