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“Minha vida é uma Bagunça” – Desabafo de um solteiro

13 de fevereiro de 2014
Postado por Dario

 

Texto por Rafael Soal

bagunça-bela-tentativa-mas-eu-vou-dormir

…e é aí que você acorda ligeiramente atrasado em cima da cama de solteiro com uma de suas mãos agarradas ao violão. Sim. O violão dormiu na mesma cama de solteiro que você. Sem motivo algum, porque você não sabe tocar. Mas a bunda do violão acorda em cima da manga verde de uma blusa suja e amarrotada que, por sua vez, acorda embaixo da toalha ainda úmida do banho da noite anterior que, por sua vez, esconde o rádio-relógio que se recusou a tocar. Tudo isso em cima da sua cama. Junto com você.

Aí você se levanta assustado e coloca o pé esquerdo no chão (achou mesmo que ia se levantar com o pé direito?). Automaticamente, ele se liga ao cobertor que caiu durante a noite porque estava invadindo o espaço que era do violão. E o cobertor se liga ao saco preto de lixo aberto, sem lixo nenhum, porque o que era pra estar dentro dele está espalhado por toda a casa. Aí você coloca a sua cara diante do espelho ao escovar os dentes e não se reconhece: “quem é você no espelho? Como chegou aqui? E essa casa, de quem é?”

Então você finalmente acorda no caminho para o serviço, em pé dentro do ônibus. Esse cara é você e aquela imundice é a sua casa. Se é que dá pra chamar aquilo de casa, uma zona, tal qual o dono. Dizem que o seu quarto é uma ligação material entre você e o seu interior. Seu quarto tá uma zona? Olha pra dentro de você por 5 minutos: certeza que você também tá uma zona. Só que quarto é quando você vive em grupo ou em família. Quando se mora sozinho, a casa inteira é o seu quarto. E, no caso acima, a sua casa inteira tá uma zona.

Igual a você.

jennifer-lawrence

Aí você passa o dia inteiro morrendo de vergonha da zona em que você est… digo, da zona em que a casa está. E se lembra das últimas visitas que passaram por lá e tiveram que ouvir dessa boca cansada “desculpa pela bagunça, dizem que a casa é o reflexo interior do seu dono”. É claro que isso é um pedido de socorro travestido. Mas nenhuma se importou tanto em perguntar “o que está acontecendo? me conta!”… depois de tanta vergonha, sacode a cabeça e jura de pé junto que, ao sair do serviço, vai direto pra lá dar amor pr’aquelas paredes que andam tão maltratadas. Até as paredes precisam de amor. E de presentes.

Passa no supermercado e compra aqueles produtos de limpeza bem maravilhosos; verdes ofuscantes, rosas que prometem cheiro de bebê etc etc – “não importa, hoje vai ter amor naquela casa!”, você se consola, ao ver no extrato, a grana que pagou pelo jantar à luz de velas.

E chega em casa determinado. Tira a roupa e pega uma bem levinha, apronta as vassouras, baldes e panos e até ajeita o cabelo. Vai passar a noite inteira fazendo amor com a própria casa. Porque o amor é bom. Quando se tem amor ou se faz amor, tampouco importam os problemas lá fora.

O amor é um banho quente depois de um dia sofrido.

coelho banheira

Tudo pronto, você pode dormir em paz novamente. Sem violão dessa vez, só você e o cobertor, porque ele cedeu espaço pra você dormir com o violão. Que também precisa de amor. E você recosta a sua cabeça no travesseiro e diz “agora está tudo bem”. Porque uma casa arrumada dá a ilusão que seu interior está arrumado. E você pode voltar a crer que tudo isso não passa de uma fase, logo vai chegar alguém pra dividir essas despesas todas, logo você vai ganhar mais dinheiro e a vida vai ser feita só dessa paz.

Até a vontade de acordar mais cedo volta com a casa limpa! Uma mágica acontece de repente e você se sente inspirado em ficar de pé 15 minutos mais cedo que o habitual, só pra ir pra cozinha e fazer aquele café caro que comprou no fim de semana, também preparar a mesa, as xícaras, os biscoitos e o pão quentinho – pra ninguém.”

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