Já é possível criar novas habilidades em poucas horas (e sem esforço!)

Com a falta de tempo do nosso cotidiano, aprender algo novo requer meses, anos. Mas há esperanças de que isso pode mudar. Pelo menos para algumas habilidades, como tocar músicas no piano e ler em Braille. Saiba mais.

Mobile Music Touch: a luva que ensina habilidades

Thad Eugene Starner é professor de Ciências da Computação do Instituto de Tecnologia da Geórgia, líder técnico no Google Glass e pioneiro em tecnologia wearable. Ele lançou o produto em 2010, chamando-o de “Mobile Music Touch”.

Basta o usuário vestir a luva high-tech e realizar movimentos usuais para que o próprio artefato capte os movimentos e refaça-os, a grosso modo, como gestos de tocar um piano.

Durante a apresentação do Mobile Music Touch, no Jornal da CNN, o apresentador do programa usou o seu computador pessoal, com a luva, por cerca de 44 minutos.

Depois que a retirou, se dirigiu a um piano e tocou uma música no piano — mesmo sem nunca ter aprendido o instrumento musical.

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Princípios fisiológicos

A luva fez o apresentador aprender uma música de forma passiva, com o auxílio da “memória muscular”, isto é, aprendizado háptico passivo.

Isso porque a tecnologia contém 5 vibradores minúsculos que são ligados a um microcontrolador no dorso da mão. Assim, o pesquisador programa disparos na mesma sequência com que os dedos tocam as teclas de um piano.

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Com esse mesmo princípio, cerca de 4 anos depois, Starner provou que podia fazer o mesmo para quem desejasse digitar em Braille e, surpreendentemente, entender textos em Braille. Logo, essa memória muscular também poderia ser aplicada ao cérebro e às funções cognitivas.

Como resultado da pesquisa, enquanto as pessoas deficientes visuais levam, em média, 4 meses para aprender, eles verificaram que podiam aprender em 4 horas.

Dessa forma, para essa habilidade, também basta vestir as luvas e realizar as atividades normais do dia a dia enquanto recebe as vibrações. Ao retirar o item, sem precisar pensar e fazendo um verdadeiro hack no cérebro, o conhecimento assimilado entra em ação.

Tecnologia a favor da acessibilidade

Ainda em relação a quem tem deficiência visual, uma empresa também já desenvolveu um smartwatch em Braille que lê mensagens, notícias, ebooks e todos os outros materiais que não foram adaptados para esse sistema de comunicação.

Também já foi criado até mesmo um tablet apropriado para essa população, com a superfície tátil. As elevações são pequenos pinos de plásticos implantados na tela.

Aplicações práticas da luva tecnológica

Depois da apresentação na CNN, uma pesquisadora também testou a luva com pacientes tetraplégicos portadores de lesões medulares incompletas — o que significa que, embora eles não tenham movimento nos membros superiores e inferiores, eles podiam ter alguma sensação.

Dessa forma, as vibrações da luva proporcionaram a aprendizagem háptica passiva e um dos pacientes, por exemplo, conseguiu tocar “Parabéns para você” no piano.

Outros projetos do cientista e sua equipe envolvem:

• implante de língua para dar voz a comandos silenciosos de um computador;
• colete inteligente para ajudar mergulhadores a se comunicarem com golfinhos;
• brinquedos de mastigar para ajudar os cães policiais a se comunicarem com os treinadores;

e outros aparatos tecnológicos iguais aos de ficção científica.

A luva já é realidade?

Sim e não. Empresas estrangeiras como HaptX, Manus e Teslasuit já comercializam tecnologias semelhantes.

As HaptX Gloves DK2, por exemplo, são utilizadas para que fabricantes de automóveis projetem e testem novos veículos com elas. As empresas também utilizam as luvas para controlar robôs à distância. Alguns dos seus benefícios são feedback tátil e realista, alta destreza e precisão no controle dos movimentos.

Essa tecnologia é semelhante à produzida por engenheiros da Escola Politécnica Federal de Lausanne e do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça. Ela interage com espaços replicados virtualmente.

Já a britânica Teslasuit trabalha não com uma luva, mas com uma vestimenta completa de feedback tátil. Com ela, os clientes podem treinar situações extremas (como incêndios), simular climas, acionar sensações e fazer reabilitação neurológica.

Teslasuit

O preço estimado da vestimenta, em versão de luvas, que está em andamento, é de US$ 5 mil. No Brasil, até o momento, não há nenhuma empresa que trabalhe com essas luvas tecnológicas.

Quando poderemos experimentar isso?

Embora já existam outros tipos de luvas tecnológicas no mercado, a luva específica para aprendizado háptico passivo ainda não está sendo comercializada.

A última atualização das pesquisas de Starner e colegas foi em 2018, então não é possível ter uma previsão de quando — e se — ela estará disponível para o público-geral.

Apesar da eficiência prática e cotidiana ter sido comprovada, a tendência mais esperada é a de aplicação na Medicina e, quem sabe, junto à segurança pública, com os cães farejadores.

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Quais os prós e contras?

A maior vantagem da tecnologia é a revolução que ela pode causar no campo da aprendizagem. Afinal, quem não gostaria de aprender música, um novo sistema de escrita e outras habilidades em alguns minutos e com baixo esforço?

Na área médica, ela pode evitar que pacientes neurológicos sofram queimaduras e outras intercorrências consequentes do prejuízo no tato.

No entanto, os estudos aparentemente caminham de forma bem lenta — seja porque provavelmente está restrita aos EUA ou porque, naturalmente, leva tempo para estudar seus efeitos.

Além disso, não sabemos quanto ela custa. Por isso, provavelmente, será realidade por bastante tempo apenas no exterior e entre as grandes instituições.

Embora a luva de aprendizado háptico passivo permita a aquisição de habilidades ao menor esforço, está levando bastante empenho dos cientistas para que ela seja completamente desenvolvida. Quanta ironia, não?

Enquanto isso, nos resta estudar do jeito raíz, não é mesmo?

Fonte(s): Youtube - Thad Starner, FastCompany, IEEE Spectrum, Haptx, Correio Braziliense, Techcrunch, Youtube - Tech Square ATL, Youtube - IpaT Georgia Tech