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5 Segredos do ‘Flow’: como ter alta performance no dia a dia

07 de setembro de 2020
Postado por Andresa Araujo

Para alcançar habilidades super-humanas, com mais motivação, produtividade, criatividade, foco, habilidade emocional e de comunicação, é importante sair da zona de conforto. Veja a seguir como ter alta performance, seguindo o flow.

 

O mito de que usamos 10% do cérebro

Você lembra daquele papo de que só conseguimos utilizar 10% do nosso cérebro? Então, não é bem assim. Em determinadas atividades algumas áreas ficam desligadas e outras, mais ativas. Diversos neurologistas levantaram alguns pontos para comprovar isso:

  • se deixamos de usar 90% do cérebro, por que quando ocorrem danos nessas áreas não contempladas, o funcionamento delas é prejudicado?
  • se 90% do cérebro não funciona e só consome nossos nutrientes, os animais com cérebros menores seriam muitos mais evoluídos;
  • quando nossas células não são utilizadas, elas se degeneram. Se quase a totalidade do nosso cérebro fosse inativa, as autópsias cerebrais revelariam vasta degeneração.

A sacada é que essa região que se ativa, enquanto as outras diminuem sua atividade, pode entrar no estado conhecido como flow (ou fluxo, fluidez).

No modo flow, sentimos e pensamos na eficiência máxima, com atenção e dissipando tudo aquilo não possui prioridade no momento. 

O estudo do flow começou nos anos 70, a partir da popularidade dos esportes radicais. Como aqueles atletas eram capazes de arriscar a vida daquela forma todos os dias? Eles apenas deixavam o instinto vir, focavam no presente e se trancavam nessa zona.

 

O flow é só para os atletas?

Você pode experimentar o fluxo no trabalho, na vida, em geral. Steven Kotler é o maior responsável pelos experimentos nessa área e ele conseguiu trazer as práticas de chegar ao flow em vários ramos, seja na arquitetura, no design, na engenharia… 

Assim, ele comprovou que, ao chegar nesse estado mental, a motivação e a produtividade podem aumentar em até 500%. Daí a explicação de chamarmos as pessoas que alcançam o flow de “super-humanos”. As habilidades de cooperação, empatia e até consciência ecológica também melhoram com o fluxo.

 

Como atingir a alta performance com flow?

A boa notícia é que o flow é treinável. Alcançá-lo pode fazer você liberar dopamina, neurotransmissor conhecido como “molécula da motivação” que também aumenta a concentração. Estes são os 5 atalhos para obter alta performance com o flow:

  1. Risco
  2. Novidade
  3. Complexidade
  4. Imprevisibilidade
  5. Reconhecimento de Padrões

Então, ao pensar no exemplo dos atletas de esportes radicais, facilmente concluímos que eles pegaram o primeiro atalho, o de ‘Risco’. Vale dizer que não há necessidade de correr risco de morte, basta sair da sua zona de conforto.

E aqui entram dois atalhos: ‘Complexidade’ e ‘Imprevisibilidade’. A obra “Beyond Boredom and Anxiety” explica que o flow também ocorre quando nos dedicamos a atividades desafiadoras, ao mesmo tempo que treinamos habilidades com elas. Em suma, é necessário equilíbrio:

  • se há desafios e não há habilidades suficientes, você fica ansioso;
  • e se há habilidades e não há desafios, você sofre com tédio.

A comprovação disso ocorreu na pesquisa de Kiyoshi Asakawa, que envolveu 102 universitários japoneses entre 1998 e 2001. Por meio de questionários durante todo esse intervalo de tempo, eles identificaram que os jovens com maiores desafios e habilidades apresentaram melhor qualidade de vida. Também perceberam que o bem-estar psicológico foi maior nos momentos de flow.

O segundo atalho citado, o da ‘Novidade’, também te ajuda nessa missão de “sair da caixinha”, e é relativamente fácil de aplicar. Em vez de ler aquele livro na escrivaninha de sempre, já tentou fazer isso na cozinha? Fazer aquela tarefa em um lugar novo estimula a dopamina. 

O ‘Reconhecimento de Padrões’ é igualmente acessível. Se você trabalha fazendo composição musical, em vez de começar um processo do zero, por que não experimenta modificar as canções que você já criou? Mudar tons, arranjos, melodias… Ter contato com trabalhos já criados ativa esse reconhecimento e facilita a liberação de dopamina.

 

Flow e alta performance: existe comprovação científica?

Charles Limb, neurocientista da Universidade Johns Hopkins, procurava entender o comportamento do cérebro dos músicos de jazz no meio de uma improvisação.

Então, em 2008, ele recrutou voluntários e, por meio de exames de ressonância magnética funcional, encontrou que a região responsável pelo automonitoramento era desativada nessa atividade.

Automonitoramento é aquele bloqueio mental que gera insegurança, que nos impede de termos mais criatividade e fluidez em uma atividade. Se ele é interrompido, você consegue ter mais liberdade para criar.

Kazuki Yoshida, professor de Ciências de Saúde da Universidade de Hokkaido, Japão, e colaboradores publicaram um estudo em 2014 sobre o flow e o tédio. Eles convocaram 20 estudantes e orientaram que eles jogassem Tetris sob duas circunstâncias: em um modo de jogo tão fácil que dava tédio e no modo adequado ao nível de habilidade do participante e com a opção de acelerar o jogo.

Enquanto isso, um espectrofotômetro detectava a atividade do córtex pré-frontal desses jovens. A conclusão foi que o flow ativa a região do cérebro cuja funcionalidade é processar a atenção, a emoção e a recompensa.

Ruth Rettie, professora de Marketing na Universidade de Kingston, Reino Unido, também investigou o flow na prática. Por meio de questionários e de 20 voluntários, ela descobriu que é possível ter flow na internet ao se comunicar por e-mail ou em salas de bate-papo, ao buscar entretenimento e, principalmente, ao pesquisar alguma informação. Em contrapartida, ao baixar algum arquivo e assistir anúncios o flow acabava.

Nos anos 90, uma pesquisa parecida com essa foi utilizada na investigação de Ruth. Nela, concluiu-se também que “pesquisa e resgate de informações” produziam flow.

 

Alta performance no dia a dia: um passo a passo

Para alcançarmos a performance super-humana, com mais motivação, produtividade, criatividade, foco, habilidade emocional e de comunicação, é importante sair da zona de conforto.

Enfrentar riscos, buscar por novidades, desbravar complexidades, aceitar e contornar imprevisibilidades e compreender os padrões, podem ser a chave que precisamos para uma vida mais plena e fluida.

Não à toa que nossos heróis não usam capas, não é mesmo? Porém, não devemos romantizar a pobreza e a desgraça humana como algo dignificante. Esse processo altamente desafiador deve ser uma ESCOLHA pessoal, jamais uma IMPOSIÇÃO social.

Youtube - Matt D'Avella "The Secret to Superhuman Performance"

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