O Brasil vive uma epidemia de Sífilis, especialistas revelam os motivos
Se você pensa que a sífilis é uma doença ultrapassada e só atingia poetas boêmios do século passado, errou feio, errou rude!
Recentemente o ministro da saúde, Ricardo Barros, reconheceu que nós brasileiros vivemos uma epidemia dessa doença que é sexualmente transmissível, uma DST.
O conteúdo a seguir é baseado no artigo do Motherboard, canal da Vice, que analisou os motivos de estarmos nessa cilada
O que é a sífilis e como é transmitida
Segundo a publicação, a sífilis é uma doença causada pela bactéria, a Treponema pallidum. A forma mais comum de transmissão é transando sem camisinha, mas também pode ser transmitida de mãe para filho durante a gestação (é o que se chama de sífilis congênita).
Quando a gente diz que transar sem camisinha pode transmitir a doença, temos que lembrar que sexo oral e anal também são “transas”, ok?
“Em meu consultório, recebo pacientes que estavam sendo tratados contra sapinho, mas descobriram que era sífilis. Toda vez que eles faziam sexo oral sem proteção, podiam estar transmitindo a bactéria.”, revela a infectologista Dra. Eliana Bicudo, da Sociedade Brasileira de Infectologia, ao Motherboard.
O não tratamento da doença, segundo a profissional, pode provocar lesões ósseas, neurológicas e cardíacas, levando à cegueira, paraplegia, demência e morte. A barra é pesada!
Já os recém-nascidos que contraem a bactéria durante a gravidez podem ter danos semelhantes aos do Zika. Sofrem com má-formação, surdez e deficiência mental. Muitas vezes a mãe pode até sofrer aborto espontâneo, revela a publicação.
Mas quais são os sintomas?
Essa é uma bactéria muito da esperta e pode demorar um pouco até que ela se manifeste. Na maioria das vezes, tudo começa com uma pequena ferida no pênis, na vagina ou no ânus que não dói e nem coça.
“Muitas vezes a ferida surge e o paciente resolve procurar o médico. Mas ela começa a sumir e ele pensa que está se curando sozinho. Na verdade, a pessoa continua carregando a bactéria e, se não se tratar, pode estar infectando outras pessoas.”, diz Dra. Bicudo
Ainda de acordo com a especialista, meses depois das feridinhas começam a aparecer sintomas mais evidentes, como manchas no corpo e, principalmente, nas palmas das mãos e plantas dos pés.
Você pode achar que está com uma alergia simples, mas já é algo grave dando sinais para você. É nessa fase que os médicos costumam fazer a maioria dos diagnósticos.
Somente depois de anos (sim, anos!), os sintomas ainda mais sérios dão as caras.
“Hoje em dia, temos visto um número cada vez maior de pacientes chegando aos consultórios nesse estágio, com lesões oculares ou em estado demencial. Até esses sintomas aparecerem, o indivíduo ficou anos transmitindo a doença”, conta a infectologista.
Então, nunca subestime nada de diferente que apareça em seu corpo. Procure logo um médico!
Mas é epidemia mesmo ou é só para assustar?
De acordo com a matéria, os casos da doença entre as mulheres grávidas – que são um grupo de risco – aumentaram em 202% desde 2010. Já entre 2014 e 2015, a doença entre futuras mamães subiu 20,9% e a sífilis congênita cresceu 19%, chegando a 19.228 casos em 2015.
Assim, de cada 1.000 nascidos vivos, 6,5 portavam a bactéria. No mesmo período de um ano, a sífilis cresceu 32,7% entre os adultos, chegando a 65.878 casos no ano passado. É muita gente doente!
E isso não está acontecendo só no Brasil, como alerta o infectologista do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da USP, Dr. Ricardo Vasconcelos:
“Essa epidemia acontece no mundo todo. A humanidade está passando por um aumento na transmissão de sífilis, mas no Brasil esse aumento é explosivo e atinge todos os grupos populacionais. Vemos isso no dia a dia nos nossos laboratórios” – revelou o profissional à publicação.
Antes tarde do que nunca, o Ministério da Saúde resolveu agir e tem feito campanhas alertando sobre os riscos da sífilis, incentivando as grávidas a fazerem o acompanhamento pré-natal completo e como é importante todos nós usarmos camisinha.
