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‘1984’ é agora: Descobriram que o iPhone organiza as nudes automaticamente

14 de novembro de 2017
Postado por Dario

A novidade da vez foi revelada ao mundo no Twitter, uma usuária descobriu que o iPhone é capaz de reconhecer e organizar suas fotos em pastas temáticas criadas pelo próprio sistema.

Apesar de ser uma ferramenta aparentemente útil, já que assim é mais fácil encontrar aquela foto da turma no clube digitando apenas “piscina” no campo de busca, o que chamou a atenção da galera são os nomes curiosos das pastas, uma delas o titulo é “Brassiere”, sutiã em português.

– Atenção todas as garotas!!! Vá em fotos e digite “sutiã” porque a Apple está salvando todas essas fotos e criou até uma pasta!!??!!

O pessoal do Huffington Post da Austrália decidiu testar se a informação divulgada era verdadeira, e para o espanto da redação foram encontradas pastas de imagens com nomes ainda mais bizarros.

Huffington Post AU, http://www.huffingtonpost.com.au/2017/11/01/the-weird-photo-folders-you-never-knew-your-iphone-had_a_23262833/

Pasta “caixa idiota” criada pela Apple onde foram inseridas as fotos onde uma televisão era reconhecida.

“Idiot Box”, algo como “caixa idiota” é uma pasta com fotos onde apareciam televisões. “Grub“, que traduzido seria algo como “boia” ou “rango”, continha todas as fotos onde o tema “comida” tinham grande destaque, e assim por diante.

Você que está cheio de nudes nesse celular, já imaginou qual o nome a Apple deu para a sua pasta de fotos comprometedoras? Mas ainda pior, quem está vendo essas fotos para organizá-las de uma forma tão efetiva?!

A Apple espia responde

De acordo com o site da empresa, não tem nenhum estagiário bisbilhotando as suas fotos e criando pastinhas divertidas para ela. A ferramenta em questão já havia sido lançada juntamente com o sistema operacional iOS, ela utiliza um software já embutido nos celulares que reconhece pessoas e até objetos.

É esse software que identifica na imagem uma TV, por exemplo, e automaticamente cria a pasta equivalente. Quanto aos nomes estranhos das pastas, a Apple não entrou em detalhes, mas ao que tudo indica, tudo estaria sendo feito de forma automática e sem um propósito real. Parece que esse “sistema” andava bem revoltado quando criou a pasta “Idiot Box”.

Basicamente, é da mesma forma que funciona a ferramenta de busca de imagens da Google que, além de contar com os algoritmos que analisam o nome e a fonte do arquivo, também utiliza esse reconhecimento de imagem.

Inclusive, o serviço já foi alvo de enorme polêmica quando o sistema automático classificou uma imagem de pessoas negras como sendo “gorilas”. Até já falamos desse caso aqui. A empresa teve que se retratar publicamente.

– Google Photos, vocês ferraram tudo. Minha amiga e eu não somos gorilas.

Surpresa boa, só que não!

Mas enquanto galera ficou atenta sobre as pastas de nomes gozados ou a facilidade de se buscar uma imagem antiga no aparelho, para quem analisa a questão de forma mais profunda, mais uma vez, é a invasão de privacidade que chama a atenção.

Mesmo se, como informado pela empresa, tudo não passa de um software de reconhecimento, não há como negar que pelo menos esse tal “sistema” tem acesso ao nosso conteúdo. E de forma inteligente.

Se há reconhecimento e organização das imagens, antes ele identificou que você fez fotos na piscina, fotos almoçando, fotos sem roupa, fotos em manifestações, em protestos, em ambientes políticos, etc… Entendeu onde isso pode chegar?

Com a criação dessas pastas, a Apple acaba por montar um “perfil visual da sua vida”, reconhecendo e registrando em seu “Big Data” todos os seus gostos pessoais, as pessoas com quem você anda, os eventos que frequenta, etc., em imagens.

E a gente bem sabe que na nossa galeria de imagens tem nossa vida inteira.

iDownload Blog, http://www.idownloadblog.com/2013/08/15/back-up-iphone-photos/

SEM LEGENDA

“Mas tudo bem, isso ficará entre a Apple e eu!”

…quem garante?

