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Como viver bem diante de tantas notícias absurdas todos os dias?

17 de agosto de 2020
Postado por Junio Silva

Sem considerar a crescente onda conservadora que insiste em levar o Brasil de volta para a Idade Média, ainda convivemos com um vírus que ceifou centena de milhares de vidas no país, isolamento, medo e uma total incerteza sobre o futuro. Como viver bem diante de tantas notícias absurdas? Falamos a seguir.

 

Choque, surpresa e pessimismo: os terríveis ingredientes para ganhar sua atenção

Se por um lado estar informado é essencial, por outro, as notícias desagradáveis podem influenciar negativamente a nossa saúde mental e física.

Um bom exemplo é o que aconteceu com o novo coronavírus, que contribuiu de forma progressiva para que noticias terríveis surgissem a cada dia. Desde o início da pandemia de Covid-19 no Brasil, o acesso à sites de informação cresceu 43%, de acordo com análise realizada pela Comscore.

Com a internet, ficamos ainda mais informados. Mas isso não quer dizer que exista qualidade, ou mesmo veracidade, no que está sendo divulgado.

Se antes era preciso confiar no time de jornalistas profissionais de um jornal, revista, televisão ou rádio para saber o que acontecia no país e no mundo, hoje, com apenas alguns cliques recebemos as mais variadas informações, inclusive – e principalmente – falsas.

Em pesquisa realizada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, os números mostraram que de 2.400 pessoas que participaram, 79% consumiam informações por Whatsapp.

Afim de viralizar, os conteúdos que rodam no aplicativo de conversa, normalmente, trazem alguma informação absurda que provoca irritação, aversão e surpresa; seja ela verdadeira ou não. Não por acaso, segundo pesquisadores consultados pela Folha, esse é o segredo da fake news de sucesso.

Ou seja, existe uma fórmula pronta para fisgar sua atenção e ela depende exclusivamente do seu mal estar.

Televisão (50%), Youtube (49%), Facebook (44%), sites de notícia (38%), Instagram (30%), rádio (22%), jornal impresso (8%) e Twitter (7%), foram os outros meio que entrevistados citaram como fontes de informação, demonstrando como a internet influenciou a forma como consumimos notícia atualmente.

 

O consumo de notícias ruins pode fazer mal?

Parece ser quase impossível não se deparar com acontecimentos absurdos, seja em mídias tradicionais ou através de redes sociais, atualmente. Mesmo sem querer, muitas vezes esbarramos com acontecimentos terríveis.

Situações horríveis acontecem, estão lá e são noticiadas.

Até porque é isso que traz audiência ($).

Mas o excesso desse tipo de conteúdo pode se tornar prejudicial, gerando ansiedade, estresse, fobia e medo em relação ao que vêm acontecendo e o que pode acontecer com o mundo.

Isso depende muito do estado emocional e da fase em que a pessoa que consome essas notícias está vivendo, como nos explica o psicólogo Clemilson Adriano:

“Se [ela] está em uma fase de fragilidade, a pessoa vai consumindo essas notícias sem ter noção do quão prejudicial pode estar sendo, podendo intensificar a ansiedade, depressão ou outros estados patológicos”.

Se uma pessoa sofre de ansiedade e começa a ler, em excesso, notícias sobre a pandemia de coronavírus no país, por exemplo, as crises de ansiedade e pânico podem aparecer, por diversos motivos. É o que explica a psicóloga Fernanda Silvério:

  • “Primeiro: não sabemos se aquela noticia é de fato real.
  • Segundo: gera insegurança, medo, fobia e preocupação, pois cada jornal fala uma coisa e isso nos deixa mais apreensíveis.
  • Em terceiro e último lugar: nossa mente ansiosa tende a fantasiar as coisas e achar que aquilo de fato é real.

Então, uma pessoa ansiosa pode ler uma notícia e começar a acreditar que aquilo pode acontecer, que está acontecendo e assim por diante”.

 

Como viver bem e não se desesperar com tanta notícia ruim?

Como viver bem: fique esperto com a técnica das fake news!

Em um país onde as notícias falsas já ajudaram até a eleger um presidente da república, uma das primeiras atitudes ao ser exposto à notícias absurdas é checar se aquilo é verdadeiro ou não.

