Governo quer ‘diminuir’ o salário mínimo e aprofundar austeridade
A equipe econômica do governo Bolsonaro divulgou ontem (15) a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020. A proposta de reajuste apresentada, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso, ‘diminui’ o salário mínimo, acabando de vez com sua valorização real. É o Governo apostando na austeridade. Mas o que isso significa?
Desde 2004, com o então presidente Lula, o salário mínimo possuía política de reajuste anual acima da inflação. Em 2011, com proposição da ex presidente Dilma Rousseff, a legislação colocou na conta também o PIB dos dois últimos anos – e era isso que garantia o aumento real do salário mínimo para os trabalhadores. Segundo a economista Daniela Sandi, se a medida não tivesse sido implementada, o salário hoje seria de R$540 – uma perda de 43% a 48%.
Como as regras anteriores só vigoraram até 1° de janeiro deste ano, Bolsonaro e sua equipe ficaram livres para apostar na austeridade para os anos seguintes – o que pode não ser uma decisão acertada: sem aumento real de salário, não há aumento de poder de compra e, com isso, a economia pode deixar de crescer.
Portugal, por exemplo, só retomou o crescimento econômico quanto deixou de lado as políticas de austeridade que vinham sendo adotadas desde 2008. Ao Brasil, ainda na era Temer, a ONU alertou sobre a gravidade de apostar nesse tipo de medida. Para se ter uma ideia, até para o ultra-ortodoxo Banco da Inglaterra, a política econômica de austeridade vem sendo desacreditada.
“É fato que o consumo propicia maior bem-estar ao país do que dinheiro parado…
…ao consumir, criamos renda em toda a cadeia produtiva, passando pelo comércio, pela distribuição, pela produção e pela extração”, explica o consultor financeiro e autor best-seller Gustavo Cerbasi, em artigo para a Exame sobre o caminho do dinheiro. O economista Eduardo Fagnani conclui: “Sem poder de compra, o que se pensa no Brasil é ter um capitalismo sem consumidor”; pelo jeito, o inverno já chegou.