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Como evitar golpes e fraudes no Mercado Livre ou OLX

13 de janeiro de 2020
Postado por Junio Silva

Depois de publicado o anúncio, rapidamente as mensagens começaram a pipocar na sua caixa de entrada. Parecia ser mais uma venda pela internet. Mas a esperança de um dinheiro extra entrar no bolso, e ajudar em algumas contas, acabou gerando frustração e dores de cabeça.

Um golpe que vem se tornando comum no mundo das vendas virtuais muitas vezes acontece por “não tomarmos os devidos cuidados ou pela inexperiência”, como conta a advogada especialista em direito do consumidor, Ana Victoria Moraes.

 

Falta de atenção é o segredo dos golpistas

Os problemas da designer Talita, começaram pouco depois de anunciar a venda de seu antigo computador no Mercado Livre. Falta atenção, pressa de vender ou os dois. Apesar de ter experiência nesse tipo de negociação, tendo vendido até mesmo seu carro por meio de outro site, a jovem acabou não observando os detalhes. E é nesse ponto onde os criminosos se aproveitam para fazer suas vítimas.

Não precisaram dias. Pouco tempo depois de anunciado, os contatos começaram a surgir pelo próprio sistema de comunicação do site de vendas. Foram mais de cinco, todas pedindo a mesma coisa.

“Entre as mensagens, uma mulher disse que queria mais informações sobre o computador porque estava com receio de ser enganada pela plataforma. Achei plausível o argumento e resolvi enviar um email com mais informações, mas deixei claro que não faria a negociação por fora do Mercado Livre”, conta Talita.

Mesmo deixando claro que não fecharia qualquer tipo de trato por fora da plataforma, sinalizando uma preocupação com segurança, os criminosos já tinham o que precisavam. Por internet as coisas se tornam mais fáceis para todos. Inclusive para pessoas com más intenções, como explica Ana Victoria:

“O meio virtual é mais suscetível a fraudes do que o físico. É um mundo de aparências e, por inexperiência, podemos ser induzidos a realizar ações que facilitem a prática de crimes.”

O golpe, que é enquadrado no artigo 157 do Código Penal Brasileiro como estelionato, gira em torno de uma falha, desatenção, e até inocência do vendedor, que fornece dados pessoais sem perceber.

Leonardo Sant’anna, especialista em segurança digital, explica que é importante:

“evitar, a todo custo, mandar seus dados a quem quer que esteja lhe vendendo ou comprando um produto. Por incrível que pareça ainda temos pessoas que cometem esse erro”.

Ao realizar o contato via email, enviando mais especificações do computador e, posteriormente, por aplicativo de mensagens de celular – conseguido pelo grupo através de sua assinatura digital do email – Talita deu aos criminosos o que eles precisavam: seus dados para aplicar o truque, que engana o olhar mais desatento.

Logotipos, forma do e-mail, e até a sequência de mensagens que o site de vendas costuma enviar durante uma transação. Tudo forjado. Essas foram as mensagens que começaram a brotar na caixa de entrada de designer.

“No começo achei estranho por que normalmente email de plataforma vem como ‘noreply’ e esse não”, conta Talita, “mas estava precisando muito fazer essa venda que ignorei todos os sinais de alerta”.

Primeiramente dois emails, e em seguida um terceiro, afirmando que a compra havia sido efetuada e o frete pago. Porém, o anúncio no Mercado Livre continuava como estava, sem nenhuma sinalização de compra. Após isso, Talita conta:

“como no meu email havia assinatura com meu número de telefone, eles fizeram contato comigo pelo whatsapp, me pressionado para enviar o produto”.

Ignorando todos os sinais, e caindo na pressão dos criminosos, a jovem acabou enviando o computador para o endereço que recebeu nos emails falsos, pagando um frete caro.

“Lá nos Correios, eles identificaram o endereço como lugar perigoso, e avisaram que talvez a pessoa tivesse que ir buscar na sede da ECT”, conta.

Quatro dias se passaram, e a ficha caiu. Todos os emails foram recebidos e enviados pelo celular. Geralmente, em smarthphones, a visualização dos dados de um email é mais limitado, e não tão explicita quanto ao acessar através de um computador.

“Eu abri meu email fora do aplicativo do celular, e estava lá o @gmail”.

