Um estudo publicado ontem (02) na revista científica The Lancet apresenta evidências sobre a possibilidade de interrupção da transmissão do vírus HIV entre casais homossexuais sorodiscordantes. Outros estudos sobre a transmissão do vírus já haviam sido feitos, mas apenas com casais heterossexuais. Esse é o primeiro a investigar também a transmissão entre casais de homens homossexuais.
A pesquisa durou oito anos, foi realizada em 14 países europeus e envolveu dois grupos diferentes: casais heterossexuais e casais de homens homossexuais, ambos sorodiscordantes (quando apenas um dos parceiros é soropositivo). Quase mil casais gays foram acompanhados durante os estudos.
Os resultados mostraram que, quando o parceiro soropositivo realiza corretamente o tratamento com antirretrovirais e alcança carga indetectável do vírus, não há risco de transmissão, independente de ser uma relação sexual entre dois homens. Ao final do estudo, apenas 15 homens soronegativos haviam sido contaminados pelo vírus HIV, mas a contaminação se deu em relações extraconjugais, com homens que não realizavam tratamento.
Além da importância científica do estudo, os resultados têm valor social, pois podem ajudar a diminuir o estigma e a discriminação que os homossexuais sofrem inclusive durante o tratamento. Ao contrário do que ainda se acredita nos setores mais conservadores da sociedade, com o tratamento correto, não há mais riscos de transmissão entre casais gays do que entre casais heterossexuais.
É importante destacar que a pesquisa aborda apenas a interrupção da transmissão do vírus HIV. Ou seja, não foi descoberta uma cura. Mesmo assim, o resultado demonstra que tanto o vírus, quanto a Aids, poderiam ser zerados no planeta se todos os indivíduos soropositivos, independente da orientação sexual, realizassem o tratamento. No Brasil, tanto o exame de HIV, quanto os antirretrovirais são gratuitos pelo SUS.