Parece estranho, mas alguns cientistas têm apostado na possibilidade de que a postura de sua lÃngua está relacionada diretamente com o formato do seu rosto (principalmente do maxilar). Entenda a seguir.
Os resultados dos estudos mais recentes indicam ser possÃvel alterar a estrutura da face somente mudando a maneira como descansamos a lÃngua. É o que defende o Dr. John Mew, idealizador do método Ortotrópico junto a seu irmão Mike Mew que, devido ao sobrenome de ambos, leva o nome de “mewing“.
Os irmãos discutem e buscam comprovar a eficácia do tratamento no canal Orthotropics, como uma maneira de tornar o debate mais acessÃvel para o público.
O método foi criado em 1966, e tem como finalidade fazer com que o maxilar “volte para o lugar”, o que proporciona uma arcada dentária muito melhor distribuÃda e, consequentemente, um rosto mais bonito.
Imagens de resultados do tratamento dos Drs. John e Mike Mew.
Como funciona o tratamento ortotrópico (mewing)
A premissa do tratamento é bem simples: muitas pessoas têm o hábito de respirar pela boca e de descansar a lÃngua atrás dos dentes de baixo (já que a boca se mantém aberta).
A longo prazo, essa posição da lÃngua pode fazer com que os ossos do maxilar se movimentem “para dentro”, entortando os dentes e diminuindo o queixo. Além disso, manter a lÃngua longe do palato pode contribuir para problemas respiratórios e apneia do sono.
Assim, a principal atividade realizada pelo paciente em um tratamento ortotrópico seria de posicionar a lÃngua corretamente dentro da boca: ela deve permanecer atrás dos dentes superiores, pressionada contra o palato (ou “céu da boca”).
Sabendo que tudo se trata de uma questão de hábito, o método é inserido aos poucos. Quanto mais o paciente conseguir manter a boca fechada ao respirar, principalmente enquanto dorme, melhores serão os resultados.
Mewing em crianças.
Isso realmente funciona?
O principal argumento para a defesa do tratamento parte de estudos que afirmam que, mesmo na idade adulta, o desenvolvimento do esqueleto facial não está completo.
Embora muitos possam achar que a prática só funciona com crianças, o Dr. Felix Liao, em seu livro “Six-Foot Tiger, Three-foot cage” (“Tigre grande demais para uma jaula pequena”, em tradução livre) afirma que é possÃvel alterar a estrutura da face mesmo na idade adulta.
Outros cientistas também defendem essa posição, como Vincent G. Kokich, no artigo “The Biology of Sutures” (“A Biologia das Suturas”), encontrado neste livro, e em outra de suas publicações: “Age changes in the human frontozygomatic suture from 20 to 95 years” (“Mudanças em suturas frontozigomáticas dos 20 aos 95 anos”) .
Os dados dessas pesquisas, até o momento, mostram que certas suturas só se fecham completamente por volta dos 68 até os 72 anos de idade. Esses dados são muito animadores para os cientistas que defendem o tratamento ortotrópico.
O professor G. Dave Singh, neste artigo, mostra mudanças significativas na estrutura craniana de pacientes jovens. Ao todo, 12 adultos de 19 a 26 anos participaram do estudo, que permitiu identificar mudanças significativas em suas mandÃbulas ao final do tratamento.
O mewing substitui o uso de aparelhos ortodônticos?
Manter a lÃngua no céu na boca pode contribuir para alargar a arcada dentária. No entanto, embora o tratamento ajude a obter mudanças a longo prazo – o que inclui o perÃodo pós aparelho ortodôntico -, isso não quer dizer que ele seja um substituto. O que ele pode fazer é ajudar a impedir que os dentes voltem a entortar.
Como prova disso, o vÃdeo do canal “What I’ve Learned” (“O que aprendi”) salienta que, para obter os resultados mostrados pelos cientistas da Orthotropics, um dispositivo foi usado na boca para pressionar o crânio. Assim, a prática de manter a lÃngua “encaixada” no palato pode servir como um método adicional, mas não o único.
Para endireitar os dentes, o aparelho ainda é a melhor opção.
Nossos hábitos podem mudar nossa aparência fÃsica?
Por outro lado, os dentes tortos podem ter causas mais abrangentes do que a genética – e estão relacionados a hábitos de vida.
Segundo o Dr. Kevin Boyd, relatos de dentes tortos eram muito mais raros na época pré-industrial e também em fosseis encontrados da pré-história. Além disso, indivÃduos nascidos em sociedades não ocidentais também tendem a ter dentes mais retos. As imagens abaixo são do livro Nutrition and Physical Degeneration (Nutrição e Degeneração FÃsica):
Dentes de moradores de região mais afastada vs. de crianças habitantes de áreas industriais
Isso quer dizer que nossos hábitos alimentares – bem como respirar de boca aberta (alergias, etc.) – podem contribuir de maneira significativa para uma má formação da mandÃbula.
É com base nesses estudos que o tratamento alternativo, baseado na mudança de hábitos, pode contribuir, ainda que a longo prazo, para impedir que a mandÃbula pareça retraÃda ao longo dos anos.
O que os estudos brasileiros dizem sobre o mewing?
Se você já clicou nos links, percebeu que citamos, até agora, somente artigos de especialistas estrangeiros. De fato, não existe uma gama muito ampla de estudos brasileiros sobre o tema. No entanto, especialistas em bucomaxilo como a Dra. Maximiana Maliska alertam para possÃveis benefÃcios – e riscos.
Segundo a cirurgiã, a prática de manter a lÃngua encostada no palato e fazer exercÃcios para fortalecer sua musculatura pode, de fato, modificar tecidos moles (ou seja, os próprios músculos). No entanto, para a especialista, o mesmo não se aplica aos ossos da face.
Para ter mudanças drásticas no rosto, portanto, ainda é necessário recorrer ao uso de aparelhos ortodônticos e cirurgias bucomaxilofaciais. Maliska também aponta para o perigo de “apertar” os dentes uns nos outros para fortalecer o maxilar: a longo prazo, a prática pode levar a problemas com bruxismo – e, ao tentar resolver um “problema”, você pode criar outro.
Em uma entrevista ao Sorrisologia, a cirurgiã-dentista Rhiana Barreto alerta para a falta de comprovação cientÃfica da técnica, especialmente em adultos. Segundo a especialista, a prática ainda não tem a evidência necessária para comprovar seu sucesso em todos os casos.
Segundo Barreto, “deve-se ter cuidado ao realizar técnicas envolvendo a musculatura facial, pois quando realizadas incorretamente, podem provocar dores musculares e articulares”. A cirurgiã também cita possÃveis problemas envolvendo bruxismo.
Se você terminou este artigo pensando “e agora, pratico mewing ou não?”, a resposta é uma só:
Consulte um dentista.
O máximo que pode acontecer é o profissional indicar outro método para alcançar o tão sonhado resultado.