Estudo diz que Cachorros não ligam para a voz ‘fofinha’, ela só funciona com filhotes
Quenhé o bonitíneo do papai?? Quenhé… quenhé?!?
Mesmo que soe um pouco bobo, às vezes não dá para resistir e lá estamos falando com aquela voz fofa para os cãezinhos, como se não houvesse ninguém por perto.
Apesar de algumas pessoas acharem desnecessário (e vergonhoso) falar dessa forma com os animais, um novo estudo publicado no site científico Proceedings of the Royal Society B revelou que os cães prestam mais atenção a esse tipo de voz. Bem, pelo menos os filhotes.
Falando fofíneo
A equipe de pesquisa em comunicação acústica da Universidade Jean Monnet pediu a 30 mulheres que, olhando fotos de cachorros de raças e idades variadas, gravassem frases típicas direcionadas aos dogs, como por exemplo, “Bom garoto!” e “Quem é o queridinho da mamãe?“.
A fim de comparar, foram gravadas as mesmas frases, mas desta vez como se fossem ditas para outros humanos. Os cientistas analisaram vários fatores nas gravações, como o tom de voz e a frequência sonora.
Eles perceberam que as pessoas falam de maneira amorosa com todos os tipos de cães, mas as vozes mudavam ainda mais quando dirigidas aos filhotes, justamente pela sua dose extra de fofura.
Ouvido de bebê
Após análise dos áudios, os pesquisadores colocaram um grupo de 10 cachorros adultos e 10 filhotes para ouvir as gravações (sem a presença humana, para evitar outros tipos de reações).
Os animais adultos e idosos não demonstraram reação alguma para as falas dirigidas, tanto àquelas para os cães – com a vozinha meiga – , quanto para humanos.
Os filhotes se mantiveram mais atentos e bem mais animados nas gravações que foram feitas para eles quando a fala era mais lenta e o tom, agudo. Segundo os pesquisadores, os pets novinhos reagiram mais rapidamente, se inclinando, olhando constantemente para as caixas de som e permanecendo perto dela por mais tempo.
Em contrapartida, nas gravações onde o tom de voz era normal, feitas para os humanos, os filhotes ignoraram todas as falas.
Questão de idade
Os pesquisadores ainda não sabem o motivo do desinteresse dos cães adultos pelas gravações, contudo, especulam que talvez os cachorros mais velhos sejam mais exigentes e respondam apenas a interações com pessoas de verdade ou com vozes familiares.
Já os filhotes são atraídos pelas falas carinhosas, com tom agudo. Segundo os cientistas, tal entonação pode ajudar a ensinar palavras e comandos aos pequenos, assim como é feito com bebês humanos.
Ensinando a falar
Nicolas Mathevon, um do autores do estudo, revelou ao site Gizmodo que, na verdade, os resultados mostram mais sobre os hábitos dos humanos:
“Eu acho que estamos direcionando um comportamento humano nos cães. O estudo sugere que usamos esse tipo de padrão de fala para interagir com um ouvinte não-falante. Tentamos adaptar a maneira como falamos ao nosso ouvinte dependendo do quanto ele é capaz de entender, no nosso ponto de vista. ” – revela o pesquisador.
Esse mesmo comportamento acontece em outras situações, por exemplo, quando a pessoa que fala sente, consciente ou inconscientemente, que seu ouvinte não domina o idioma ou tem dificuldade de entendimento. Isso acontece quando falamos com pessoas idosas ou estrangeiros.
Quem é o bebezíneo?
Segundo o estudo, agimos assim com os cães porque, em nossa mente, colocamos bebês e cachorros em um grupo de “companhias não-verbais”.
Segundo Mathevon, “Uma das hipóteses foi que nós, seres humanos, usamos esse discurso dirigido aos cães porque somos sensíveis aos sinais parecidos com os do rosto de um bebê.”
Não se sabe ainda se a reação dos filhotes às falas é de nascença ou se aprendem a ter essa atitude, nem se as falas mais carinhosas querem dizer algo para eles ou se isso realmente os ensina algumas palavras.
Para o Dr. David Reby, psicólogo da Universidade de Sussex e um dos autores do estudo, essa pesquisa pode ajudar a nos entendermos melhor com os cães.
“Poderia haver um uso prático se identificarmos, a longo prazo, maneiras de falar com cães que ajudem e favoreçam o aprendizado de novos comandos”. – disse o profissional à BBC.
Estadão, Esquire, Science, Gizmodo, The Telegraph, Mentalfloss, Wired, Daily Mail, BBC