Falar sobre o ciclo de produção, consumo e descarte de plástico é sempre polêmico. De um lado, temos o consumidor que, em inúmeras situações definitivamente não tem alternativas sustentáveis à mão (especialmente por razões econômicas); e do outro lado temos a indústria que continua optando pelo uso em larga escala do plástico (descartável), financeiramente mais viável.
Mas até que ponto essa situação cômoda, tanto para consumidores quanto para as grandes empresas, pode continuar até que o planeta vire um abismo sem fim de poluentes plásticos?
É claro que iniciativas individuais, como evitar ao máximo o uso de embalagens plásticas e recusar comprar produtos que envolvam o material são importantes e necessárias – já até demos várias dicas aqui no SOS sobre como viver com menos plástico, como essas:
Entretanto precisamos ser realistas e concordar: além de não ser suficiente, essa não é a raiz da questão!
Um problema tão complexo como o acúmulo gigantesco de lixo plástico precisa de soluções de igual proporção – isso porque já estima-se que até 2050 os oceanos terão mais plásticos do que peixes. E o ponto chave disso são as indústrias que produzem esse material, das mais variadas formas.
O movimento Break Free From Plastic (Liberte-se do plástico) publicou um relatório em 2018 que aponta as empresas Coca-Cola, PepsiCo e Nestlé como as que mais poluem os oceanos com plástico.
Em setembro de 2018 voluntários realizaram mais de 200 ações de limpeza nas costas de 42 países e recolheram quase 190 mil objetos plásticos – 65% disso era vindo de grandes corporações mundiais, a maior parte da Coca-Cola. PepsiCo e Nestlé. Um número alto de embalagens Danone e Colgate-Palmolive também foi encontrado.
As empresas que mais poluem o planeta com plástico.
“Mas quem descarta esse material é o indivíduo, as empresas só colocam no mercado”
…você pode estar pensando. E eu te respondo: sim, e não. As mudanças individuais não têm tanto impacto na cadeia global como um todo. Com dito, o maior problema está na produção – falamos mais nesse artigo.
Um exemplo prático: a Coca-Cola (bebida) é o produto mais vendido em todo o mundo, são quase 2 bilhões de unidades comercializadas todos os dias. Se uma empresa desse porte adota o uso de embalagens sustentáveis, os efeitos seriam gigantescos. E é justamente isso o que não tem acontecido.
O que acontece hoje: embalar produtos com plástico é mais prático e muito mais barato, ou seja, mais rentável. Como as multinacionais se adaptaram totalmente a essa produção, pensar qualquer mudança nesse sentido pode gerar custos incalculáveis – tudo o que os acionistas não querem.
Isso aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial, quando a indústria petroquímica viveu grande expansão, desenvolvendo dezenas de novos materiais plásticos, como os de uso único. Economias de escala tornaram o material muito barato quando fabricado em grandes quantidades.
Soma-se a isso o fato de nós, consumidores, por questões financeiras ou por puro hábito, ainda não termos adotado uma postura rígida de cobrança por embalagens e meios sustentáveis de produção na indústria.
Algumas iniciativas dos governos visam amenizar determinados efeitos. No Brasil, por exemplo, várias cidades e até estados já proibiram o uso de canudos plásticos no comércio local; mas esse movimento ainda é muito tímido – e demanda bastante discussão.
O que fazer, então?
Além do básico (eliminar o plástico do seu dia a dia em tudo que for possível), precisamos ir além: adotar uma firme postura de cobrança tanto para que as empresas revejam suas políticas de produção, quanto para que os governos estabeleçam medidas regulatórias que atinjam a fonte de produção de lixo plástico no mundo.
Não dá para simplesmente esperar que haja adesão voluntária da indústria nesse processo.