Em Berlim sozinha: Como combati minha timidez na frente de 500 Pessoas
Eu já publiquei aqui uma lista de motivos para viajar sozinho e um deles é a possibilidade de ser/fazer quem/o que você quiser, sem julgamentos e olhares tortos das pessoas que já te conhecem.
Quando você viaja sozinho, o anonimato está ao seu favor. Caso faça algo que dê errado, pessoas podem rir de você. Caso faça algo que dê muito errado, com resultado desastroso, pessoas vão rir e…te esquecer no próximo minuto!
E, caso esse algo dê certo, a sua reação automática pode ser a de querer compartilhar o feito com alguém, mas, a sensação de fazer o inusitado em um lugar onde ninguém te conhece é preciosa.
Por esse motivo, quando viajo, procuro fazer coisas que talvez não faria na minha própria cidade ou na companhia de conhecidos. Vi no Lugar Incomum que um karaokê aberto era um dos programas de domingo mais legais de Berlim (para quem canta e para quem assiste). Então, planejei a minha viagem para passar pelo menos um domingo na cidade e fazer parte do time que canta.
(Passar domingos sozinha em casa pode ser depressivo mas, domingos em cidades diferentes costumam ser os melhores dias da semana, vai por mim! Normalmente, domingo é dia de brunch, feirinhas gastronômicas, foodtrucks – vejam que tudo que envolve comida, tô dentro! -, mercados de pulgas, muita gente e cachorros correndo nos parques, enfim…)
Só que eu tenho o hábito de enfiar na minha cabeça que vou fazer tal coisa e depois, quando vejo que vai mesmo acontecer, fico nervosa e quase me arrependo. Até porque, no fundo, sou tímida, apesar de não parecer.
Vocês devem estar pensando “Por que raios essa menina está fazendo um drama para cantar num karaokê?!”.
Gente, vocês não tem noção! Quando as inscrições abriram e a cantoria começou, ainda estava bem vazio. Mas, aos poucos, foi chegando gente e mais gente!
A minha mão suava e a sorte é que ao meu lado havia sentado uma menina parecida com a Scarlett Johansson e esse foi a minha deixa para puxar papo e ~me acalmar~. Ela era super legal e foi quem filmou a minha apresentação.
Eu já tinha ouvido falar que o dono do karaokê não deixava ninguém cantar Zombie ou Linger (esse cara deve ter algum problema sério com os The Cranberries, só pode.).
Pensei em todas as músicas que poderia cantar e cheguei à conclusão de que não havia mais nenhuma que representasse tão bem o nosso país àquela altura. Adivinhem qual era? Sim, Mr. Michel Teló estava bombando no mundo todo em 2012. “Ai se eu te pego” tocava, pelo menos, umas três vezes durante uma noitada em boates européias.
Esperei cerca de duas horas ouvindo cantores péssimos, bons e maravilhosos passarem pelo palco. Apesar do meu nervosismo, eu não poderia deixar o pobre homem me chamar ao microfone e eu não aparecer. Não podia arregar, afinal, essa seria uma das histórias de viagem que eu contaria para meus futuros filhos.
Meu maior medo era a indiferença. Não queria que ficassem conversando enquanto eu cantava. Eu estava me prestando aquele papel e queria o mínimo de atenção, poxa!
Quando comecei os primeiros versos, a multidão fez “Uuuuhh” (mas, um “uuhh” bom, de quem estava surpreso e animado.) e começou a acompanhar. Naquele momento, agradeci mentalmente ao Michel Teló por aquela – obra prima – eternizada aos quatro cantos. Ah, ainda teve uma dancinha de tão animada que fiquei na hora. Kkkk
Eu sou péssima com números (sou de Humanas), mas acho que tinham umas 500 pessoas me assistindo naquele dia. A Scarlett não filmou a plateia toda, mas vocês podem ter uma ideia no vídeo abaixo.
O dia em que quase morri de vergonha por ohthais
Acharam que eu ia revelar como foi a apresentação inteira? Nada disso, vai comigo para o túmulo! Afinal, é para isso que eu viajo sozinha! 😛
Acabei a música, entreguei o microfone e, no minuto seguinte, começou a chover. Não uma chuvinha qualquer, um temporal mesmo, de fazer todo mundo sair correndo! Não sei se foi reação dos céus pela minha belíssima voz só que não ou para abençoar o momento. Aqueles momentos que você tem quando viaja sozinho e por puro medo, pensa que não vai conseguir fazer tal coisa (ainda mais sem o apoio de amigos conhecidos) mas, consegue.
E aí, você sai com um enorme sorriso no rosto e já começa a pensar em qual próxima estripulia e limite você quer ultrapassar, porque você se sente poderoso!
Depois disso, conheci muitas pessoas em Berlim e contei o que havia feito para todas elas. As pessoas ficavam maravilhadas e diziam que tinham vontade de fazer o mesmo (inclusive, algumas estavam lá nesse dia!) mas, não tiveram a coragem.
É interessante traçar esse paralelo de como amigos podem te deixar mais corajosos e à vontade ou, o completamente inverso, podem te deixar mais medrosos, receosos, o tal “Ah, deixa isso pra lá. Vamos voltar logo para o hostel.”.
E, o melhor pró é que no caso de você pagar um micão internacional, não vai ter ninguém para ficar lembrando dos seus tropeços e derrotas depois, a não ser que você conte.
Se você tiver de malas prontas para Berlim…
…aproveite que a primavera chegou e o parque e o karaokê devem ficar abertos até lá para o final de outubro, mais ou menos.
O karaokê se chama Bearpit e é montado no anfiteatro do Mauerpark, no bairro de Prenzlauer Berg. Todos os domingos, desde que o tempo esteja bom, o criador leva sua bicicleta, um computador portátil e caixas de som para fazer a alegria da galera. O mais incrível é que ele faz isso desde 2009!!!
Para ter certeza se vai rolar a apresentação ou não, a boa é ficar ligado na página do Facebook do evento.
E vocês, o que acham? Que viajar sozinho te faz mais corajoso-incrível-poderoso ou não? Quero sinceridade, hein, gente!