Por que isso tá acontecendo com a gente?
Segundo os especialistas consultados pela publicação, estamos nessa situação por dois motivos principais: perdemos o medo e estamos transando com mais pessoas.
“Na década de 90, os jovens tinham pavor de pegar HIV. Aos seis anos de idade, já ganhavam o primeiro pacote de camisinha da mãe. Naquela época, era comum conhecer alguém que morreu com a doença. Essa geração perdeu até mesmo ídolos, como Freddie Mercury e Cazuza, por causa do vírus.”, lembra Dr. Vasconcelos
Com os avanços da medicina nos tratamentos de doenças sexualmente transmissíveis, a nova juventude foi deixando a camisinha guardada no fundo da gaveta como se fosse só mais um método contraceptivo e servisse apenas para prevenir gravidez indesejada.
“É justamente entre os meninos de 15 a 19 anos que hoje aumenta o número de HIV e outras DSTs”, afirma o infectologista.
Ainda de acordo com o especialista, a situação se agrava pela facilidade de conseguir sexo sem compromisso hoje em dia, diferente das gerações anteriores. A ajuda dos aplicativos é um exemplo.
“Não é que os aplicativos promovam o sexo sem camisinha. Mas um jovem que já não costuma se proteger tem uma facilidade muito maior de fazer sexo e de se expor à doença.” explica Dr. Vasconcelos.
Sífilis tem cura
Depois de diagnosticada, a doença precisa ser tratada. Conforme os médicos infectologistas explicam na matéria do canal da Vice, os remédios mais usados para combater a bactéria são antibióticos à base de penicilina, como o (assustador) benzetacil. Estes que são encontrados gratuitamente em postos de saúde.
Uma única injeção já é o bastante para impedir que ela avance. E como em todas as doenças, quanto antes o tratamento começar, mais rápido é o processo de cura.
Penicilina – A cura está em falta
Existem efeitos colaterais que podem ser sentidos durante o primeiro dia do tratamento. Os sintomas são calafrios, febre, náuseas, dores nas articulações e dor de cabeça. A boa notícia é que esses sintomas não costumam demorar mais do que um dia.
A parte realmente ruim é que a penicilina está em falta nas prateleiras do Brasil desde 2014. Segundo os especialistas, isso acontece porque é um tipo de remédio que não dá tanto lucro à industria farmacêutica e aos grandes laboratórios por ser muito barato.
“A penicilina é uma droga muito usada, mas que custa muito pouco, na faixa de centavos. Por isso, os laboratórios não se interessam em produzir. As indústrias vinham avisando que ia faltar o remédio, mas o governo não fez nada.” , explica a infectologista Dra. Eliana Bicudo
A falta do remédio é ainda mais grave para os bebês com a tal sífilis congênita. O único tratamento recomendado para eles é com a penicilina cristalina, que tem de ser aplicada a cada 4 horas, mas que também está em falta, segundo a publicação.
Problemão, né? Mas calma, não vamos nos desesperar porque…
O compromisso do Ministério da Saúde
Felizmente, os remédios devem voltar às prateleiras agora que o Governo já reconheceu que estamos vivendo uma epidemia dessa bactéria trevosa!
“O Ministério da Saúde assumiu o compromisso de erradicar a sífilis congênita, e não tem como fazer isso se não tiver penicilina. Ele já se comprometeu a importar o medicamento”, afirma Dra. Bicudo.
Não tenha medo, faça o exame!
Os testes para diagnóstico da sífilis são rápidos e podem ser feitos de graça no Sistema Único de Saúde (o SUS nosso de cada dia). As gestantes devem fazer os testes durante o pré-natal.
“Muitas pessoas não querem fazer o exame com medo de que dê positivo. Essas são as que mais precisam fazer o teste”, diz Vasconcelos.
Já as outras pessoas devem fazer o teste sempre que se sentirem em risco ou praticarem sexo sem proteção.
“O ideal é que usem camisinha nas relações sexuais. Mas, se não usarem, mesmo no sexo oral, precisam fazer o teste. A pessoa tem que aprender a avaliar seu próprio risco e, se perceber que está vulnerável à doença, deve fazer o teste periodicamente.”, alerta o infectologista Dr. Vasconcelos