Frutas sem casca em embalagens plásticas: existem bons motivos
Não é marketing – ou não apenas isso. As frutas vendidas já picadas é uma medida que busca reduzir o desperdício e que é muito útil às pessoas com deficiência (PCD).
Frutas embaladas picadas e sem casca, por quê?
Lá em 2015, a foto de uma mexerica vendida em gomos e embalada em plástico viralizou e deu o que falar.
Na época, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) se pronunciou dizendo que supermercados e hortifrútis passaram a investir no aproveitamento integral de frutas, legumes e verduras para evitar a perda e o desperdício (e, claro, aumentar o faturamento).
A Fecomercio explicou que estes mercados vendem na bandeja alimentos que apresentam manchas, estão amassados, amadurecidos em demasia ou com algum outro detalhe que não se mostra atrativo para o consumidor.
Entretanto elas possuem o mesmo valor nutritivo e estão em perfeitos estado para consumo.
Algo que já é feito há muito tempo com as cenouras “baby” (sim, a maioria delas são cenouras que seriam descartadas para venda que são cortadas e descascadas para parecem mini cenouras).
O público alvo desta ação, a princípio, é apontado como pessoas solteiras e famílias pequenas que buscam maior praticidade para preparo de suas refeições. O que quase ninguém sabia até pouco tempo é que essas frutas vendidas já picadas contribuem muito na vida das pessoas com deficiência.
O benefício à PCDs
A ativista da causa das pessoas com deficiência e criadora de conteúdo, Mariana Torquato diz que os mercados não fazem isso pensando apenas nas pessoas com deficiência e sim por uma demanda maior, que acaba incluindo estas pessoas.
Ainda assim não deixa de ser uma medida que auxilia bastante na vida dela e de outras PCDs, pois permite que tenham maior autonomia.
“A questão de eu cortar uma fruta ou descascar um abacaxi é complicada para mim que não tenho uma mão. Por exemplo, eu carregar uma melancia inteira sozinha é impossível, agora eu com uma melancia cortada é muito mais fácil. É algo que traz autonomia à pessoa com deficiência”, explica.
Ela defende que não é algo só para pessoas preguiçosas ou apenas um gasto exagerado de plástico, mas sim o atendimento de uma demanda social que existe.
Além disso, para Mariana, independentemente das razões que levam comércios a cortarem e embalarem frutas e legumes, o que deve ser discutido é que traz independência às PCDs que também têm este direito de serem pessoas autônomas e poderem realizar tarefas básicas do dia a dia sozinhas.
Mas e quanto ao plástico?
É indiscutível que a medida gera mais lixo com as embalagens plásticas. No entanto, a ativista defende que não dá pra pensar só no uso de plástico numa coisa que realmente traz autonomia na vida da pessoa deficiente.
Além de, infelizmente, o plástico não estar presente apenas nesses alimentos e estar em todos os lugares como em sacolas plásticas, nas embalagens de bolachas, shampoos e tanto outros.
“Morei dois anos sozinha na Alemanha, que é um país que leva muito a sério a reciclagem. Lá existiam medidas que realmente fazem diferença na redução de plástico e também tinham as frutas cortadas que me ajudavam muito”, esclarece.
Apesar dessa iniciativa, vale dizer que, segundo uma pesquisa publicada na revista Science Advances, somente 9% dos resíduos plásticos do planeta foi realmente reciclado.
O grupo de cientistas liderados pela Universidade da Geórgia na Califórnia e a organização oceanográfica Sea Education Association (SEA), estima que 12% da plástico produzido pela humanidade foi incinerado e 79% virou lixo parado na natureza ou em aterros sanitários.
Segundo o levantamento, já foi produzido mais de 8 bilhões de tonelada de plástico.
Um problema tão complexo como o acúmulo gigantesco de lixo plástico precisa de soluções de igual proporção – isso porque já estima-se que até 2050 os oceanos terão mais plásticos do que peixes. E o ponto chave disso são as indústrias que produzem esse material, das mais variadas formas – e não o consumidor.