Fomos enganados! Existe algo muito pior para o coração que a gordura, revela estudo
Sabe aquela gordurinha que você evitou com tanto esforço e todos os médicos alertam só para mantermos a saúde em dia e evitar problemas com o coração?
Pois saiba que esse tipo de orientação pode ter sido influenciada por um dos maiores casos de corrupção científica da história da humanidade. O grande vilão nessa história pode não ser a gordurinha e sim, o açúcar.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco, EUA, investigaram documentos ligados à indústria do açúcar e descobriram que no final dos anos 60, três cientistas da Universidade de Harvard foram pagos para publicar um estudo que diminuia a culpa do açúcar no desenvolvimento de doenças cardíacas e colocava a gordura saturada como maior responsável pelos males ao coração.
A bombástica revelação foi divulgada em um artigo publicado na revista científica JAMA Internal Medicine.
“Eles foram capazes de desorientar a discussão sobre o açúcar por décadas”, disse Stanton Glantz, professor de medicina na UCSF e um dos autores do artigo.
Doce corrupção
De acordo com o artigo, em 1967 a Fundação de Pesquisa do Açúcar (Sugar Research Foundation), que atualmente tem o nome de Associação do Açúcar, pagou cerca de 50.000 dólares a três cientistas de Harvard, liderados pelo Dr. Mark Hegsted, para realizar uma revisão em diversas pesquisas já concluídas sobre açúcar, gordura e doenças cardíacas e assim, elaborar um novo estudo
Segundo o The New York Times, os pesquisadores escolheram as pesquisas a serem revisadas de acordo com os interesses da Associação do Açúcar e publicaram os resultados no prestigiado New England Journal of Medicine.
A participação do ‘grupo do açúcar’ nessas revisões não foi revelada até 1984.
“Passando um pano” no açúcar
Segundo o Daily Mail, apesar de evidências mostrarem desde a década de 1950 a ligação entre o açúcar e doenças cardíacas, o estudo de 1967 diminuiu a influência da substância, apontando a gordura e o alto colesterol como os maiores responsáveis por problemas no coração.
Como na década de 1960 nos EUA não era necessário divulgar os financiadores de pesquisas científicas, os “chefões” do açúcar puderam, anonimamente, guiar o trabalho dos pesquisadores até que o resultado das pesquisas estivessem de acordo com o que eles desejavam.
No artigo que revelou o esquema, os pesquisadores descobriram correspondências que provam o suborno do Dr. Hegsted pela Fundação de Pesquisa do Açúcar, que além de ter ditado o objetivo do estudo, ainda financiou a pesquisa e revisou os rascunhos do trabalho.
Segundo Marion Nestle, professora de nutrição da Universidade de Nova York que publicou um editorial sobre as revelações do novo artigo, os documentos descobertos fornecem “evidências convincentes” de que a indústria açucareira iniciou pesquisas “exclusivamente para exonerar o açúcar como principal fator de risco para doença coronariana“.
“Eu acho que é terrível. Você nunca vê exemplos que sejam tão flagrantes. A pesquisa de financiamento é ética, mas subornar pesquisadores para produzir as evidências que você quer, não é.”, diz a professora Nestle.
Os efeitos da má sugestão
Como efeito da publicação do estudo de Harvard, por muitos anos os estadunidenses foram incentivados pelas autoridades de saúde a mudar seus hábitos alimentares para uma dieta com pouca gordura e rica em carboidratos, o que agora sabemos ser o real vilão da obesidade.
A pesquisa do Dr. Hegsted foi usada para influenciar as recomendações dietéticas do governo, que apontava a gordura saturada como causador de doenças cardíacas e o açúcar apenas como um gerador de cárie dentária.
“Quando os fabricantes retiraram a gordura, eles acrescentaram açúcar. Então nós realmente perdemos muito tempo em avaliar como o açúcar afeta doenças coronárias, mas o impacto real na saúde pública nas últimas cinco décadas é impossível de medir”, revela Laura A. Schmidt, uma das autoras do artigo, ao Daily Mail.
Atualmente, algumas entidades como a American Heart Association, a Organização Mundial de Saúde, entre outras, já alertam sobre os perigos do excesso de açúcar, apesar de ainda enfatizar os riscos da gordura saturada.
Os riscos do açúcar
Muitos efeitos prejudiciais, incluindo ganho de peso e obesidade, são associados ao excesso de açúcar, especialmente na forma de refrigerante.
