O poder do dubstep para acalmar cachorros: funciona mesmo?
Nada melhor que a música para acalmar os ânimos, não é mesmo? Ao que parece cachorros também gostam e tem uma preferência pelo estilo dubstep. A seguir vamos entender se isso tem fundamento científico.
O estilo musical que acalma cachorros
Se a música já tem um poder de gerar estímulos na gente, seja para relaxar, agitar ou concentrar, imagine nos cachorrinhos, que são mais sensíveis aos sons? E isso é comprovado cientificamente. Mas será que isso funciona com o dubstep?
Surgido em Londres, nos anos 90, o dubstep é um gênero de música eletrônica que tem o seu som definido como “linhas de baixo muito fortes e padrões de bateria reverberantes, samples cortadas e vocais ocasionais.”
Mas esse estilo musical tem alguma relação com os cachorros? Segundo Louise Potts, funcionária de uma creche de cães na Inglaterra, sim. Ela afirma que ele foi o som ideal para acalmar os doguinhos no local.
Em um vídeo no TikTok, Louise explicou que o som de dubstep foi colocado em alto-falantes no ambiente e isso manteve todos os cães calmos.
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“Se você trabalha com muitos cães, sabe que qualquer um fica louco, eles podem latir muito, ficar agressivos ou estão apenas brincando demais.
Tentei várias coisas para acalmá-los e a única coisa que funcionou foi conectar o celular a um alto-falante com bluetooth e tocar dubstep. Eu sei que isso parece loucura, mas eu juro que isso funciona”, garantiu.
A tiktoker afirmou que tentou outros tipos de sons, como música de meditação, música pop e até música calmante para cachorros. Mas somente o dubstep funcionou.
“Eu não consigo explicar esse fenômeno. Eu não sou uma treinadora profissional de cães, mas isso funciona e só queria compartilhar com vocês também tentarem fazer”.
Inclusive ela gerencia a playlist “Dogstep” no Spotify e compartilha com os seus seguidores no Tiktok.
Dubstep realmente acalma cachorros?
Apesar de não haver um estudo específico para o dubstep, a ciência explica que tocar música reduz o estresse em cães que vivem em abrigos de animais.
O estudo “O efeito de diferentes gêneros musicais nos níveis de estresse de cães em canis”, divulgado no site ScienceDirect, destacou que o enriquecimento auditivo causa mudanças comportamentais e fisiológicas positivas em cães em canis.
Assim, diferentes gêneros musicais, particularmente a clássica, Soft Rock e Reggae, foram associados com o comportamento mais relaxado.
“Especificamente sobre os efeitos do dubstep nas mudanças de comportamentos nos cães, eu não conheço nenhum estudo que tenha validado cientificamente os efeitos.
Mas sabemos que a música exerce influência nas emoções e consequentemente nos comportamentos, seja de forma positiva ou negativa”, destacou a estudante de veterinária e treinadora de cães e gatos, Denise Falck, especialista em comportamento animal e coordenadora no Instituto De Saúde E Psicologia Animal Consultoria (Inspa).
De acordo com a especialista, há vários anos, pesquisadores da área de bioacústica vêm trabalhando na compreensão dos efeitos que diferentes estilos musicais podem provocar nos animais.
A veterinária completou que a música clássica é bastante estudada, porque houve comprovação que existe uma influência bastante positiva e que os cães, que parecem gostar e desfrutar dos sons. Outros gêneros também são estudados, alguns estudos são mais conclusivos que outros.
Testando o dubspet na prática
Para testar a experiência, reuni os cãezinhos Nick e Gina, dois peludos da raça Shih-tzu, ambos com 2 anos de idade. Dois jovens cães de comportamento peralta.
Ao tocar a playlist de dubstep, tanto Nick quanto Gina que estavam em movimento, se deitaram e aparentemente ficaram quietos, mas não necessariamente poderíamos confirmar se estavam relaxados.
Ambos prestaram atenção no ambiente, escutaram o som e esboçaram reações como coceiras, lambidas e bocejos.
Acompanhe os vídeos abaixo:
Denise Falck afirma que a observação do comportamento animal envolve uma série de fatores, como som ambiente, se há a presença de humanos e outros animais, entre outros agentes do contexto geral. Seja uma televisão ligada, um carro passando na rua ou um barulho no ambiente vizinho.
Ao analisar tanto os vídeos de Nick e Gina, quanto no TikTok, a veterinária afirmou que não há como fazer uma análise evidente.
“Não afirmo com segurança que os cães estão confortáveis nessa situação. O Nick está quieto mas de repente se coça. Essa coceira pode ser normal ou um sinal de desconforto ao som. É uma maneira sutil. A Gina também prestou atenção, mas coçou a pata, como um sinal de não se sentir bem”, explicou.
A treinadora enfatizou que cada cão tem a sua forma de emitir os sinais de desconforto ou relaxamento, e por isso o tutor deve prestar atenção para entendê-los.
Por isso, há casos em que o dubstep pode ser incômodo para alguns cães, mas em outros, pode ser interessante.
Efeito da música em animais
Mas os cães realmente gostam de ouvir música? Essa preferência pelos sons pode variar de acordo com cada animal, enfatiza Denise. E vale lembrar que a audição dos doguinhos é bem diferente da nossa.
“Os cães têm uma capacidade auditiva bem superior à capacidade humana, enquanto um humano ouve sons no espectro de 20Hz a 20kHz, os cães são capazes de ouvir sons no espectro de 10Hz a 40kHz, ou seja, se trata de um espectro bem superior ao nosso, isso permite escutar sons com muito mais precisão e acuidade, além de poder identificar com muita facilidade a origem do som”, explicou Denise.
Por esta razão, a música pode ser usada para os cães em situações que favoreçam o bem estar, como forma de diminuir estresse e ansiedade.
Contudo, vale a pena comentar que, como nós humanos temos a tendência de projetar em nossos animais nossas próprias preferências, incluindo a música, nem sempre o efeito é o esperado.
“Ou seja, não é porque gostamos de Bach, Mozart ou Bethoven que nosso cãozinho também vai gostar. Talvez essa seja a contraindicação número um, não projetar neles as próprias preferências musicais”, disse a veterinária.
Outra coisa muito importante para levar em consideração, segundo Denise, é que alguns cães têm mais sensibilidade a ruídos, inclusive existem pesquisadores investigando a relação entre presença de dor e a sensibilidade a ruídos,
“Então, se temos um cão que demonstra mais sensibilidade aos ruídos normais do dia a dia, é recomendável, antes de tudo, uma avaliação clínica com o médico veterinário para descartar possíveis quadros de dor”, alertou.
É claro que ruído não é música, mas dada a relevância é importante estar atento para que o estilo musical escolhido não gere um efeito aversivo no cão.
Descartando esses casos, que podem ser mais delicados, é importante observar quais os efeitos que cada música produz no animal.
Se a música provoca agitação, tremor, lambedura, inquietude, tentativa de fugir do local, ou se o cão se mostra amedrontado quando em contato com determinada música, pode ser que o estilo musical não seja o adequado para ele.
ScienceDirect, Preventive Vet, Dog House Times, https://doghousetimes-com.translate.goog/dogs-music/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=nui, Petz