Esse tipo de criação de perfil tendo como base seus passos no mundo virtual não é mais novidade. O que compartilhamos no Facebook, as imagens que damos like no Instagram e todos os milhares de clicks que você dá diariamente nos sites e plataformas online, é armazenado pelos sistemas. Criando assim um gigantesco Big Data.

Embora as empresas garantam que essas informações pessoais não serão passadas adiante e que tudo não passa de “uma forma de melhorar os anúncios que são oferecidos para você“, não é bem isso o que acontece na prática.

Na realidade, esses dados são geralmente utilizados em benefício comercial da empresa (ou de terceiros) ou até de interesses escusos dos órgãos governamentais, que compram essas informações com objetivos nada inocentes. Veja alguns exemplos:

  • Um estudo publicado na revista Science constatou que através do armazenamento de dados, o Facebook consegue criar uma “bolha ideológica”, restringindo informações, anúncios ou qualquer outra atividade que ele considere não ser de seu perfil. Ou seja, novas opiniões, novos conhecimentos não chegam até você, que é “obrigado” a viver sem muitos questionamentos, na realidade, sem precisar pensar muito. Veja mais sobre isso nesse artigo.
  • Além disso, a plataforma possui um dossiê completo sobre você, com todas as informações pessoas que já deixou “escapulir” na rede e que talvez nem se lembre. Para conferir essa história por completo, clique aqui.
  • Falamos nesta matéria que especialistas do Vale do Silício estão abandando as redes sociais com medo do “sequestro mental”, tática adotada pelas empresas que usam nossos dados armazenados para nos induzir a determinados comportamentos, como consumir algo ou até mesmo votar em determinado grupo político.
  • Nem o famoso app de paquera Tinder escapa dessa história. Através da justiça europeia, uma jornalista solicitou ter acesso aos seus dados pessoais registrados pelo aplicativo e recebeu mais de 800 páginas, recheadas de informações íntimas sobre sua vida no app e fora dele, já que até imagens de outras redes sociais estavam anexadas no documento. Veja mais informações deste caso aqui.
  • O Pokémon Go, como utiliza a geolocalização e a câmera do celular, é capaz armazenar seus dados de geolocalização, sabendo por onde você anda e até com quem, ele também registra imagens suas, da sua casa ou até de lugares que você frequenta. A empresa afirmou que não sabe quem tem acesso as informações – sério.
  • Já no Sarahah a única coisa anônima mesmo é sua pergunta, já que o app armazena diversos dados pessoais do usuário como sua agenda de contatos e até os e-mails de seus amigos.
  • Até gravações de voz são armazenas com o intuito de coletar informações importantes sobre nossa vida para vender à terceiros. Já falamos neste texto que a Google possui uma pasta com todas as gravações dos seus áudios de busca (no recurso “Ok Google”) armazenados.
  • Outros dispositivos ligados a internet, como as Smart TV’s também armazenam nossos áudios, dando a possibilidade à empresas de receberem informações íntimas já que o conteúdo é gravado de forma discreta, dentro de um ambiente confiável: nossa casa. Mais sobre esse assunto, clique aqui.
  • Na China essa vigilância é ainda mais assustadora. Foram instaladas câmeras na rua que possuem essa tecnologia de reconhecimento inteligente. Após saberem quem é você e por onde anda, as empresas podem apresentar anúncios específicos voltados ao seu perfil. Sem contar a vigilância para o “bem” da segurança pública.
Infortunística Nova, https://www.infortunisticanova.it/malasanita-tra-il-diritto-alla-privacy-dei-pazienti-e-la-tutela-collettiva-e-la-seconda-che-prevale/

SEM LEGENDA

E estes são apenas alguns rápidos exemplos de como podem influenciar nossa vida através desse armazenamento de dados, e por mais que as empresas insistam em dizer que essas informações são apenas para uso interno, existem diversas provas de que elas podem ser usadas por terceiros.

Edward Snowden, ex-analista de sistemas da Agência de Segurança Nacional dos EUAficou famoso no mundo todo após revelar que o Governo dos Estados Unidos utilizava essas informações privilegiadas para investigar a vida de qualquer pessoa do mundo, inclusive da então presidente Dilma Rousseff.

Pelo visto a icônica e assustadora obra de George Orwell, 1984, já não é mais uma ficção. Isso é muito Black Mirror, mesmo.

Huffington Post AU, Huffington Post, Tecmundo

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