Essa é quente

Esse cara virou modelo de roupa feminina para ensinar uma lição importante (ou duas!)

16 de maio de 2018
Postado por Ericka Guimaraes

Você quer comprar brusinhas novas, mas o seu bolso tá vazio e o seu armário tá cheio de brusinhas velhas. O que você faz? Monta um brechó, é claro!

Foi justamente o que a estudante Ane Jones, de 17 anos, fez. Colocou suas roupas à venda na internet. O problema é que logo após o anúncio, ela passou a ser assediada pelos usuários da plataforma de vendas.

Homens se acharam no direito de mandar mensagens bastante impróprias e até fazer convites para programas e participação em filme pornô. Tudo isso porque Ane “ousou” usar o seu próprio corpo como manequim.

Arquivo pessoal

SEM LEGENDA

“Quando eu recebi as primeiras mensagens me senti assustada. Mas não com aquele sentimento de ‘ó, não acredito’, mas sim com a sensação de indignação, porque aquilo ali não era o ‘ambiente’ adequado para isso. Pensei assim no primeiro momento e logo depois lembrei de tudo aquilo que eu, como mulher, infelizmente estou sujeita a passar.”, desabafou Ane.

Ela só queria vender suas roupas na internet, como muita gente. Mas o que recebeu em troca foi um show de machismo, misoginia e virou mais um caso para as estatísticas de assédio contra as mulheres.

Para denunciar a situação, uma tática inusitada: uma “troca de lugares”

Em conversa com o namorado, Gabriel Manhães, apesar do terrível comportamento de uma parcela dos homens, eles decidiram brincar um pouco com a situação. Foi quando ele pediu para vestir as roupas do brechó, tirar fotos e compartilhar para fazer as pessoas refletirem. A postagem viralizou:

“Nós dois não imaginávamos que teria essa repercussão, muita gente apoiou, outras tentaram ‘afetar’, umas não entenderam que o sentido era fazer uma crítica e fizeram comentários do tipo “porque não comprou um manequim?”, conta Gabriel.

Apesar do alerta bem humorado e competente que a publicação conseguiu dar sobre o machismo, alguns comentários mostraram outro lado bizarro de uma parcela dos cuecas.

A tal ‘Masculinidade Frágil’

Para um usuário do Twitter, o Gabriel queria “aparecer ou dar o c*”.

O namorado da Ane é gay? Não é a roupa que vai dizer.

Aparentemente, colocar um vestido tirou o direito do Gabriel de ser “macho”. Quando a sociedade define “coisas de menina” e “coisas de menino”, ela quer reduzir as experiências do homem e afastá-las de qualquer traço de “feminilidade”.

Porque para o machista e/ou homofóbico, é ruim se aproximar do gênero feminino, já que ele o considera inferior. Então, homem que é homem não pode usar vestido. Mas desde quando um pedaço de pano tem o poder de definir quem é homem, quem é mulher, quem gosta de homem ou quem gosta de mulher?

Apesar das críticas…

A publicação teve respostas muito positivas, inclusive para o negócio da Ane, e abriu espaço para que outras mulheres compartilhassem suas histórias.

“Eu, na verdade, já desisti das vendas na OLX. Não valia a pena ter que passar por aquela situação, porque não me voltava em nada positivo. A visibilidade do meu Instagram superou magicamente as nossas expectativas. Muitas pessoas entraram em contato não só para fechar negócio, mas também para conversar sobre o ocorrido, e muitas já passaram pelo mesmo que eu”, Ane explica.

A Think Olga organizou um tutorial para denúncia de violência online. A ONG responsável por outras campanhas de conscientização como “Chega de Fiu Fiu” e #meuprimeiroassedio quer também mostrar que “o mundo virtual não é terra sem lei” e que existem ferramentas adequadas para fazer as denúncias.

Questionada se manteria o namorado como modelo do brechó, Ane respondeu com bom humor: “Acho difícil por conta do tamanho das peças, mas, se ele quiser… por que não? Até porque, tem homem que usa essas roupas não é?”

Arrasou, Ane!

'@bielmanhaes00 - Twitter, Think Olga

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