Mesmo sendo crime e a gente já sabendo como denunciar, não é difÃcil encontrarmos na rede comentários de ódio, cheios de preconceitos. Quando o assunto é religião então, nem se fala.
Mas precisamos tocar nessa ferida. Pois, segundo a ciência, todas as religiões e filosofias possuem a mesma essência, o que muda é apenas a maneira como a representamos.
Carl Jung, considerado o pai da psicologia analÃtica, descobriu que cada pessoa, além de seu inconsciente único, também tem elementos compartilhados com outras pessoas, mesmo morando em continentes diferentes e em séculos diferentes, o que ele chamou de inconsciente coletivo.
Essa descoberta deu vida a tese dos arquétipos, que são justamente essas referências universais comuns à todos nós. Eles são a essência, a base que forma todo o nosso inconsciente.
Você pode se aprofundar mais nesse assunto através da obra “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, de Carl Jung, publicado na Ãntegra no blog especializado na área da saúde e educação Conexões ClÃnicas.
Para o psiquiatra, as religiões do mundo inteiro fazem representações naturais desse inconsciente coletivo, uma leitura de uma série de conceitos comuns à todos nós, como a figura do herói, do grande pai, da grande mãe, etc. Teoria que foi aprofundada através deste estudo, desenvolvido pela UFJF.
Para ficar mais fácil de entender, pense no conceito de Deus.
Para qualquer uma das religiões monoteÃstas, Deus, tirando os rótulos e crenças particulares, é uma energia superior que cria a vida. Isso é um conceito arquetÃpico pois tem o mesmo significado para todos, independente da cultura.
O meu Deus é o mesmo que o seu?
Se focássemos nessa representação universal, do real significado, certamente não existiram tantas divergências, e não só as religiosas. Porém, há um outro termo da psicologia responsável por causar toda a treta. Os sÃmbolos.
Se os arquétipos são comuns à todos, os sÃmbolos são as representações particulares ou coletivas (de um determinado grupo) para “ilustrar” esses conceitos com mais clareza, seja com nomes, imagens, etc. Sendo que estes só podem ser consideradas sÃmbolos quando evocam algo mais que seu simples significado.
Por exemplo, para evocar o significado da energia criadora, alguns deram o nome de Deus, os cristãos ainda a imaginaram como um senhor velho e barbudo, muito ligado ao arquétipo ordenador do pai.
O sÃmbolo é como se fosse um “casco” que vestimos sobre o arquétipo para podermos assimilar melhor os seus conceitos, porém, esse sÃmbolo não é definido pelo inconsciente coletivo, mas por questões referentes a uma determinada cultura, ao modo como aquele determinado povo se desenvolveu. Ele é criado de forma consciente.
A visão de Deus como um senhor barbudo que muitos católicos possuem, trata-se de um sÃmbolo para representar sua energia arquetÃpica, e o mesmo se faz em outras culturas, só que com leituras que não se limitam ao arquétipo do grande pai, como os cristãos, por exemplo.
Alá, Tupã, Olorum, Javé, Zeus, Shiva, etc., embora usem simbologias diferentes, também representam o mesmo tipo de energia (Deus) – mesmo ligados a outros arquétipos, como por exemplo o da grande mãe.
Sabendo desse processo psÃquico comum à todos os seres humanos, fica mais fácil enxergar o outro como semelhante, diminuindo o preconceito, aumentando a empatia e a percepção sobre as diferentes interpretações que permeiam a nossa vida.
Independente da sua religião ou filosofia, se prega a paz o amor e respeito entre todos, não deveria ser tão importante o nome que você usa ou o tipo de ritual que acredita ser mais eficiente.
O que importa é se a essência é boa; o resto é perfumaria.