A gente cresceu ouvindo que todas aquelas gulodices que tanto amamos fazem mal para saúde.
E agora, para confirmar de vez a teoria de que “mãe sabe o que fala”, o lance ficou mais sério. Acabaram de noticiar que a nossa amada Nutella pode causar, além de uns quilinhos a mais, câncer.

Mas por quê?
O famoso e delicioso creme de avelã com cacau foi alvo de um relatório da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), no qual é indicado que um de seus componentes pode ser cancerígeno.
Com essa notícia, 2016 nem pareceu tão horrível:
Supermarkets wanna ban nutella, because it may cause cancer???!! Wtf 2017 i had big hopes for you!! ????? pic.twitter.com/gludo7qcZY
— Sansho (@sanshodelaine) January 12, 2017
– [Chorando]
– Supermercados querem banir a Nutella por que ela pode causar câncer? Queporraéessa 2017, eu tinha grandes esperanças para você!!
Mas tem uns que estão com Nutella até que a morte os separe… literalmente.
Death by Nutella is how I want to go anyway. https://t.co/92cOBx1zXO
— Ines Helene (@inihelene) January 12, 2017
– Morte por Nutella é como eu quero ir de qualquer jeito mesmo.
E olhando a vida por esse ângulo, até que faz sentido…
Everything gives you cancer.
We're all going to die.
Just have some Nutella and get over it. https://t.co/xM32sRzC1w— Jonathan Cheatham (@JonnyCheats) January 11, 2017
– Tudo te dá câncer. Todos nós vamos morrer. Só coma um pouco de Nutella e supere isso.
Entendendo a história: o óleo polêmico!
Segundo o site Daily Mail, para dar a consistência cremosa da Nutella, a fabricante Ferrero usa óleo de palma, também conhecido aqui no Brasil como azeite de dendê. Esse ingrediente, além de deixá-la mais cremosa, ainda aumenta bastante o tempo de conservação do creme.
Porém, o relatório da EFSA afirmou que o óleo de palma é mais carcinogênico do que qualquer outro em comparações com as demais constatações da OMS.
Óleo de palma ou azeite de dendê
E agora, Nutella?
De acordo com a publicação, a Ferrero se defendeu dizendo que o processo de refino do óleo de palma é realizado para minimizar a contaminação com os agentes nocivos. Esse procedimento seria para permitir que os níveis de “substâncias ruins” fiquem tão baixos a ponto de não ser possível detectá-los.
Após a descoberta, ainda segundo a publicação, os lucros da Nutella registraram uma queda de 3%. A Ferrero decidiu fazer uma campanha na televisão e no jornal para esclarecer que eles utilizam o óleo de palma de maneira que não oferece perigo para a saúde.
No comercial de TV exibido na Itália, o gerente de compras da Ferrero, Vincenzo Tapella, diz que não usar o tal óleo mudaria completamente o produto.
“Fazer a Nutella sem óleo de palma produziria um substituto inferior ao produto real, seria um passo atrás.”
Esse comercial já gerou críticas por parte de alguns políticos do país que exigem a proibição do uso do óleo de palma.
Contudo, o apelo não cita a questão financeira. Como o produto é o mais barato do mercado, mudar o ingrediente custaria de 8 a 22 milhões de dólares a mais por ano para a Ferrero, como informa o site Reuters.
SEM LEGENDA
O que tem de tão mal em refinar óleo de palma?
O refino é necessário para tirar a cor e eliminar o cheiro do óleo. Contudo, segundo o relatório da EFSA, essa técnica o torna mais nocivo do que qualquer outro óleo vegetal.
Nesse processo são liberadas substâncias conhecidas como GE (glycidyl fatty acid esters). Ao ser ingerida, ela se quebra e libera um composto chamado “Glicidol”, altamente associado à formação de tumores.
Segundo um estudo do National Institutes of Health (NIS) dos EUA, a ingestão por via oral do Glicidol originou tumores em diversos locais diferentes em ratos de laboratório.
O óleo além da Nutella
O óleo de palma não é exclusividade da Nutella. Ele está presente em diversos produtos industrializados, inclusive em cosméticos com rótulos que podem constar apenas “óleo vegetal”.
Entre esses produtos estão:
Pipoca de micro-ondas, chocolate em barra, batata frita industrial, sopas instantâneas, sorvetes, molhos de salada prontos, queijos, macarrão instantâneo, pizzas prontas e margarinas.
Ao que parece, o óleo “do mal” é bastante popular no supermercado.
Então, tudo que tiver o óleo vai me matar, inclusive nosso azeite de dendê?
