Cansou daquele amigo chato que fica se achando por fazer engenharia? Não aguenta mais zoarem que você aprende a bater palma para o Sol e a vender miçanga no seu curso? Leia a história a seguir para entender como você, e as ciências humanas, são importantes para o mundo.
“Nós tÃnhamos um monte de engenheiros, mas nenhum deles conseguia agradar esse cliente”. A fala é de Eric Berridge, consultor da IBM, que relatou em uma palestra no programa Ted Talks o episódio que contribuiu para que uma das maiores empresas de tecnologia do planeta tenha entre seus funcionários (cerca de 1000), “menos do que 100 graduados em ciência da computação e engenharia”.
Segundo ele, há cerca de dez anos atrás a IBM passava por um problema. Os engenheiros da empresa não conseguiam achar uma ferramenta de programação que desenvolveria o pedido do cliente: desenvolver o sistema de nuvem mais moderno possÃvel.
O sucesso valeria à IBM 200 milhões de dólares. A equipe da multinacional reagiu ao fracasso em conseguir resolver o problema e à iminente perda do negócio milionário na reunião do dia seguinte de forma compreensÃvel, indo para o bar.
“Estávamos curtindo com o nosso bartender (o Jeff) e ele estava fazendo o que todo bom bartender faz: entendendo nossa dor enquanto nos fazia sentir melhor. Ele nos dizia coisas como: ‘eles estão exagerando, não se preocupem’, até finalmente sugerir: por que vocês não me colocam na reunião?”

No dia seguinte, pouco antes da reunião com o cliente, a equipe de ressaca concordou com a sugestão/piada de Eric: “Estamos prestes a ser demitidos, por que não mandamos o Jeff?”.
A ideia não era completamente louca, como explicou Berridge “ele era brilhante, e podia discutir a fundo”. Ele não era programador ou engenheiro, mas pelo menos tinha quase se formado em um curso na universidade, o de Filosofia.
“Ele completamente desarmou a fixação deles na ferramenta de programação. Ele mudou a conversa, até mudou o que estávamos construindo. A conversa agora era sobre o que irÃamos construir e o porquê disso. Sim, o Jeff descobriu como programar a solução, e o cliente se tornou umas das nossas melhores referências. Nossa experiência com ele nos deixou imaginando: podemos repetir isso em nossos negócios?”
Como conta Eric, cerca de dez anos depois, o episódio mudou a forma como a companhia recruta e treina seus contratados. A IBM que tinha 200 funcionários (metade destes formados em ciência da computação e engenharia) se tornou a empresa que gerou lucro lÃquido de US$ 1,679 bilhão no primeiro trimestre de 2018,  com mais de 80% de seus empregados não-provenientes destes dois cursos.
Segundo o palestrante, “Nós começamos a recrutar artistas, músicos e escritores. A história do Jeff começou a se multiplicar pela nossa empresa”.
O empreendedor explicou que a empresa vai na contramão de uma tendência mundial, de investir em educação baseada em “STEM” (traduzida para português, a sigla diz respeito à s áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), descrita por ele como “um erro colossal”.
Ele explicou, dizendo que o fato de grande parte da tecnologia de hoje em dia ser “incrivelmente intuitiva” e o fato de sistemas modernos serem manipulados sem a necessidade de programação especializada, faz empregados de outras áreas do conhecimento se tornarem mais importante para as empresas.
“As habilidades que são imperativas e diferenciadas em um mundo com tecnologia intuitiva, são as habilidades que nos ajudam a trabalhar em conjunto como humanos. Onde o trabalho duro visa o produto final e sua utilidade, o que requere experiência no mundo real, julgamento e contexto histórico.”
Na sua fala, Eric defendeu que enquanto ciências exatas ensinam “como construir coisas”, são as humanas que ensinam “o que construir e por que construir”, considerando-as igualmente importantes e difÃceis.
No final da palestra, ele garantiu que cursos “STEM” não são piores nem menos importantes que os que estão inseridos na sigla “STEAM” (o “A” se relaciona à Arte): “Para a próxima ponte que passarmos, ou o elevador que subirmos, vamos garantir que um engenheiro esteja por trás disso”.
O tom do discurso foi o de valorização das ciências humanas, em uma busca pelo equilÃbrio maior em empresas e faculdades.
“Se tem uma coisa que a força de trabalho do futuro precisa (e acho que todos nós podemos concordar nisso), é diversidade. Essa diversidade não devia se resumir a gênero ou raça. Nós precisamos de diversidade de áreas e de habilidades (…). E o fato da tecnologia estar se tornando mais fácil e acessÃvel libera essa força de trabalho para estudar o que bem entenderem”.
Eric Berridge também é bacharelado em inglês pela Universidade de Berkeley e co-fundador da Bluewolf, uma agência global de consultoria da IBM. Veja abaixo a palestra completa: