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Exposição Imaginal: o truque de 2 mil anos para controlar a ansiedade

24 de janeiro de 2022
Postado por Denisson Soares

A técnica da exposição imaginal é uma eficiente forma de lidar com a ansiedade, apoiado pela neurociência. Ao analisar os piores cenários e medos, temos maior controle sobre a situação. Entenda a seguir.

 

Sêneca e a pior coisa que poderia acontecer

Lúcio Aneu Sêneca (50 d.C. a 65 d.C.) ou, como é popularmente conhecido, Sêneca, foi um dos mais importantes filósofos estoicos.

Nascido em Córdoba, Espanha, se tornou célebre como intelectual, escritor e advogado do Império Romano.

Há cerca de 2 mil anos, alvo de uma perseguição que desejava sua morte, Sêneca pensou com seus botões: “Qual a pior coisa que poderia acontecer?”.

Pode parecer uma indagação qualquer, mas esse pensamento do principal expoente do estoicismo tem servido de base para um truque muito útil para controle da ansiedade atualmente.

Pixabay/ Reprodução, https://www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-sozinho-solitario-irritado-3974777/

Sêneca

 

Exposição imaginal e o benefício de estudar nossos medos

Sêneca e outros grandes filósofos gregos e romanos já teorizavam sobre os benefícios de colocar as preocupações em análise. Hoje, essa simples prática é considerada uma das técnicas mais eficientes para lidar com a ansiedade.

Em uma das cartas que escreveu ao seu amigo, Lucílio, Sêneca, diz que:

“Há mais coisas que podem nos assustar do que nos esmagar. Sofremos mais na imaginação do que na realidade. O que eu aconselho você a fazer é não ficar infeliz antes que a crise chegue, pois pode ser que os perigos diante dos quais você empalideceu como se eles estivessem te ameaçando, nunca cheguem sobre você. ”

Inspirados por Sêneca, especialistas em saúde mental tem pesquisado e desenvolvido importantes estudos sobre a exposição imaginal, uma estratégia que consiste em convidar o cérebro a visualizar os piores cenários e medos.

Ou seja, o truque é fazer você enfrentar aquilo que mais tem medo invocando a imagem em sua mente, mas apenas quando você quiser.

O mais interessante dessa técnica é que, além de ser fundamentada em pesquisas, a pessoa/paciente se beneficia dela em um ambiente seguro e controlado.

No caso da ansiedade a lógica é simples: se a ansiedade começa em sua cabeça, ela também pode acabar nela.

Claro, tratamentos mais eficientes para transtornos mentais envolvem acompanhamento especializado a longo prazo.

Contudo, é crescente o número de profissionais de saúde mental que têm buscado por formas de integrar ou aliar a exposição imaginal aos tratamentos tradicionais, especialmente para permitir que o próprio paciente possa usar a técnica no conforto e segurança de sua casa, da maneira como achar melhor.

Nik Shuliahin, https://unsplash.com/@tjump

SEM LEGENDA

 

Defina um horário e controle melhor a sua ansiedade

Em entrevista a Time, a Dra. Regine Galanti, psicóloga, aponta que já existem técnicas simples fundamentadas em um subconjunto da terapia cognitivo-comportamental (TCC) que qualquer indivíduo pode começar a usar por conta própria.

A especialista explica que pensamentos que geram ansiedade costumam assumir o controle da mente da pessoa. E assim que um some outro surge.

Nesse sentido, a estratégia se concentra em não adiar as preocupações, mas ampliar o controle sobre elas, definindo um horário para se preocupar tanto quanto quiser.

Partindo do princípio de que sofremos mais na imaginação que na realidade idealizado por Sêneca, Galanti diz que incentiva seus pacientes a anotar tudo aquilo que constitui um fator gerador de ansiedade.

Depois, eles devem escolher um horário do dia para se dedicar a pensar tanto quanto possível sobre essas preocupações. De acordo com a psicóloga a possibilidade de estabelecer limites é o que faz com que essa estratégia funcione.

Por exemplo, se uma preocupação surge às 10h e o momento escolhido para pensar nas preocupações é às 16h, você pode simplesmente dizer: “Vamos parar, agora não, sua hora ainda não chegou!”.

Lukas Blazek, https://unsplash.com/@goumbik

SEM LEGENDA

Segundo a especialista, ao revisitar a lista de preocupações, a pessoa coloca a ansiedade em perspectiva e acaba descobrindo que aquilo que ela achou que seria o fim do mundo pela manhã, já não representa nada significativo horas mais tarde.

Para quem deseja fazer uso desse truque prático, Galanti recomenda que se evite fazer isso antes de dormir.

No mais, é sempre bom conversar com um psicólogo ou psiquiatra sobre essa ideia para que ele possa orientar sobre a melhor maneira de começar ou de como usar a técnica para complementar algum tratamento já em andamento.

 

Time

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