O óleo de palma (ou azeite de dendê), como mostra o estudo da EFSA, só libera o GE no processo de refino, quando é aquecido a mais de 200° C.
Quando cozinhamos com o azeite de dendê, não esquentamos o óleo a mais de 200° C. Uma das receitas mais famosas preparada com azeite de dendê, o acarajé, aquece bastante o óleo, mas essa temperatura varia entre 176° C a, no máximo, 193° C, como mostra esse estudo da Universidade Federal da Bahia.
A receita, inclusive, recomenda regular a temperatura, justamente para que o azeite não perca as suas características, como coloração e cheiro. É até possível perceber que esses dois aspectos estão bem presentes no alimento.
O problema do óleo de palma é que quando ele é usado para fins industriais, refinado em altas temperaturas, perde sabor, cor e cheiro, e libera as substâncias nocivas.
Se essas substâncias estão presentes nos outros alimentos que contêm óleo de palma, somente futuros estudos poderão indicar. Contudo, como foi dito pela Ferrero, o óleo está presente na Nutella, mas o processo de refino usado por eles promete impedir a liberação de agentes nocivos.
Recomendação sem proibição
Apesar da polêmica com o relatório, a EFSA não tem a capacidade de vetar o uso do óleo. Ela pode apenas emitir uma orientação para os governos.
O mesmo alerta do risco de contaminação feito pela EFSA foi repercutido pela OMS e pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
Vale ressaltar que essas agências não pediram para os consumidores pararem de comer produtos com óleo de palma na composição, o que também não foi recomendado pela Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos.
Muito alarde para poucas evidências
Apesar do relatório e de todo o alarde feito sobre essa revelação, ainda temos poucas evidências concretas sobre os perigos do óleo de palma, já que as pesquisas sobre esse produto ainda são muito recentes.
Na verdade, existe a intenção de propagar “A polêmica da Nutella” por ser um alimento que muitas pessoas adoram, consomem ou vivem diariamente.
Como relembra o site Daily Mail, assim aconteceu quando foi noticiado os estudos que revelavam o “risco de desenvolver demência para quem mora perto de grandes estradas” ou o “risco de contrair câncer de intestino ao comer bacon“.
Risco relativo e risco absoluto
Esses perigos noticiados são referentes aos chamados “riscos relativos” que os estudos apontam ao praticar determinada atividade. Mas geralmente essas notícias não fazem menção ao “risco absoluto” de que tal atitude irá desenvolver uma doença.
Antes de julgar se alguma coisa é perigosa a partir do risco relativo, é preciso conhecer o risco absoluto. Por exemplo, no caso da demência causada por morar perto das estradas, o estudo indicava um risco relativo 12% maior para quem mora até 50 metros perto de uma rodovia.
Porém, pelo mesmo estudo é possível calcular que o risco absoluto de uma pessoa desenvolver demência, independentemente de onde ela mora, é de 11%. Então, se morar perto de uma estrada aumenta 12% o risco de demência, isso é apenas 1% a mais do que o risco absoluto indica.
Essa informação muda bastante o contexto para a interpretação da notícia.
Riscos maiores que o câncer
Além do risco de desenvolver câncer, existem outras grandes preocupações derivadas da indústria do óleo de palma. Segundo a ONG WWF, a plantação já desmatou grandes partes das florestas tropicais, principalmente na Indonésia e na Malásia, acabando com uma grande biodiversidade que vivia nesses locais.
Esses desmatamentos muitas vezes são feitos por meio de incêndios nas florestas, o que enche as regiões com poluição, aumentando também o efeito estufa no planeta, revela a ONG.
Como se isso não bastasse, um relatório publicado pela Anistia Internacional revelou que há evidências de que crianças a partir de 8 anos trabalham em condições perigosas,e muitas vezes em regime de escravidão nas plantações de palma na Indonésia.
Palavra final da Ferrero
Depois do barulho causado pela publicação da EFSA, um porta-voz da Ferrero defendeu a qualidade dos produtos da marca, alegou a preocupação com os consumidores e, claro, o “aval” da EFSA.
“A saúde e a segurança dos consumidores é uma prioridade absoluta para a Ferrero. É por essa razão que, há algum tempo, a Ferrero selecionou cuidadosamente matérias-primas e processos industriais que limitam a sua presença (das impurezas) a níveis mínimos, em plena sintonia com os parâmetros definidos pela EFSA”, disse o porta voz ao site Reuters.
Pelo visto, apesar do relatório e de toda a polêmica, a Ferrero não abre mão do uso do óleo de palma, do mesmo jeito que não conseguimos viver sem Nutella.
Então fica aquela máxima do Ministério da Saúde: Use com moderação.