Maconha: Os riscos do consumo excessivo de Cannabis
Nós já sabemos que a maconha ajuda no tratamento de dores crônicas, problemas digestivos, doenças específicas, como a doença de Crohn, e até mesmo o câncer e HIV. E também sabemos que a maconha causa relaxamento e, por isso, muita gente usa por conta própria.
Com cada vez mais estados americanos legalizando a maconha, a National Academies of Sciences, Medicine and Engineering analisou, em um estudo super abrangente de quase 400 páginas, se o que conhecemos sobre a maconha até agora é mesmo real.
Esse trabalho revisou várias pesquisas anteriores, tanto sobre malefícios como benefícios, e aquelas certezas que nós tínhamos podem não estar tão corretas assim.
Causa câncer?
A maior preocupação quando se fala dos cigarros de tabaco é que eles causam câncer. Mas e a maconha?
Em 2005, o International Journal of Cancer fez seis estudos de acompanhamentos de caso e não identificou nenhuma relação entre o uso de maconha e câncer de pulmão. Em 2015, outros nove estudos de acompanhamentos foram feitos, dessa vez focando em câncer de cabeça e pescoço, mas igualmente não encontraram relação.
Então fumar maconha não representa risco de câncer? Calma que agora vêm as más notícias…
Os pesquisadores revisaram três estudos de 1990 (considerado “limitado”, pois foi feito com os equipamentos e conhecimentos da época) e descobriram que quem fuma muita maconha têm, sim, uma ligação forte com um tipo de câncer de testículo.
Não houve evidências de câncer de esôfago, próstata, coluna, pênis, bexiga ou linfoma. Também não surgiu nenhuma ligação entre modificações que a maconha poderia causar a óvulos ou espermatozóides, de modo a apresentar risco a filhos de fumantes. Mas a gente vai ver já, já que nem por isso maconha é uma boa ideia durante a gravidez.
Grávidas podem fumar?
Amiga, por mais que você curta, talvez seja uma boa ideia dar uma pausa até essa criança nascer. Isso porque a revisão de um estudo de 2016 apontou que bebês nascidos de mães que mantiveram os hábitos durante a gestação nasceram abaixo do peso, prematuros e precisaram passar pela UTI.
Apesar disso, o estudo não aponta má formação do neném, mudanças na circunferência da cabeça ou problemas posteriores ao parto.
E quanto às doenças do coração?
A gente sabe que cigarros comuns apresentam riscos cardíacos, mas essa ligação não fica tão clara no caso da maconha. Isso porque apenas dois estudos focaram no tema – enquanto um não achou nenhuma relação, o segundo sugere que fumar maconha pode ser um gatilho para ataques do coração na hora logo após o uso.
Porém, esse estudo se baseou em apenas nove pacientes, então os cientistas devem fazer mais testes antes de um veredicto.
Meu pulmão está seguro?
Ainda na linha de “se o cigarro de tabaco faz mal, maconha também deve fazer”, faz sentido nos preocuparmos com os pulmões. Mas aí é que fomos surpreendidos novamente.
Logo após fumar, na verdade, a maconha melhora a função pulmonar, segundo a revisão de um estudo de 2007.
Pode viajar… viajando?
Vai pegar a estrada fumando maconha? Os cientistas revisaram três estudos com evidências de outros 21 estudos, provenientes de 13 países e quase 240 mil participantes.
O que se descobriu é que pessoas que afirmaram terem usado maconha (ou as que disseram que não, mas os cientistas encontraram indícios de THC, o principal componente da Cannabis. Ops!) têm maiores chances de se envolver em um acidente.
O aumento é bem significativo, de 20 a 30%. Claro, quando falamos de acidentes no geral, e não apenas de trânsito, essa taxa se dilui.
Concentrado e atento?
E a memória e o poder de concentração, são afetados? Bom, há algumas evidências, de uma porção de estudos, de que memória e atenção são afetados pelas 24 horas posteriores ao uso da maconha.
Porém, isso não significa que os cientistas estabeleceram relação entre maconha e um pior rendimento no desempenho acadêmico, profissional ou social. Ou, mesmo, se esses efeitos se manteriam depois das 24 horas…
Corpo sã, mente sã?
Esse é um tema bemmm complicado! Os estudos mais recentes indicam correlação entre uso copioso de maconha e diagnósticos de psicose, especialmente esquizofrenia.
Os cientistas também avaliaram que o uso de maconha pode desencadear o transtorno bipolar. Além disso, os pacientes que fumava muito tinham mais pensamentos suicidas.
Uai, então por que vocês disseram que era um tema complicado? Porque não dá pra saber se os pacientes que fumam muita maconha têm mais propensão a problemas mentais, ou se pacientes com problemas mentais têm mais propensão a fumar muita maconha.
É mais ou menos a mesma dúvida de se maconha é a “porta de entrada” para outras drogas ou se as pessoas que já têm uma predisposição para curtirem o efeito “chapado” usarem tudo inclusive maconha. A causalidade não está bem definida.
Aliás, há poucos anos, saiu um estudo confirmando que na verdade o álcool é a porta de entrada para outras drogas.
Tabagismo passivo também vale para a maconha?
Fumar tabaco faz mal para você, mas também para os que estão em volta, já que a fumaça vai ser inalada por todos ao redor. E com a maconha, isso também é verdade?
Até agora, os estudos foram feitos apenas em ratos, então é difícil deliberar. Mas um estudo que demorou dois anos para ficar pronto, aponta que apenas um minuto de exposição pode ser suficiente para afetar o fluxo sanguíneo dos fumantes passivos por pelo menos 90 minutos.
Isso não quer dizer que a pessoa vá ficar “chapada” só por estar ao lado de um fumante, mas mostra que a maconha pode causar reações às pessoas em seu entorno.
Qual o medo? Que principalmente crianças que vivam em ambientes com usuários de maconha sofram modificações cerebrais. Entretanto, os pesquisadores acreditam que isso é mais provável de acontecer em adolescentes que fumam com frequência.
Então… tá liberado ou não?
Aqui é que vem a má notícia: apesar se não parecer, ainda existem poucos estudos sobre o uso da maconha. Os cientistas ainda estão descobrindo todas as propriedades da substância e suas consequências, positivas ou negativas, para o corpo humano.
Isso quer dizer que, por enquanto, você quem vai ter que colocar na balança o resultado das pesquisas e decidir se a maconha é mocinha ou bandida. E também fica aquela máxima: “tudo em excesso faz mal”.
Ah, vale lembrar que, independente de todos os resultados divulgados, o consumo recreativo de cannabis ainda é restrito no Brasil.