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Mewing: como a língua pode me tornar atraente (ou feio)

Não é zoeira.

Ariane Barrocal Velasco Publicado: 12/05/2021 10:41 | Atualizado: 12/05/2021 10:50

Parece estranho, mas alguns cientistas têm apostado na possibilidade de que a postura de sua língua está relacionada diretamente com o formato do seu rosto (principalmente do maxilar). Entenda a seguir.

 

Os resultados dos estudos mais recentes indicam ser possível alterar a estrutura da face somente mudando a maneira como descansamos a língua. É o que defende o Dr. John Mew, idealizador do método Ortotrópico junto a seu irmão Mike Mew que, devido ao sobrenome de ambos, leva o nome de “mewing“.

Os irmãos discutem e buscam comprovar a eficácia do tratamento no canal Orthotropics, como uma maneira de tornar o debate mais acessível para o público.

O método foi criado em 1966, e tem como finalidade fazer com que o maxilar “volte para o lugar”, o que proporciona uma arcada dentária muito melhor distribuída e, consequentemente, um rosto mais bonito.

Imagens de resultados do tratamento dos Drs. John e Mike Mew.

 

Como funciona o tratamento ortotrópico (mewing)

A premissa do tratamento é bem simples: muitas pessoas têm o hábito de respirar pela boca e de descansar a língua atrás dos dentes de baixo (já que a boca se mantém aberta).

A longo prazo, essa posição da língua pode fazer com que os ossos do maxilar se movimentem “para dentro”, entortando os dentes e diminuindo o queixo. Além disso, manter a língua longe do palato pode contribuir para problemas respiratórios e apneia do sono.

Assim, a principal atividade realizada pelo paciente em um tratamento ortotrópico seria de posicionar a língua corretamente dentro da boca: ela deve permanecer atrás dos dentes superiores, pressionada contra o palato (ou “céu da boca”).

Sabendo que tudo se trata de uma questão de hábito, o método é inserido aos poucos. Quanto mais o paciente conseguir manter a boca fechada ao respirar, principalmente enquanto dorme, melhores serão os resultados.

Mewing em crianças.

 

Isso realmente funciona?

O principal argumento para a defesa do tratamento parte de estudos que afirmam que, mesmo na idade adulta, o desenvolvimento do esqueleto facial não está completo.

Embora muitos possam achar que a prática só funciona com crianças, o Dr. Felix Liao, em seu livro “Six-Foot Tiger, Three-foot cage” (“Tigre grande demais para uma jaula pequena”, em tradução livre) afirma que é possível alterar a estrutura da face mesmo na idade adulta.

Outros cientistas também defendem essa posição, como Vincent G. Kokich, no artigo “The Biology of Sutures” (“A Biologia das Suturas”), encontrado neste livro, e em outra de suas publicações: “Age changes in the human frontozygomatic suture from 20 to 95 years” (“Mudanças em suturas frontozigomáticas dos 20 aos 95 anos”) .

Os dados dessas pesquisas, até o momento, mostram que certas suturas só se fecham completamente por volta dos 68 até os 72 anos de idade. Esses dados são muito animadores para os cientistas que defendem o tratamento ortotrópico.

O professor G. Dave Singh, neste artigo, mostra mudanças significativas na estrutura craniana de pacientes jovens. Ao todo, 12 adultos de 19 a 26 anos participaram do estudo, que permitiu identificar mudanças significativas em suas mandíbulas ao final do tratamento.

 

O mewing substitui o uso de aparelhos ortodônticos?

Manter a língua no céu na boca pode contribuir para alargar a arcada dentária. No entanto, embora o tratamento ajude a obter mudanças a longo prazo – o que inclui o período pós aparelho ortodôntico -, isso não quer dizer que ele seja um substituto. O que ele pode fazer é ajudar a impedir que os dentes voltem a entortar.

Como prova disso, o vídeo do canal “What I’ve Learned” (“O que aprendi”) salienta que, para obter os resultados mostrados pelos cientistas da Orthotropics, um dispositivo foi usado na boca para pressionar o crânio. Assim, a prática de manter a língua “encaixada” no palato pode servir como um método adicional, mas não o único.

Para endireitar os dentes, o aparelho ainda é a melhor opção.

 

Nossos hábitos podem mudar nossa aparência física?

Por outro lado, os dentes tortos podem ter causas mais abrangentes do que a genética – e estão relacionados a hábitos de vida.

Segundo o Dr. Kevin Boyd, relatos de dentes tortos eram muito mais raros na época pré-industrial e também em fosseis encontrados da pré-história. Além disso, indivíduos nascidos em sociedades não ocidentais também tendem a ter dentes mais retos. As imagens abaixo são do livro Nutrition and Physical Degeneration (Nutrição e Degeneração Física):

Dentes de moradores de região mais afastada vs. de crianças habitantes de áreas industriais

Isso quer dizer que nossos hábitos alimentares – bem como respirar de boca aberta (alergias, etc.) – podem contribuir de maneira significativa para uma má formação da mandíbula.

É com base nesses estudos que o tratamento alternativo, baseado na mudança de hábitos, pode contribuir, ainda que a longo prazo, para impedir que a mandíbula pareça retraída ao longo dos anos.

 

O que os estudos brasileiros dizem sobre o mewing?

Se você já clicou nos links, percebeu que citamos, até agora, somente artigos de especialistas estrangeiros. De fato, não existe uma gama muito ampla de estudos brasileiros sobre o tema. No entanto, especialistas em bucomaxilo como a Dra. Maximiana Maliska alertam para possíveis benefícios – e riscos.

Segundo a cirurgiã, a prática de manter a língua encostada no palato e fazer exercícios para fortalecer sua musculatura pode, de fato, modificar tecidos moles (ou seja, os próprios músculos). No entanto, para a especialista, o mesmo não se aplica aos ossos da face.

Para ter mudanças drásticas no rosto, portanto, ainda é necessário recorrer ao uso de aparelhos ortodônticos e cirurgias bucomaxilofaciais. Maliska também aponta para o perigo de “apertar” os dentes uns nos outros para fortalecer o maxilar: a longo prazo, a prática pode levar a problemas com bruxismo – e, ao tentar resolver um “problema”, você pode criar outro.

Em uma entrevista ao Sorrisologia, a cirurgiã-dentista Rhiana Barreto alerta para a falta de comprovação científica da técnica, especialmente em adultos. Segundo a especialista, a prática ainda não tem a evidência necessária para comprovar seu sucesso em todos os casos.

Segundo Barreto, “deve-se ter cuidado ao realizar técnicas envolvendo a musculatura facial, pois quando realizadas incorretamente, podem provocar dores musculares e articulares”. A cirurgiã também cita possíveis problemas envolvendo bruxismo.

Se você terminou este artigo pensando “e agora, pratico mewing ou não?”, a resposta é uma só:

Consulte um dentista.

O máximo que pode acontecer é o profissional indicar outro método para alcançar o tão sonhado resultado.

Fonte(s): What I've Learned | YouTube, What I've Leaned | Transcrição do vídeo (com links dos artigos)
Ariane Barrocal Velasco
Estudante de filosofia e redatora. Quando não está lendo, está escrevendo.

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