Queimar folha de louro em casa pode reduzir a ansiedade?
Já de antemão: queimar folha de louro para reduzir ansiedade não é uma boa saída, segundo especialistas e a própria ciência. Existem inúmeras formas de tratar e amenizar essa patologia, mas esta definitivamente não é a melhor opção.
Folha de Louro e a Ansiedade
A ansiedade tem sido um problema crônico para muitas pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em um estudo feito com 17 mil pessoas em 2017, no Brasil 86,5% possuem algum tipo de ansiedade.
Exatamente por isso, diversas soluções para enfrentar esse problema pipocam nas redes. Uma delas é a ideia de que queimar folha de louro reduz ansiedade, por conta de um composto encontrado no planta, chamado linalol.
No Brasil, a técnica foi amplamente difundida nas redes sociais, como é o exemplo do vídeo produzido pela influenciadora @maay_mind – o perfil da “praticante de magia cerimonial”, como ela mesmo detalha, tem cerca de 2 milhões de seguidores e é verificado pelo TikTok.
@maay_mind? #foryou #dicas #ansiedade #folhaseca #pravoce♬ となりのトトロ (オルゴール・カバー) – Relaxation Music Box for Children to Calm Down
Vamos entender como tudo começou.
Como essa moda de queimar folha de louro começou?
Segundo Snopes, site de verificação de notícias, quem iniciou essa tendência foi o teórico da conspiração David “Avocado” Wolfe em seu blog. Vale dizer que o conspiracionista dirige um império pseudocientífico alternativo de saúde e suplementos.
Segundo a publicação:
“A folha de louro contém um composto denominado linalol. Um estudo realizado pela American Association of Nurse Anesthetists descobriu que o linalool diminui a ansiedade e aumenta a interação social.
Em apenas 10 minutos sentindo o cheiro de uma folha de louro queimando, o linalool começa a funcionar. Alguns até descreveram o efeito como levemente psicodélico”.
O que a ciência diz
Porém, o que David não comenta é que o estudo concluiu que, embora o linalol possa diminuir a função motora e essencialmente deixar um rato inconsciente em doses excessivas, ele não parece ter efeito anti-ansiedade significativo.
Mas, de fato, existem outras pesquisas que demonstram algum benefício nesse sentido. Um artigo de 2010, publicado na revista Phytomedicine, sugeriu (usando ratos de laboratório e vapores de linalol puro) que o linalol pode, sim, ter um efeito sobre a ansiedade. Porém, o método de análise desse estudo é controverso entre a comunidade científica.
Resultado: nenhuma pesquisa com linalol ou óleo de lavanda é adequada para abordar a possibilidade de que a fumaça da folha de louro possa ter um efeito marcante sobre a ansiedade.
Especialistas comentam
Segundo Rachel Hertz, professora de Psiquiatria e Comportamento Humano da Brown University que estudou extensivamente a interação entre humor e cheiro, a ligação mais óbvia entre humor e cheiro é através do aprendizado associativo:
“Os odores afetam o humor, o desempenho no trabalho e o comportamento das pessoas de várias maneiras, mas não é porque os odores nos afetam como uma droga, mas sim por meio de nossas experiências com eles”, explicou em um artigo para a Scientific American.
Consultamos psicólogas, sendo uma delas especialista em aromaterapia, que foram categóricas em alertar sobre o perigo dessa prática.
Ariana Moura, psicóloga, especialista em psicodrama e mestra em psicologia da saúde explica que não há artigos ou estudos comprovados sobre essa técnica, portanto ela alerta a importância do cuidado na hora de compartilhar esse tipo conteúdo pela internet.
“Acho muito perigoso disseminar essas práticas. Pense que você tá ansioso, mas não busca ajuda especializada e então tenta alguma dessas técnicas de internet e não consegue nada.
Você vê uma matéria aleatória falando que a folha de louro é eficaz para reduzir a ansiedade e prontamente começa a incensar a casa inteira. Os dias vão passando e a sua ansiedade não melhora”, alerta a profissional.
Segundo Sâmia Maluf, psicóloga e especialista em aromaterapia também destaca a ineficácia de queimar folhas de louro para controlar a ansiedade.
“Esta folha é realmente uma erva cheia de propriedades, que por sua vez importantes e relevantes. O louro pode ser um ótimo agente fitoterápico, por exemplo, mas não é remédio para área neurológica em nenhuma forma de aplicação”, explica a especialista.
O que fazer para aliviar sintomas de ansiedade?
Sâmia afirma que há formas paliativas de alívio para momentos de ansiedade que a pessoa pode fazer sozinha e ter sucesso, como por exemplo praticar técnicas de respiração e relaxamento.
Sendo o ideal buscar atendimento profissional, para assim, dentro das possibilidades, estabelecer como poderá racionalmente entender a situação e resolver da melhor forma possível, dentro de cada realidade.
A aromaterapeuta acrescenta também que “depois de entender as causada possíveis (da ansiedade) há óleos que auxiliam, dentro de uma visão científica”. Existem diversos tipos de óleos essenciais no mundo, todos são estudados a fundo para determinar a aplicação. A aromaterapia não tem nada a ver com inalar aromas através de incensos, por exemplo.
“Nos baseamos em pesquisas e muita leitura de livros e muita prática clínica. Hoje pelas redes sociais, então divulgando informações que viram virais, e que não possuem nenhum embasamento, como no caso da folha de louro.
Um óleo essencial possui dezenas e centenas de ativos químicos, com ações farmacológicas. É isto que estudamos e ministro cursos a profissionais da saúde ou a quem quiser ter um estilo de vida mais saudável. Mas a folha de louro não tem como ter a atuação descrita no vídeo”, esclarece Sâmia Maluf.
Alerta sobre queimar folhas de louro
Independente das propriedades da folha de louro, segundo Sâmia, não existe uma forma de absorver algo da folha através da fumaça ou pelo cheiro que fica no ambiente.
“Ao queimar (a folha), a concentração de ativos neste formato, terá volatilizado muito rápido. Não há a possibilidade de ter esta recepção em termos neurológicos”.
Vale dizer que os outros benefícios da inalação dessa fumaça para a respiração, citados no vídeo divulgado pela influenciadora @maay_mind, também não foram comprovados.
Inclusive, um estudo realizado pela Universidade de Tecnologia do Sul da China e publicado pelo periódico científico Environmental Chemistry Letters, apontou mutações no material genético das células e também que as toxinas liberadas pela fumaça de incensos estão relacionadas ao desenvolvimento do câncer.
Buscamos contato com a tiktoker porém não obtivemos retorno.