Fumar causa câncer e isso não é novidade para ninguém. Mas lá nos anos 60, apenas um terço dos médicos dos EUA acreditavam que o tabagismo poderia realmente estar associado a doença. Chocante, né?
E o pior de tudo é que as gerações futuras provavelmente terão esse mesmo choque quando analisarem nosso livre consumo de outro veneno: o açúcar.
TAN DAN DANNNN…! ?
Devido a falta de informação, milhares de fumantes acreditaram que não estava fazendo mal algum ao seu pulmão, e isso se deve ao investimento da monstruosa indústria do tabaco.
Robert Hockett, pesquisador estadunidense, foi contratado pelos “gigantes do cigarro” em 1954 para criar novas pesquisas que colocassem em dúvida os resultados de outros estudos que apontavam o tabagismo como um grande fator no desenvolvimento do câncer de pulmão.
Porém, o cientista também fez uso de seus conhecimentos para dar uma força à industria do açúcar, que começava a ter de enfrentar comprovações cientÃficas dos males que seu consumo trazia à saúde, como as cáries, por exemplo.
Como não podia negar a relação do “dentinho podre” ao consumo do açúcar, o pesquisar elaborava intervenções de saúde pública para diminuir o mal. Por exemplo, criava campanhas para as crianças escovarem mais os dentes, mas não falava nada para diminuÃrem o consumo do açúcar.
A verdade revelada
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, conhecidos por apontar a sujeirada da indústria açucareira, conseguiram recuperar antigos artigos comprovando que de doce a indústria do açúcar não tem nada.
Segundo o artigo, publicado pelos pesquisadores no site cientÃfico PLOS Biology, a Sugar Research Foundation (SRF), conhecida agora como Sugar Association (Associação do Açúcar), financiou em 1965 uma pesquisa que consistia e analisar estudos publicados no site cientÃfico New England Journal of Medicine e descartar aqueles que comprovavam uma associação entre o consumo do açúcar e doenças cardiovasculares.
Além disso, em 1970, a própria Sugar Association começou uma pesquisa para verificar essa informação, fazendo testes com animais. Porém, quando os primeiros resultados comprovavam que de fato o consumo de açúcar poderia levar à doenças cardiovasculares, eles cancelaram a pesquisa e proibiram qualquer publicação dos resultados.
Ou seja, além deles pagarem para darem um fim aos estudos já publicados que comprovavam os malefÃcios do açúcar à saúde, eles ainda cancelavam estudos que apontavam dados que iam contra o objetivo da indústria, ou seja, vender e lucrar, independente da saúde dos consumidores.
E continuamos sendo enganados
Para Stanton Glatz, um dos pesquisadores da Universidade da Califórnia, esse jeitinho de omitir ou confundir informações ainda acontece até hoje.
Um estudo de 2016, publicado no site cientÃfico de pesquisas sobre câncer Cancer Reseach, através de testes feito em ratos foi constatado que o consumo de açúcar favorecia o crescimento de tumores e metástases.
A Sugar Association, por usa vez, no mesmo ano publicou uma nota onde afirma que tudo não passa de exagero por parte dos cientistas e que não há nenhum vinculo entre ingestão de açúcar e o câncer.
Isso não te faz lembrar da história do tabaco, lá nos anos 60?
De acordo com a publicação, a maneira como Hockett contornava a situação, sugerindo uma maior escovação de dentes para combater a cárie, ainda pode ser visto hoje, por exemplo, nos anúncios da Coca-Cola, que sugerem prática de esporte, mas jamais diminuir o consumo da bebida.
E tem mais falcatrua na história! Em entrevista a publicação, Dana Small, cientista da Universidade Yale, afirmou que trabalhou com a Pepsi por um tempo, desenvolvendo pesquisas cientificas.
Embora aparentemente a intenção da empresa fosse realmente boa em financiar estudos voltados à saúde dos consumidores, Small revela que assim que resultados apontando que o produto da empresa realmente trazia males à saúde das pessoas devido o açúcar, a pesquisa foi cancelada, o financiamento ao cientista foi encerrado, bem como todos os computadores usados pela sua equipe foram confiscados.
Estamos perdidos?
Parece mesmo que não temos para onde fugir, não é mesmo? Como confiar na ciência, vendida ao sistema de lucro das grandes corporações, cada vez menos preocupadas com as consequências que seus produtos podem causar na vida dos consumidores.
Mas diferente dos anos 60 e 70, hoje em dia o acesso a informação está muito mais fácil e não dependemos apenas de grandes veÃculos (quase sempre financiados por essas indústrias) para ter conhecimento amplo.
Não temos apenas um ou dois estudos, a rede está cheia deles, milhares de profissionais estão empenhados em disseminar a informação correta, embora ainda se faça muita malandragem por baixo dos panos, fato é que ficou um pouco mais difÃcil.
Portanto, a nossa saÃda é nos questionar sobre tudo o que lemos e sempre procurarmos outras fontes que comprovem esses dados, checar de fato a história toda e o mais importante, quem está por trás da informação passada para o consumidor, seja uma propaganda ou um estudo cientÃfico.