Grandes Ressacas, Grandes Ensinamentos: A revelação na Tailândia que mudou minha vida
Quando a gente bebe e tem uma grande ressaca no dia seguinte, normalmente, tiramos grandes lições da noite anterior, como nunca mais misturar vodca com vinho ou não mandar mensagens para o ex.
Só que dessa vez, a lição veio por causa da ressaca e não diretamente dela.
Na noite em que cheguei em Chiang Mai, na Tailândia, estava começando um resfriado. Só fui capaz de pegar uma comfort food (graças a Deus que Mc Donald’s existe quase no mundo todo!) e ficar quietinha na minha cama. Já na segunda noite, quis aproveitar a vida noturna da cidade com tudo, mas o meu corpo ainda não respondia do jeito que eu queria.
Resultado: dormi até meio-dia e acordei atordoada. E com muita, muita ressaca.
O sol estava a pino e eu me arrastava pelas ruas em busca de comida, água (muita água) e sombra fresca. Já tinha dado aquele dia como perdido, até que, sem querer, ganhei um presente.
Essa é uma das entradas do Wat Chedi Luang, um dos mais famosos templos de Chiang Mai. Já tinha passado por ele no dia anterior mas não reparei que o templo principal, todo lindo, feito de pedra, ficava na parte de trás do terreno.
E junto dele, o monk chat acontecia. Monk Chat é uma atividade onde jovens monges, que vem de diversas partes da Ásia, ficam sentados conversando com os turistas para praticarem o inglês.
Conversar com um monge estando de ressaca me pareceu um pouco vergonhoso mas fui em frente porque a sabedoria budista é capaz de limpar a alma e o corpo. E o fígado faz parte do corpo, não é mesmo?
Fiquei aflita enquanto aguardava a minha vez porque, afinal, são tantas coisas que eu gostaria de perguntar a um monge e a chance era única! Mas, no momento em que me sentei, mesmo com toda a dificuldade de comunicação entre duas pessoas nascidas e criadas em situações e línguas completamente diferentes, a conversa fluiu.
Entre papos sobre cachorros (ele nasceu no Camboja e me disse que lá os cachorros são vistos como pragas), algumas palavras em português e meditação, conversamos sobre alguns princípios do budismo e…amor, esse sentimento que nós, reles mortais, achamos que sabemos o seu real significado mas, na verdade, o distorcemos muito.
Ele deu o exemplo de quando a gente perde um ente querido. É claro que sofremos e queremos, desesperadamente, que a pessoa volte. E aí, ele disse que a única coisa que podemos fazer é continuarmos agindo com bondade e agradecer pelo tempo que passamos juntos com a tal pessoa, porque nada na vida é permanente e todas as coisas fazem parte de ciclos.
Não pude deixar de levar para o lado romântico e comentei que era difícil lidar com o sofrimento quando um amor, que a gente achava ser verdadeiro, acaba.
“Ame, mas não ame demais.” – ele deu esse conselho duvidoso, pelo menos, ao meu ver.
Eu rebati dizendo que era meio que impossível controlar nossos sentimentos e ele emendou:
“Você acha que é fácil? É difícil mesmo mas a gente tem que treinar a nossa mente. Eu estudo isso todo dia!” (olha a meditação aí.)
Sim, a mente, essa perversa que dá cabo da gente. E, pra finalizar, ele solta a cereja do bolo:
“As pessoas confundem amor com estarem ligadas e pertencerem umas às outras. O amor não é nada disso, ele é livre.“
Pronto. Taí a lição para a próxima ressaca – amorosa – que eu enfrentar nessa vida.
Amor fraternal é melhor do que riquezas.
Às vezes, é preciso que alguém completamente desconhecido e num momento inesperado te diga o que você, no fundo, já está cansado de saber. Então, a ficha cai e tudo começa a fazer mais sentido.
Agradeço ao monge com quem conversei (pena que não tirei foto dele para mostrar para vocês) e à Tailândia por sua imensa generosidade e sabedoria. É, definitivamente, um país que eu quero voltar a visitar.