Uma música já te lembrou um determinado cheiro? Uma cor já te induziu a algum tipo de sabor? Esse cruzamento de sensações, como o gosto com cheiro, é conhecida como sinestesia.
Um experimento publicado nos anos 20 e reaplicado mais de 80 anos depois vem literalmente ilustrando esse “comportamento” curioso do nosso cérebro. Quer sentir?
Das duas imagens abaixo, qual delas se chama “Kiki” e qual se chama “Bouba”?
Qual é “Kiki” e qual é “Bouba”?
RESPOSTA ABAIXO.
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Provavelmente você deve ter classificado a imagem da esquerda como “Bouba” e da direita como “Kiki”, certo?
Pode parecer um truque, mas esse fato interessante pode significar, de acordo com a ciência, o “elo perdido” da origem da linguagem humana.
O começo de tudo
O curioso experimento já havia sido aplicado em uma ilha da Espanha, onde o psicólogo alemão Wolfgang Kohler pediu aos habitantes que classificassem duas imagens semelhantes a essas apresentadas acima, como “Takete” ou “Baluba”.
O resultado dessa pesquisa, publicada em 1929, revelou que a grande maioria classificava a forma pontiaguda como “Takete” e a forma arredondada como “Baluba”. Porém, na época, a revelação foi vista pela comunidade científica apenas como de carácter curioso, sem grandes informações para a ciência.
Pois bem, 82 anos depois, os pesquisadores Edward Hubbard e Vilayanur S. Ramachandran, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos encontraram neste experimento uma maneira prática de estudar o fenômeno sinestésico nas pessoas.
Fazendo uma pequena modificação no nome, eles voltaram a pedir que classificassem as formas, agora como “Kiki” ou “Bouba”. 95% das pessoas acharam que a figura pontiaguda era a “Kiki” e a arredondada era “Bouba”.
Ou seja, apenas pela sensação que as formas lhes causavam, conseguiram nomear as figuras.
O nome das coisas
Com o resultado das pesquisas, a sociedade científica acabou entregando-se a curiosidade que envolve essas sensações sinestésicas e particularmente o caso “Kiki e Bouba”.
Alguns estudiosos se aprofundaram no fenômeno, tentando criar um paralelo entre o nome que damos às coisas, com o “som que sua forma emite”.
Por exemplo, tanto “takete” quando “kiki” possuem o som das letras “K” e “T”, que são fortes e podem dar uma sensação ríspida, reta. Já “bouba” e “baluba” possuem a consoante “B” e as vogais “O” e “U” que deixam o som “arredondado”, como um onda.
Esse tipo de suposição, levantada pelos pesquisadores, os fez pensar que a origem real da linguagem humana tenha sido formada através desses tipos de sensações sinestésicas, o que significa, em um exemplo bem grosseiro, que o formato, a textura ou até o cheiro de uma pedra foi primordial para que ela recebesse esse nome.
“Kiki” e “Bouba” na nossa vida
Agora se você acha que esses efeitos de sinestesia só acontece em laboratórios, está enganado.
Um recente estudo feito por pesquisadores da Universidade de Londres e publicado no site científico Flavor Journal revelou que comidinhas servidas em pratos redondos dão a sensação de serem mais doces (bouba), as picantes ficam mais intensas se servidas em pratos ásperos e pontiagudos (kiki); já qualquer purê fica muito mais cremoso se apresentado em recipientes arredondados e suaves (bouba).
Outro exemplo da sinestesia na nossa vida real é o trabalho do chef inglês Heston Blumenthal, que usa em todas suas criações os efeitos da sinestesia, como o “Kiki” e a “Bouba” para intensificar os sabores de seus pratos.
“Temos todo um mundo por descobrir: se você escreve ‘vinho’ com uma letra pontiaguda e, depois, com uma arredondada e toma o mesmo vinho, você sente gostos distintos.” – disse o chef em entrevista à BBC.
– Você já teve alguma experiência com a sinestesia? Conta pra gente!