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Não maltrate o Gambá: o melhor exterminador de escorpião e serpentes

27 de janeiro de 2021
Postado por Junio Silva

Sariguê, saruê ou timbu. Esse gambá de vários nomes, cada vez mais visto em centros urbanos, tem causado repulsa em alguns humanos desavisados. Nesse artigo, vamos falar sobre a importância desse mamífero na nossa vida.

 

O preconceito do homem não é algo que só atinge seus semelhantes. Alguns animais também entram na lista daqueles que têm suas vidas afetadas por nossa ignorância. É o que acontece com os gambás, que muitas vezes são maltratados por nós, sem que saibamos da sua importância para a natureza.

Muitos até podem ter aquela imagem pintada por filmes e desenhos na cabeça, ou não se sentem seguros por sua aparência. Porém, diferente do que se imagina, os gambás não representam riscos para humanos.

Na verdade, nós representamos. De acordo com o InfoEscola, ao lado do gato-do-mato, o homem é o maior predador desses bichinhos.

Por isso, “em geral, fogem quando nos vêem, buscando refugio na copa das árvores ou tocas”, como explica o biólogo Alexandre Reis Percequillo, Professor Associado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, e que tem um trabalho voltado para a taxonomia e sistemática de mamíferos neotropicais.

Esses animais, que fazem parte da família dos marsupiais e possuem hábitos noturnos, na maior parte do tempo só estão buscando abrigo e comida. Nada mais.

 

O papel dos gambás na natureza

Os gambás são animais onívoros, ou seja, comem vegetais e animais.

Segundo Percequillo, esses animais se alimentam, principalmente, de, “frutas, invertebrados e mesmo pequenos vertebrados, como roedores, lagartos e serpentes”.

Com isso, acabam desenvolvendo um importante papel na natureza. Atuam como predador de animais peçonhentos, que podem representar risco para a vida humana, como escorpiões e até mesmo serpentes perigosas. Para se ter ideia, esses pequenos bichinhos, são capazes de devorar até mesmo uma coral-verdadeira:

 REI DAS SERPENTES HAROLDO BAUER - Youtube, https://www.youtube.com/watch?v=obx-BuXr1VU

SEM LEGENDA

Apesar dessa capacidade de ser um grande aliado no controle dessas espécies, o biólogo ressalta que, mais importante que atribuir uma função para cada ser vivo na natureza, é mais importante entender, “as interações que estas espécies apresentam e que ainda não são bem compreendidas”.

Apesar de soar clichê, a verdade é que, na natureza, todos somos um. Cada ação, possuí uma reação. Tanto o bônus, quanto o ônus. Um exemplo, de acordo com Percequillo, é a relação do lixo que produzimos com o surgimento de animais peçonhentos em centros urbanos.

“O aumento dos escorpiões pode estar relacionado ao grande número de baratas nos esgotos das grandes cidades, pois as baratas são um importante item alimentar para o escorpiões. E elas proliferam por conta do lixo que produzimos”, explica o biólogo.

Juntando isso aos maus-tratos com o seu predador natural, os gambás, a situação pode se complicar. Algo que não aconteceria se entendêssemos, mais a fundo, o papel de cada ser vivo na natureza – isso vale até para as aranhas domésticas.

 

Mas por que gambás aparecem nas cidades?

O convívio da gestora ambiental, Simone Cardoso, com os gambás sempre foi algo natural. Moradora de Serro, cidade localizada no interior de Minas Gerais, ela conta que é comum encontrar os animais, “em casa, no quintal, pelas ruas da cidade”.

Porém, ainda que esses animais sejam bastante tolerantes à “perturbação ambiental”, como cita Percequillo, essa migração pode ser explicada por alguns motivos.

Um deles é que, durante o período de gestação que acontece até 3 vezes ao ano, durando 13 dias, eles costumam procurar pequenos buracos ou árvores para montar seus ninhos. E regiões onde a cobertura vegetal ainda é grande, podem acabar encontrando um lugar ideal para a reprodução.

“Em geral, estes animais estão sempre andando procurando por alimento e abrigo; se ele encontrar alimento em uma casa (ração de cachorro, frutas, algum tipo de criação, como galinhas), ele pode se tornar mais residente e o mesmo vale se ele encontrar abrigo (como um forro de telhado, p.ex.); caso contrário, ele deve dar continuidade ao seu caminho”, detalha Percequillo.

Essa migração, da natureza para a cidade, na visão de Simone, também pode estar também relacionado com a “ocupação irregular e a invasão do hábitat natural deles”.

 

Para sobreviver, gambás precisam procurar uma nova casa!

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Brasil fechou 2020 com o maior número de focos de queimadas em uma década, foram 222.798 mil focos de incêndio. Os biomas mais atingidos são Amazônia, Cerrado e Pantanal, que sozinho contabilizou 22.119 focos, 120% a mais que em 2019.

A destruição de suas “casas” pode ser um dos principais motivos para que gambás apareçam de “surpresa” em centros urbanos. Simone crê que a atual situação do meio ambiente contribui para isso.

“As queimadas são a principal causa. O bicho foge do fogo e acaba invadido o meio urbano em busca de proteção e alimento”, denuncia a gestora.

Percequillo concorda, com alguma ressalva.

“Possível que estes animais estejam fugindo das áreas que queimada e aparecendo mais em áreas urbanas e peri-urbanas, mas eu não tenho elementos no momento para avaliar se essa é uma correlação real; as pessoas que estão trabalhando na linha de frente do combate a estas queimadas terão elementos mais concretos para avaliar isso no futuro”.

Apesar de estudos ainda inconclusivos, encontrar notícias relacionadas a aparição de animais silvestres em cidades, como consequência do caos ambiental, não é difícil.

Como este caso, onde uma coruja, um tamanduá e um gambá foram resgatados em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, após fugirem das queimadas. Ou esse, resgatado resgatado com o corpo todo queimado, em um incêndio às margens da Rodovia dos Tamoios, em Paraibuna (SP).

Divulgação/Corpo de Bombeiros

SEM LEGENDA

 

Ao cruzar o caminho de um gambá, não o maltrate!

Além de interferir no equilíbrio ambiental, maltratar ou matar um dos predadores de animais peçonhentos, é crime ambiental!

Reprodução - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm

SEM LEGENDA

Ao cruzar com o caminho de um destes animais, não se desespere. Ele só está seguindo o seu instinto, procurando comida e abrigo, e não fará mal nenhum à você se não for perturbado.

Inclusive, o temido jato de fedor só é liberado quando o animal se sente em perigo, como já explicamos aqui no Almanaque SOS.

De acordo com Percequillo, o certo a se fazer quando encontrar um gambá, seja em centros urbanos, estradas ou até mesmo próximo de sua casa, é procurar as autoridades responsáveis para que todos sigam o seu caminho, bem.

“Se ele estiver em uma casa, é importante evitar tentar capturar, porque eles podem morder, quando estão acuados e com medo. O ideal é contatar o setor de Zoonoses da cidade e comunicar o ocorrido, para que este setor possa atuar de forma adequada”, ensina o biólogo.

Claudio Nirava Prabhodi - Facebook, Almanaque SOS, Horta Urbana - Facebook, InfoEscola, Rei das Serpentes Haroldo Bauer - Youtube, Campo Grande News, G1, Planalto, JusBrasil, Toda Matéria, INPE

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