Registraram o lixo que geramos em apenas 4 anos de uma forma inusitada
Você já parou para pensar sobre o impacto do lixo que você descarta todos os dias para o meio-ambiente? Bem, na verdade aquela garrafinha de plástico ou aquela caixa de leite podem não ser tão insignificantes quanto você imagina.
No dia-a-dia costumamos esquecer ou ignorar a enorme quantidade de lixo que descartamos. Mas, se pudéssemos juntar todas as embalagens plásticas, os papeis, as garrafas e tantos outros objetos que descartamos dia após dia, com certeza terminaríamos com montanhas de lixo no meio da nossa sala.
Foi exatamente o que o fotógrafo francês Antoine Repessé fez em seu ensaio fotográfico #365Unpacked, a fim de mostrar ao mundo qual o impacto que o consumo desenfreado de produtos e o descarte constante criam para o acúmulo de lixo no mundo.
Tudo começou em 2011, quando Repessé passou a acumular o lixo reciclável que produzia. O fotógrafo, que vive na cidade de Lille no norte da França, contou com cerca de 200 amigos e colegas que o ajudaram a coletar aproximadamente 70 metros cúbicos de lixo.
Foram quatro anos sem descartar o material coletado até o término do #365 Unpacked, em 2015. O fotógrafo reuniu 1.600 garrafas de leite, 4.800 rolos de papel higiênico e 800 kg de jornais.
Isto o ajudou a classificar o lixo e causar maior impacto visual em relação à enorme quantidade de lixo que consumimos, mesmo quando consideramos apenas um tipo de produto. O objetivo de Repessé era produzir fotos perfeitas, capazes de evocar algo perturbador.
Ele também revelou que cada foto levou até 10 horas para ser feita, necessitando de um processo trabalhoso de transporte do lixo acumulado até o local onde a sessão fotográfica seria realizada. Porém, todo o trabalho valeu a pena, e o ensaio resultou em imagens incríveis!
A questão da invisibilidade do problema do acúmulo de lixo em nosso dia-a-dia e do impacto dos nossos hábitos de consumo e de descarte de resíduos não poderia ser abordada por Repessé em um momento mais apropriado.
O mundo passa por uma situação ambiental alarmante, onde 7 a 10 bilhões de toneladas de lixo são produzidos a cada ano em regiões urbanas e mais de 3 bilhões de pessoas não tem acesso a locais apropriados de despejo de lixo, segundo dados do Panorama do Gerenciamento Global de Lixo.
E não para por aí! A estimativa é que até 2030 a quantidade de lixo dobrará em cidades africanas e asiáticas de baixa renda.
O Global E-waste Monitor 2017, um documento sobre o lixo eletrônico descartado no mundo, produzido pela Universidade das Nações Unidas, revelou que 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico foram geradas em 2016, e a estimativa é que em 2021 sejam gerados mais de 50 milhões.
Já o plástico, um dos vilões da poluição ambiental pelo acúmulo de lixo, foi apontado por Antônio Guterres, secretário geral da ONU, como um dos tipos de resíduos prejudiciais que tem inundado o mundo. Segundo Guterres, mais de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos acabam nos oceanos anualmente.
Estatísticas do Banco Mundial estimam que o volume de resíduos urbanos apresentará crescimento de 1,3 bilhão de toneladas para 2,2 bilhões de toneladas no ano de 2025. Sem dúvidas, a situação é terrível, e cada garrafinha que descartamos da maneira errada contribui para o aumento do caos, como as fotos de Repessé nos mostram.
Mas qual é o nosso papel neste cenário?
Como consumidores e produtores de lixo podemos melhorar e até mesmo reverter esta situação por meio do consumo consciente e da prática correta de descarte, com separação correta do lixo e reciclagem. Porém, embora estas práticas estejam se popularizando, os dados atuais apontam que estamos muito longe do ideal.
Desde 1950, os seres humanos foram responsáveis por gerar 8,3 bilhões de toneladas métricas de plástico e 6,3 bilhões de toneladas deste montante se tornaram resíduos, sendo que apenas 9% foi reciclado.
Já em relação aos 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico apontados pelo Global E-waste Monitor 2017, apenas 8,9 milhões de toneladas foram reciclados.
No Brasil, a situação não é menos preocupante. Dados do Plano Nacional de Resíduos Sólidos mostram que apenas 3% do lixo produzido no Brasil é reaproveitado, embora 30% tenha potencial de reciclagem.
Já uma pesquisa realizada no Brasil em maio de 2018 mostrou que 75% das pessoas afirmam não separar o lixo reciclável em casa e 66% afirma saber nada ou pouco sobre a coleta seletiva.
Com a baixa conscientização das pessoas em relação ao descarte de lixo no Brasil e em outras partes do mundo, o #365Unpacked ocupa um papel de extrema importância na construção de uma visão mais realista e consciente por parte das pessoas em relação ao tema.
O impacto que as fotografias de Repessé, que escancaram a quantidade de lixo que produzimos e acumulamos direta ou indiretamente no mundo, causa logo à primeira vista, nos inspira a refletir sobre nossos próprios hábitos de consumo e descarte de lixo.
Será que estamos fazendo a nossa parte para modificar este cenário ou apenas nos tornando cada vez mais consumistas, sem qualquer preocupação com o acúmulo de lixo dia após dia?
Repessé afirmou que espera que este projeto fotográfico possa inspirar mudanças e, com certeza, ele já tem atingido o seu objetivo. Afinal de contas, uma imagem pode mesmo valer mais que mil palavras.
Veja outras das fotos do projeto #365Unpacked:
Eles inclusive fizeram um teaser sobre o projeto (em inglês):
#365 UNPACKED TEASER from #365UNPACKED on Vimeo.
Bustle, Nações Unidas, ITU, UNEP, Correio Braziliense, Science Advances, Fragmaq, Folha de S. Paulo, Bored Panda