A economia deve entrar em colapso em breve, mas você ainda pode se preparar
Caro leitor, sinto ter que lhe dizer isso, mas… a economia deve entrar em colapso.
Pronto, falei.
Economistas de diferentes regiões do planeta vêm alertando que não devemos nos enganar, pois os mares não se acalmaram desde aquele furacão financeiro conhecido como a crise de 2008 — o maior colapso na economia mundial desde a Grande Depressão —, causado, a grosso modo, pela falta de regulamentação no sistema financeiro, mais especificamente no que condiz à bolha imobiliária.
Breve resumão
Pessoas com nenhuma condição de pagar suas dívidas, mas que queriam realizar o sonho da casa própria, começaram a pegar empréstimos de até 100% para essa realização.
Os bancos misturavam estas dívidas de alto risco com outras de baixo risco e vendiam a investidores de todo o mundo em pacotões que não transpareciam o risco de tal investimento. Essa falta de transparência era acentuada pelas agências reguladoras, que garantiam que aquele era um “produto de qualidade”.
Se ficou com dúvidas, o filme “A Grande Aposta” resume isso muito bem.
Quando essa bolha estourou, o desemprego disparou, inúmeras pessoas perderam suas casas e os investidores perderam tanta grana que alguns bancos internacionais tiveram que fechar. Assim, muitas nações entraram numa profunda recessão, cuja duração variou para cada uma.
O Brasil foi um dos países que conseguiu se manter de pé por mais tempo, no que Lula disse que viria a ser uma “marolinha”. Mas, uma hora a conta chega, e de alguma forma a crise nos afetou e, junto a outros fatores econômicos e políticos, nos levou à crise atual, a qual alguns consideram próxima de um fim completo.
Porém, como profetizado ali em cima, a tempestade não chegou ao fim realmente. É importante ter noção de que mais de um fator pode gerar uma crise econômica internacional, inclusive concomitantemente.
Meio ambiente e dívidas, muitas dívidas!
Em seu curso e livro homônimo “The Crash Course“ (O Ciclo do Colapso, em tradução livre), o economista especializado em energia e recursos, Chris Martenson explica que a nossa economia deverá entrar em colapso por escassez de recursos e falta de desenvolvimento sustentável.
Isso porque, seguindo a linha acadêmica do “decrescimento econômico”, há um limite de até onde o ser humano pode se desenvolver tecnológica e economicamente sem causar danos irreversíveis na natureza, os quais já vêm ocorrendo, como o próprio Chris aponta.
Alguns exemplos citados são:
- o distúrbio do colapso das colônias, ou seja a dizimação de colmeias de abelhas ao redor do mundo, inclusive no Brasil;
- aumento das secas por alterações climáticas, do tipo que leva o Deserto do Saara a se expandir;
- o aquecimento global tem levado à morte de peixes de água doce;
…e a lista de tristezas segue.
Apesar de parte de seu conteúdo focar no limite de recursos naturais e como isso afeta a economia, o conteúdo de Chris toca em outros fatores que levarão a possíveis crises econômicas, entre eles um colapso no sistema de dívidas internacionais.
O jornalista Henrik Böhme escreve ao DM, “Bancos centrais inundaram os mercados com dinheiro desde a crise, e assim o dinheiro emprestado é usado para construir casas maciçamente e financiar imóveis e especular com ações. Só em Wall Street, investidores estão com 670 bilhões de dólares em dívidas; eles estão especulando com dinheiro emprestado. Uma bomba-relógio!”
Isso vai de encontro aos avisos do economista Richard Vague, especialista em Sistema Financeiro e autor de “The Next Economic Disaster: Why It’s Coming and How to Avoid It” (O Próximo Desastre Econômico: Porquê Está Vindo e Como Evitá-lo, tradução livre).
Para ele, a próxima crise financeira deve ocorrer porque as dívidas dos países crescem irrestritamente, principalmente no caso dos emergentes, e mesmo no caso dos países desenvolvidos, cujo crescimento da dívida desacelerou um pouco, não há dinheiro suficiente para que todos possam se pagar, e não há previsão disso acontecer. Nunca.
E ele não está errado, hoje, a dívida total do mundo, incluindo famílias, empresas e governos, é de US$ 244 trilhões, ou 318% do PIB global, de acordo com o Instituto Internacional de Finanças.
Richard aponta uma preocupação especial em relação à China e os países que dependem dela economicamente, seja por ser um grande parceiro comercial ou por ser um devedor. Hoje o país sofre um lento, mas existente, freio no crescimento de sua economia, alinhado a um aumento nas dívidas das grandes famílias e empresas, o que pode levar os bancos do país a entrarem em colapso.
Segundo Vague, Brasil, quem tem bons acordo de exportação para a China pode vir a sofrer as consequências do fechamento de algumas portas, em detrimento dessa freada na economia.
“Quando esta bolha estourar (e, sem dúvida, isso acontecerá), aqueles que não se arriscaram podem se sentir abençoados. Para todos os outros, o lema é: apertem os cintos! Pois uma coisa é certa: países altamente endividados não terão mais como organizar pacotes de resgate bilionários. E banqueiros de juro zero, como Draghi, não conseguirão baixar mais as taxas de juros para impulsionar a economia.”, alerta Henrik Böhme ao DM.
