Coronavírus e a contaminação no ar por gotículas de fezes
Ver essa foto no Instagram
Nos desafios da pandemia todo cuidado é pouco. As formas de transmissão do novo coronavírus são diversas, porém, uma possível forma de contágio ainda é pouco divulgada: a contaminação no ar por gotículas de fezes (nuvem de cocô).
Coronavírus e as formas de contágio
A pandemia de Covid-19 trouxe a necessidade de diversos estudos sobre a forma de transmissão do novo coronavírus. Assim, causou a abertura de variadas linhas de pesquisas científica no mundo inteiro.
Através dos estudos, já sabemos que a transmissão do coronavírus se dá pelo contato pessoal próximo, toque ou aperto de mão com uma pessoa infectada. Mas, o contágio também pode ocorrer por secreções contaminadas, como gotículas de salivas ou espirros e tosse, causando a contaminação das mãos e superfícies.
Em maio de 2020, pesquisadores de Guangdong, na China, realizaram um estudo que detectou a presença do novo coronavírus nas fezes de um paciente que morreu pela ação do microrganismo. A pesquisa foi publicada na revista científica Emerging Infectious Diseases.
Coronavírus e a contaminação por fezes
Pesquisadores chineses, então, verificaram a possibilidade de contaminação por contato com as fezes, no estudo: “Can a toilet promote virus transmission? From a fluid dynamics perspective” (Um banheiro pode promover a transmissão de vírus? Do ponto de vista da dinâmica de fluidos, em tradução livre)
A pesquisa mostra que a descarga de um vaso sanitário pode criar uma nuvem de partículas com coronavírus; essas partículas são lançadas no ar através de um redemoinho formado pela água dentro da privada.
O estudo sugere que o vírus pode ser transmitido nos banheiros. A princípio, essa hipótese de transmissão ainda é investigada. Com isso, um alerta de contaminação por fezes foi dado pelo Instituto Americano de Física, publicado na revista “Physics of Fluids“.
“o processo de dar a descarga pode lançar no ar o vírus a partir do vaso sanitário e causar contaminação cruzada entre pessoas”, afirma Ji-Xiang Wang, físico da Universidade de Yangzhou na China, coautor do artigo publicado na revista Physics of Fluids.
Transmissão fecal-oral
A transmissão fecal-oral se dá quando o vírus é eliminado nas fezes do paciente. Desse modo, essa descoberta de partículas do vírus indica a rota fecal-oral do novo coronavírus, sendo uma possível via de contaminação.
A contaminação acontece no uso do banheiro através das superfícies, água contaminada, mãos e até nas gotículas liberadas durante a descarga:
Por outro lado, os pesquisadores da UFMG e FioCruz divulgaram uma nota técnica esclarecendo sobre a possibilidade de transmissão fecal-oral da Covid-19.
Segundo a nota divulgada, “Não existem evidências científicas que o vírus encontrado nas fezes esteja viável e infectivo – ou seja, capaz de causar a doença, seja pela transmissão via fecal-oral ou por sua inalação através de aerossóis que contenham gotículas de fezes ou esgoto”, esclarece.
Além disso, a nota relata que, “não existem suficientes evidências científicas de que a via de transmissão fecal-oral para Covid-19 tenha alta relevância. Avaliações quantitativas elaboradas indicam que o risco desta rota de transmissão tenha baixa probabilidade”, acrescenta.
Contaminação no ar: transmissão do coronavírus pela descarga
No estudo foram usadas simulações computacionais para mostrar como o vaso sanitário pode criar uma nuvem de gotículas de aerossol – um tipo de camada de fezes no ar, indicando a chance de contaminação por contato fecal-oral ou fecal-respiratória.
Para a pesquisa, os autores criaram a simulação em computador do fluxo da água e ar em um vaso sanitário.
Portanto, a experiência dos autores mostrou que, o movimento forte no fluxo da descarga, causa a alta velocidade do fluxo de ar. Toda via, o fluxo de ar move as partículas de aerossóis – com camadas de gotículas que podem conter vírus e bactérias – de dentro do vaso para a região do ar acima do vaso sanitário.
As simulações foram feitas em dois tipos de banheiro: um com uma única saída de água e outro com saída dupla.
As simulações mostraram que a água da descarga é despejada no vaso sanitário de um lado e atinge o lado oposto, criando uma pressão que enviam gotículas a quase um metro no ar. Então, elas podem ser inaladas ou depositadas em superfícies. Essas gotas flutuam no ar por cerca de 70 segundos, relatam os pesquisadores.
Sendo assim, a descarga permite que o vírus (e outros microorganismos) se espalhe em ambientes fechados, colocando em risco a saúde humana.
“Pode-se prever que a velocidade (de gotículas que sobem) será ainda maior quando um banheiro for usado com frequência, como no caso de um banheiro da família, ou de um banheiro público que serve uma área densamente povoada.
A descarga liberará o vírus do vaso sanitário. Os usuários do banheiro precisam fechar a tampa primeiro e depois acionar o processo de descarga”, disse o coautor do estudo, Ji-Xiang Wang, da Universidade de Yangzhou, na China, em um comunicado de imprensa à revista.
Segundo os autores, cerca de 40% a 60% das partículas contaminadas podem se espalhar no ar do banheiro, com altura de 106,6 cm acima do solo.
Procedimentos a serem adotados ao usar o banheiro
É importante esclarecer os riscos a saúde ao usar banheiro público na era da Covid-19.
No SOS, já foi detalhado as consequências de acionar a descarga do vaso sanitário com a tampa aberta. Os resultados são assustadores.
Enfim, bloquear o caminho da possibilidade de transmissão fecal-oral é fundamental para eliminar qualquer possibilidade da disseminação do vírus – mesmo que mínima.
Em virtude dos resultados alarmantes, os autores do estudo Ji-Xiang Wang, Yun Li e Xi Chen, defendem procedimentos que devem ser tomados para prevenção. São eles:
-
Fechar a tampa do vaso antes de puxar a descarga;
-
Limpar o assento sanitário antes de usar (pode conter partículas de vírus flutuantes na superfície);
-
Lavar as mãos cuidadosamente após o uso do banheiro (podem conter partículas de vírus no botão da descarga e na maçaneta da porta);
E a gente acrescenta: Não faça cocô no trabalho durante a pandemia e evite ao máximo entrar em banheiros públicos nessa fase.
O resultado dos estudos indicam a necessidade de precauções para evitar a possível transmissão a partir das fezes.
Physics of Fluids, Metrópoles, Metrópoles, BBC, Science Direct, Revista Galileu, CDC, O Globo, Portal FioCruz