Também é importante respirar um pouco para se acalmar, afim de não agir pela emoção. Como vimos anteriormente, para conseguir sua atenção e viralizar por aí, as notícias falsas dependem da sua irritação.

Além de ser fundamental, principalmente em relação à notícias com teor negativo, procurar saber se a informação é verdadeira, com tranquilidade, também evitará que elas sejam compartilhadas com outras pessoas, evitando a desinformação e a propagação de conteúdo que pode nos afetar negativamente.

Segundo pesquisadores da Universidade de Oxford, o aplicativo de conversa Whatsapp, bem como as redes sociais Facebook e Youtube são os maiores difusores de desinformação no Brasil.

 

Como viver bem: entenda que algumas coisas estão fora do nosso controle

Notícias verdadeiras também podem ser horríveis. Por isso, entender que existem coisas que estão fora do nosso controle nos ajuda a manter o equilíbrio em meio a tantos absurdos.

A fuga, nesses casos, pode ser uma opção estratégica, afinal é do instinto humano fugir de situações perigosas. Para uma boa saúde mental, mesmo diante dessa situação, é importante cuidar de si e desconectar um pouco.

“Dormir bem, se alimentar adequadamente, praticar exercícios físicos, conversar com pessoas agradáveis e se desconectar um pouco”, sugere o psicólogo clínico Igor Barros.

Porém, é valioso ter em mente que coisas ruins vão continuar acontecendo e precisamos ser resilientes, ao invés de apenas nos alienar.

“Não podemos viver no pais das maravilhas a todo momento. Temos que aprender a lidar com nossas frustrações, com nossos medos, a insegurança dentre tantos outros sentimentos que temos.

É lidando com esses sentimentos que nos tornamos nos tornamos mais fortes e encara-los é fundamental”, explica Fernanda Silvério.

 

Como viver bem: evite se informar ao acordar ou dormir

De acordo com uma pesquisa publicada pela Science Advances, abordando como a exposição de notícias violentas podem levar a sentimentos ruins, pesquisadores concluíram que consumir notícias absurdas e sensacionalistas antes de dormir ou ao acordar pode desencadear insônia, crises de ansiedade e mudanças de humor.

Que tal escolher um horário específico para se informar e saber o que está acontecendo no mundo, ao invés de estar superconectado a todo momento?

 

Como viver bem: escolha apenas um horário do dia para se informar

Um estudo publicado no New England Journal of Medice, revelou índice alto de estresse em estadunidenses que leram mais jornais e assistiram o noticiário da TV durante o atentado de 11 de setembro, do que aqueles que consumiram menos esse tipo de conteúdo.

A psicoterapeuta, Lori Gottlieb, em entrevista à série documental “Explicando… o coronavírus”, diz que vê notícias apenas uma vez ao dia, pois sabe que, “nada que eu ler durante o dia mudará meu comportamento. Isso não me beneficiará”. E isso acaba facilitando a aceitação sobre a incerteza do que vivemos.

 

Como viver bem: procure ajuda profissional e busque se conhecer melhor

Em meio à um mundo cada vez mais acelerado, com cobranças a todo momento e um excesso de informações, às vezes não conseguimos segurar a onda, e a forma com lidamos aquilo que vemos nos noticiários pode se tornar difícil.

Nesses casos, se conhecer é um dos principais pontos para processar e digerir informações negativas, fazendo com que elas afetem tanto.

“Nosso organismo e cérebro responde imediatamente a estímulos negativos, como defesa, se retrai, pode até atacar ou se manifestar com comportamento que afetam o corpo, como concentração, memória e equilíbrio das emoções”, ressalta Igor Barros.

Segundo Clemilson Adriano, procurar ajuda profissional é muito importante para se conhecer melhor e conseguir lidar com equilíbrio toda essa enxurrada de informações:

“Fazer terapia é estruturante e permite a pessoa a ter um contato consigo mesmo, um contato mais próximo do seu real.

(…) a pessoa começará a digerir todo esse excesso de informação que chegam e entenderá que é preciso se permitir e dar o tempo necessário para que as coisas se ajeitem.”

Câmara dos Deputados, Advances Science, Câmara dos Deputados (2), Comscore, Consumidor Moderno, Universidade Federal do Espírito Santo, Canal Tech

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