Sites de lojas e os especializados em venda e compra entre usuários, não possuem contas de email em gerenciadores comuns, como os que costumamos usar. O “no-reply”, na maioria dos casos, está lá lugar de ‘hotmail’, ‘gmail’, ‘yahoo’, entre outros.

“Entrei no Mercado Pago pra conferir se haviam efetuado o pagamento, mas não tinha nada. Fui no Whatsapp e eles já tinham me bloqueado. Não consegui mais contato”.

Outra história semelhante, e que ganhou destaque no Twitter, aconteceu na OLX com o especialista em tecnologia Vinicius Souza. Mas ao contrário da Talita, Vinicius caiu na cilada de forma proposital para mostrar o passo a passo desse tipo de golpe em uma thread. Vale acompanhar:

 

O que fazer depois do golpe?

“Reunir toda a documentação existente que comprove a ocorrência de uma fraude, tal como cópia dos e-mails em que houve a tratativa da compra e venda”.

Segundo Ana Victoria Moraes, advogada especialista em direito ao consumidor, depois de cair nesse tipo de golpe, esse é o primeiro passo a ser tomado quando for procurar a policia para registrar um boletim de ocorrência.

E Talita fez. Lá, com a ajuda das autoridades, foi localizado o IP (uma espécie de endereço eletrônico existente nos computadores) da máquina de onde haviam sido enviado os emails.

Assim foi possível descobrir que o local de onde haviam saído as mensagens, o computador, foi de Belo Horizonte. Já a encomenda foi enviada para uma região de São Paulo, sinalizando o que pode ser uma rede organizada que pratica esse tipo de crime, de forma pensada e estruturada.

Apesar de ter realizado a negociação por fora do site de vendas, a má operacionalidade do sistema, e a falta de ferramentas de segurança para vendedores, podiam fazer com que o Mercado Livre fosse responsabilizado por dano moral. É o que explica a advogada:

“Através das provas coletadas pelo consumidor, e da analise da singuralidade de cada caso, a ação pode gerar um ressarcimento para quem vendeu”.

Não foi o caso de Talita, que decidiu seguir a vida depois do golpe, e não entrar para o meio jurídico e burocrático da coisa, o que faria gastar ainda mais tempo e dinheiro. Mas a designer realizou uma reclamação em um site de ouvidoria, alertando a sensação de falta de segurança que o Mercado Livre deixou nela, na hora de vender, para outras pessoas. O site de vendas não se pronunciou.

Vinicius contou em sua thread que também formalizou a denúncia na Polícia Civil de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem como destaca a falta de canal para denuncias nos sites de compra e venda:

Tentamos contato tanto com a OLX quanto Mercado Livre, mas nenhuma das empresas retornou.

 

Como se prevenir de golpes em sites de compra e venda?

Abaixo alguns cuidados básico ao vender ou comprar algo na internet:

  • Ficar sempre atento é o primeiro passo;

  • Não mande seus dados pessoais a quem quer que seja (atenção na assinatura do e-mail: telefone, endereço, etc.);

  • Sempre realizar as negociações e transações dentro do aplicativo ou site;

  • Habilitar senhas;

  • Pesquisar por reclamações anteriores na internet;

  • Usar uma VPN;

  • Evitar entrar em sites não confiáveis;

  • Verificar o @ do e-mail do site onde está sendo realizado a negociação

Leonardo Sant’anna explica:

“usar uma VPN (Virtual Private Network – Rede Virtual Privada) é uma excelente alternativa. Ela funciona como um cadeado virtual que permite que apenas seu computador ou celular e o da outra ponta da rede tenham acesso aos dados que estão sendo enviados, quais quer que sejam eles.

A outra forma é entrar em sites chamados SEGUROS. Ao invés do endereço deles começar com http:// existe uma letra “S” depois do “P”, ficando https://. Assim já se sabe que o site obedece a protocolos internacionais de segurança”.

Como até das situações ruins dá para tirar algum aprendizado, Talita, agora mais atenta, consegue apontar onde errou, e o que devia fazer,  ajudando outras pessoas a não passar pelo mesmo:

“Verificar o @ do e-mail do site onde está sendo realizado a negociação, e não fazer como eu, que passei meus dados pessoais, sem perceber, através de um e-mail, que continha meu número de telefone, por exemplo”.

É errando que se aprende.

Vinicius Souza - Twitter, Talita Morais - Instagram, Reclame aqui

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