Um estudo publicado na Sociedade Americana de Nutrição Clínica revisou diversas pesquisas dos últimos 50 anos e descobriu a relação entre a quantidade de ingestão de bebidas açucaradas e o ganho de peso e obesidade.
Segundo os autores, a base científica que liga o consumo dessas bebidas ao risco de doenças crônicas é clara.
Ao ingerir uma grande quantidade de açúcar devemos equilibrar essas calorias com as provenientes de proteínas e gorduras, que o corpo demora mais para metabolizar. Quando isso não acontece, ocorre um rápido aumento e queda do nível de açúcar no sangue, essa variação pode deixar a pessoa ao mesmo tempo faminta e irritada.
Esse combo de irritação e fome é o que faz do açúcar o verdadeiro culpado quando se trata de ganho de peso, segundo informou o site Business Insider.
Além do quilinhos extras, estudos que revisaram as pesquisas sobre açúcar mostraram que seu consumo pode desencadear resistência à insulina, diminuir os níveis de colesterol bom e aumentam a taxa de colesterol ruim, além de causar inflamação das artérias. Todos esses males são causas diretas de doenças cardíacas.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), diz que a maior parte das calorias provenientes do açúcar que os estadunidenses consomem vêm de alimentos processados como cereais, barras de granola, pães e bolos – o que não é diferente de nós, brasileiros.
Esses carboidratos são quebrados rapidamente e geram glucose, que nós dá energia, mas também aumenta rapidamente a taxa de glicemia.
Atualmente as autoridades de saúde pública recomendam que o limite de ingestão de açúcar não passe de 50 gramas diárias. Mais exatamente, para as mulheres o recomendado é 25g (ou 6 colheres de chá por dia), equivalente a menos de uma lata de Coca-Cola. Já para os homens o recomendado fica em 36g (ou 9 colheres de chá), o mesmo que uma barra de Snickers.
Sabendo que o Brasil é o 4º maior consumidor de açúcar do mundo, vale aquela máxima, consuma moderadamente!
Mas a gordura não é santa
Apesar de sabermos agora que o açúcar é o grande vilão, a gordura está longe de ser inocente nessa história.
A grosso modo existem três tipos de gordura, as insaturadas, encontradas principalmente em vegetais e peixes, essas são consideradas as “gorduras boas”, pois auxiliam na redução do colesterol ruim, o triglicérides e da pressão arterial.
A gordura trans é a mais nociva, ela é produzida através de um processo químico e pode ser encontrada em diversos produtos industrializados, a ingestão dessa gordura aumenta o nível de colesterol ruim, enquanto diminui o bom.
Já as gorduras saturadas são as mais comuns de serem encontradas, e junto com as trans, são consideradas “gorduras ruins”. Elas podem ser encontradas principalmente em produtos de origem animal, como carnes vermelhas e brancas, leite e derivados e produtos com óleo de palma.
Os especialistas indicam que o consumo máximo seja de 20 gramas por dia, porém com tantos produtos contendo essa gordura, essa medida acaba facilmente sendo ultrapassada.
Segundo uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde, o excesso de consumo de gordura saturada é frequente por grande parte da população brasileira. O levantamento revela que 31% da população consome carnes mesmo que seja gordurosa.
De acordo com um estudo publicado na revista científica JAMA Internal Medicine, o consumo de gorduras saturadas aumenta o risco de morte prematura. Além disso, como mostramos aqui no SOS, comer uma só refeição rica em gordura já seria capaz de alterar o metabolismo, causar resistência à insulina e danos ao fígado.
A nutricionista Lena Azeredo, do Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição disse ao Portal Brasil, que comer muita gordura saturada pode causar doenças como infarto, acidente vascular cerebral e câncer.
Ela ressalta que o devemos consumir menos carne vermelha e frituras e aumentar a ingestão de alimentos com fibras.
“O consumo de fibras é bem importante junto com o alimento que contenha a gordura, e vai ser inevitável que a gente consuma alimentos que contem gordura animal. A fibra ajuda lá no processo de absorção dessa gordura, então o consumo de vegetais, de salada, de frutas, de farelos como aveia, como as leguminosas, feijão, lentilha, grão de bico, ervilha, vão ajudar no processo tanto de digestão como de absorção dessas gorduras”. – revelou a especialista.
O segredo é consumir açúcar e a “gordura ruim” com moderação, quando possível evitá-los e manter sempre uma dieta balanceada, com muitas fibras, proteínas e carboidratos.
Superinteressante, The New York Times, Daily Mail, Business Insider, Telegraph, Mundo Estranho, Portal Brasil