Enfim, podemos citar mais uma penca de motivos para um apocalipse econômico, entre eles: instabilidade políticas afetando os investimentos em países com ascensão da direita conservadora, crises monetárias afetando cada vez mais países, como a Argentina e a Turquia, e por aí seguimos. Mas, ao invés de gerar mais dores de cabeça e distúrbios, vamos ajudar você a se preparar para o que está por vir.
Sobrevivendo no Inferno
Tá certo, o primeiro passo para se preparar para uma crise econômica é saber que elas não surgem do nada.
Por isso, fique atento aos sinais que já apontamos, assim como se mantenha informado sobre economia internacional, nacional e monetária, recursos naturais e índices como de desemprego, fome e preço da gasolina. Se ligue também nas armadilhas dos dados econômicos que muitas vezes se mostram positivos, mas na verdade não se refletem no dia-a-dia da população.
Uma vez bem informado, vamos ao trabalho.
O que fazer antes do colapso
Agrupamos dicas de alguns sites, como o Peak Prosperity, criado por Chris Martenson, que mune o leitor com passo-a-passo detalhado de sobrevivência a crises econômicas, assim como as naturais. Entre os mais importantes estão:
1. Estoque comida
A lista de fatores que podem quebrar a cadeia de distribuição de comida é bem grande, indo desde secas e epidemias, a greves e até bioterrorismo. O pessoal do Peak Prosperity indica estocar o suficiente para pelo menos três meses de alimentação — sempre lembrando que se deve pensar em guardar de forma que não estrague.
2. Cuide da sua saúde (física e mental)
Praticar exercícios físicos, se alimentar de forma saudável, evitar hábitos viciosos como beber em excesso e fumar, aprender a meditar, tudo isso pode parecer como uma grande bobeira numa crise econômica, mas na verdade é tido como essencial para que sua aptidão física e mental permita mais energia na busca por soluções.
3. Organize suas finanças
Em primeiro lugar, descubra quanto dinheiro você realmente tem, calculando suas fontes de renda e todas as dívidas a serem paga. Em seguida, economize e guarde uma quantia segura para emergências.
Apesar de não ser indicado por alguns especialistas, o pessoal do Peak é mais corajoso e indica que se for possível, devemos investir. Para isso, procure um consultor financeiro e peça ajuda para investir em empreendimentos locais e negócios sustentáveis, como pequenos agricultores e etc.
4. Plante
Essa pode surpreender alguns, mas plantar a própria comida pode poupá-lo de muitos estresses — independente da estabilidade da economia. E, numa época de inflação flutuante, ou quem sabe num ataque a plantações, ter sua própria comida é uma vantagem contra a fome.
Mas, se você não tiver espaço ou terreno fértil para tal, procure por hortas urbanas, uma solução viável para uma alimentação consciente e segura.
5. Estude
Manter-se em dia com educação formal, ampliando seus títulos acadêmicos, assim como informal, cursando workshops, lendo sobre assuntos diversos que fogem da sua área, é essencial para garantir não só emprego como domínio de situações adversas. Conhecimento é poder. O economista Marcelo Jorge de Paula Paixão, professor na UFRJ e na Universidade de Texas em Austin, também traz luz a essa necessidade:
“Jamais parem de estudar antes do ensino superior estar concluído. Não deixem de dominar ao menos um ou dois idiomas, de preferência inglês e espanhol — ou francês. E se tiverem um pingo de talento, vontade ou paciência, estudem conteúdos ligados à matemática e informática.”
6. Sério, organize suas finanças!
Marcelo Paixão reforça que se deve evitar gastos supérfluos ou muito arriscados em épocas que se precede crise. Ele lembra que esse conselho vale para todos, mas que se deve dar um foco especial às populações classicamente marginalizada na sociedade brasileira.
“Crise econômica é momento em que o emprego e a renda disponível das famílias encolhe. O problema fica ainda mais complicado para grupos historicamente discriminados como negros e mulheres (e mulher negras, em particular).”
7. O corte de bônus
Em épocas de crise, o bônus é um dos primeiros rendimentos a irem embora numa empresa. Em outras palavras, não se deve viver dependendo dessa belezura. A renda mensal deve ser calculada com o salário fixo, e o bônus levado em consideração numa poupança ou na quitação de dívidas.
8. Se livre das dívidas (e limites de crédito)
Não sei se já frisamos isso o suficiente, mas ficar endividado é um perigo a todo momento, não só para a China, mas para você, leitor, pessoinha que não terminou de pagar a casa própria. Em primeiro lugar, numa época de crise, o mais inteligente é buscar uma ajuda financeira com parentes e amigos, pois, os juros desses períodos podem te corroer vivo.
Além disso, muitas famílias têm mais de um carro, o que pode ser vendido e usado nessa quitação. Pois, sejamos sinceros, a maioria pode viver com um veículo só.
9. Cortar as assinaturas
TV a cabo, internet muito cara, pós-pago no telefone etc. são pesos desnecessários. Cancele assim que seu contrato te permitir fazer isso sem gerar uma multa. Afinal, numa crise econômica, não existe emprego estável, e nada pior do que ter um número incontável de contas mensais para lidar.
Com essas dicas você deve conseguir passar por seja lá o que estiver por vir — ou, se você for um leitor do futuro, o que está acontecendo agora.