Cocô em viagens costuma ser um assunto delicado
Cocô em viagens costuma ser um assunto delicado.
Tem gente que fica com dor de barriga com qualquer coisinha diferente que come (e seja o que Deus quiser) e tem gente que não consegue fazer fora de casa.
Ao longo dos anos, o tipo de banheiro virou um requisito forte na escolha das hospedagens. Sempre que posso, fico em quarto individual com banheiro próprio. Se não dá, tudo bem compartilhar o quarto e banheiro, desde que este último seja do lado de fora.
Acontece que o último hostel que passei durante meu mochilão pelo Sudeste Asiático tinha o tipo de quarto que eu odeio: O temido quarto compartilhado com banheiro dentro.
Só que o pior ainda estava por vir.
Na minha última noite, retornei ao hostel e um conjunto de sorriso perfeito e olhos verdes me recebeu com o mais simpático dos “Olá! De onde você é?”
Passado um tempo, outro cara lindo entrou (vamos chamá-lo de Gatinho 2). Nós três conversávamos alegremente, clima de azaração e tal, enquanto eu só pensava numa coisa e…não, não era ménage a trois, gente! Era com qual deles eu iria me casar e como seria educar nossos filhos em duas línguas diferentes. #alok
Não, agora é sério, eu pensava só em quem seria minha companhia aquela noite. A decisão foi tomada quando o Gatinho 2 disse que precisava ir a um jantar. Sendo assim, saí para dar uma volta com o Gatinho 1.
Durante o passeio, ele me contou umas histórias bem estranhas, brigou com o garçom do lugar onde comemos e no final, ainda disse que tinha esquecido a carteira. E vocês acreditam que na volta ele ainda quis me devolver o dinheiro a menos?
Depois dessa broxada total, resolvi me deitar mais cedo e enquanto pensava no sinal que Deus havia me mandado “Olha, menina, sossega esse facho e vai dormir logo que amanhã você tem três aviões para pegar”, ele foi para o banheiro.
5, 10, 15 minutos e o cheiro começou a subir. Um mau cheiro que eu nunca havia sentido na vida, gente! Juro!
Só estávamos nós dois e o silêncio total do quarto contrastava com os sons esquisitos que ele fazia lá dentro. Acho que ele estava tão constrangido que até colocou uma música super alta mas, não adiantou de nada!
20, 25, meia hora e ao mesmo tempo que eu queria fugir do fedor que se alastrou e deixá-lo mais à vontade, me recusava ter que me vestir de novo e sair do quarto. Uma hora depois (!) o ouvi dizendo “Que merda, não tem papel!” seguido de um “Ah, tem sim.” Ufa, até eu tinha ficado tensa por ele!
Quando ele saiu, tinha mais alguém no quarto: o elefante da vergonha alheia. Eu até fingi estar dormindo só para não ter que olhá-lo nos olhos. Debaixo do meu cobertor e quase sufocada, eu decidia entre continuar respirando o cocô de outra pessoa ou tacar o foda-se e espirrar logo um perfume naquela porra toda e dane-se ele.
Quando o Gatinho 2 voltou e abriu a porta, ele tomou um susto com o nível do fedor e não desculpou. Deu um jeito de deixar a porta aberta, abriu as janelas desesperadamente enquanto perguntava quem tinha feito aquilo.
Ele então pegou na minha mão, olhou nos meus olhos e me convenceu de que a gente precisava sair dali o mais rápido possível. Pronto, fui beber com ele.
Antes de descer, fui fazer xixi e cadê papel?
Carregar seu próprio rolo de papel higiênico no Sudeste Asiático é vida.
E eu havia esquecido o meu lá dentro. O Gatinho 1 (que a essa hora já havia virado Monstrinho) tinha acabado com o meu!
Eu sempre via gente em trajes sumários e com cara de desespero perguntando se havia algum banheiro disponível nos corredores. Se eles estavam fugindo do cocô de alguém ou apenas queriam se largar à vontade, eu não sei. Mas, vamos combinar que banheiro limpo e discreto deveria ser um direito de todos, não é mesmo?
Depois dessa, tive ainda mais certeza de que quartos assim são os piores para se hospedar.
E lembrem-se da minha dica na próxima vez que forem viajar, afinal, não importa onde esteja, o país que visitar, merdas sempre acontecem.