Esse cara virou modelo de roupa feminina para ensinar uma lição importante (ou duas!)
Você quer comprar brusinhas novas, mas o seu bolso tá vazio e o seu armário tá cheio de brusinhas velhas. O que você faz? Monta um brechó, é claro!
Foi justamente o que a estudante Ane Jones, de 17 anos, fez. Colocou suas roupas à venda na internet. O problema é que logo após o anúncio, ela passou a ser assediada pelos usuários da plataforma de vendas.
Homens se acharam no direito de mandar mensagens bastante impróprias e até fazer convites para programas e participação em filme pornô. Tudo isso porque Ane “ousou” usar o seu próprio corpo como manequim.
“Quando eu recebi as primeiras mensagens me senti assustada. Mas não com aquele sentimento de ‘ó, não acredito’, mas sim com a sensação de indignação, porque aquilo ali não era o ‘ambiente’ adequado para isso. Pensei assim no primeiro momento e logo depois lembrei de tudo aquilo que eu, como mulher, infelizmente estou sujeita a passar.”, desabafou Ane.
Ela só queria vender suas roupas na internet, como muita gente. Mas o que recebeu em troca foi um show de machismo, misoginia e virou mais um caso para as estatísticas de assédio contra as mulheres.
Para denunciar a situação, uma tática inusitada: uma “troca de lugares”
Em conversa com o namorado, Gabriel Manhães, apesar do terrível comportamento de uma parcela dos homens, eles decidiram brincar um pouco com a situação. Foi quando ele pediu para vestir as roupas do brechó, tirar fotos e compartilhar para fazer as pessoas refletirem. A postagem viralizou:
Então galera,minha namorada tem um brechó online,no Instagram,e há um tempo atrás ela postou fotos na OLX vestindo as peças e foi muito assediada. Resolvemos agora que sou o manequim porque essa situação abala nossa paciência, não minha masculinidade. Agora confiram o brechó + pic.twitter.com/okppq3xJlX
— GM™ ☀️ (@bielmanhaes00) 13 de maio de 2018
“Nós dois não imaginávamos que teria essa repercussão, muita gente apoiou, outras tentaram ‘afetar’, umas não entenderam que o sentido era fazer uma crítica e fizeram comentários do tipo “porque não comprou um manequim?”, conta Gabriel.
Apesar do alerta bem humorado e competente que a publicação conseguiu dar sobre o machismo, alguns comentários mostraram outro lado bizarro de uma parcela dos cuecas.
A tal ‘Masculinidade Frágil’
Para um usuário do Twitter, o Gabriel queria “aparecer ou dar o c*”.
To querendo incomodar esse tipo de gente pic.twitter.com/BTRHaC4bSw
— GM™ ☀️ (@bielmanhaes00) 14 de maio de 2018
O namorado da Ane é gay? Não é a roupa que vai dizer.
Aparentemente, colocar um vestido tirou o direito do Gabriel de ser “macho”. Quando a sociedade define “coisas de menina” e “coisas de menino”, ela quer reduzir as experiências do homem e afastá-las de qualquer traço de “feminilidade”.
Porque para o machista e/ou homofóbico, é ruim se aproximar do gênero feminino, já que ele o considera inferior. Então, homem que é homem não pode usar vestido. Mas desde quando um pedaço de pano tem o poder de definir quem é homem, quem é mulher, quem gosta de homem ou quem gosta de mulher?
Apesar das críticas…
A publicação teve respostas muito positivas, inclusive para o negócio da Ane, e abriu espaço para que outras mulheres compartilhassem suas histórias.
“Eu, na verdade, já desisti das vendas na OLX. Não valia a pena ter que passar por aquela situação, porque não me voltava em nada positivo. A visibilidade do meu Instagram superou magicamente as nossas expectativas. Muitas pessoas entraram em contato não só para fechar negócio, mas também para conversar sobre o ocorrido, e muitas já passaram pelo mesmo que eu”, Ane explica.
A Think Olga organizou um tutorial para denúncia de violência online. A ONG responsável por outras campanhas de conscientização como “Chega de Fiu Fiu” e #meuprimeiroassedio quer também mostrar que “o mundo virtual não é terra sem lei” e que existem ferramentas adequadas para fazer as denúncias.
Questionada se manteria o namorado como modelo do brechó, Ane respondeu com bom humor: “Acho difícil por conta do tamanho das peças, mas, se ele quiser… por que não? Até porque, tem homem que usa essas roupas não é?”
Arrasou, Ane!