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Desabafo do filho da ditadura

17 de junho de 2013
Postado por Dario

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A flores desabrocharam entre o asfalto e a poluição.

Em todo o mundo explodem manifestações espontâneas que buscam novos sentidos, novas identidades. Os motivos e a participação se explicam pela pluralidade e diversidade, selo deste encontro planetário de idéias libertaria.

Recordo-me dos anos 60, sem filhos, solteiro, quando ainda na esteira do pensamento de tantos brasileiros, vimos de modo critico uma enorme concentração em nome da Tradição Família e Propriedade na tentativa de obstruir o pensamento de Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Antônio Cândido.

E com a prisão destes vieram as trevas. Tortura, mordaças, ufanismo, milagres econômicos. Demoramos todos nos para restabelecer o estado de direito.

Quem não viveu as Diretas Já em 1984 pode imaginar pelas manifestações atuais um pouco da eletricidade cívica que uniu brasileiros contra a ruína de um estado decadente e promiscuo. Veio a esperança e com ela a crença num novo espaço nacional de liberdade e justiça social.

Mas nem tudo são flores nesta primavera.

Muitos dos que a defenderam antes, rasgaram suas próprias idéias ao abraçar a causa conservadora. Veio então o tempo dos trabalhadores. Festa em todo o mundo, conquistas previstas para toda a sociedade.

A política, entretanto, ainda tem traços de um tempo que morre. Aos poucos as idéias foram se modificando, o pragmatismo operando em nome das grandes idéias e o resultado, parcial e sem conclusão, levou novamente a descrença.

E surge o novo.

Eu já não esperava mais nada da juventude e assumia culpa da minha geração nisto pela falta de coerência e coragem. Mas eis que o novo vem. Forte, uníssono, mundial. Da mesma fonte onde brotam os sonhos com a energia arrebatadora deste segmento que sempre esteve a frente de todas as lutas, de todas as revoluções, os jovens.

Desta vez sem bandeiras prontas, sem partidarismos, com sede de justiça social, sem um causa e por todas as causas, pela liberdade de expressão e manifestação, pela diversidade, contra os preconceitos e atrasos. Uma batalha por uma nova era de comportamentos e com atitude.

Em homenagem a todos os heróis libertários de nosso tempo, de Rosa de Luxemburgo a John Lennon, não se deixem, meus amados, serem contaminados pelas belas idéias preconcebidas. O movimento é mundial e irreversível e os acrobatas de plantão estarão sempre a espreita para tirar proveito.

Podemos e devemos construir um tempo novo impulsionados por uma força natural que nos conduz: o humanismo sem símbolos, apenas os que representam a felicidade e harmonia entre os povos.

 

Texto escrito pelo Professor Doutor André Barbosa Filho.
Doutor em Ciência e Estética de Comunicação pela ECA-USP
 

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